O medo de morrer na praia - Editorial

Por Marisa Arruda Barbosa

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Enquanto imigrantes esperam ansiosamente pela reforma imigratória, o medo de “morrer na praia” é inevitável. Esta semana, trabalhadores imigrantes foram a Washington D.C., para expor seu medo da deportação. Cada um deles trabalha duro desde que chegou aos Estados Unidos, anos atrás, e o seu maior medo é que, agora que a reforma está sendo discutida no Congresso, eles acabem deportados.

Em um depoimento, uma imigrante que pedia que o presidente Barack Obama parasse com as deportações enquanto a reforma está sendo discutida, disse que não há vergonha alguma em varrer o chão ou costurar, mas mesmo assim ela, assim como milhões de imigrantes, são vistos como criminosos.

Ao mesmo tempo, o medo de “morrer na praia” também acontece em um âmbito maior, da opinião pública, quando casos envolvendo imigrantes colocam a questão da binacionalidade em choque com o cumprimento das leis americanas.

Há mais ou menos uma semana, três homens descritos como de origem “hispânica” teriam fugido de um restaurante chinês, em Sarasota, sem pagar uma conta de $30 dólares. O gerente correu atrás deles para que pagassem, foi espancado e acabou morrendo no hospital, dias depois. A comunidade brasileira e imigrante da cidade sentiu muito pela morte do gerente e também pelo fato de a descrição dos criminosos no caso ser de imigrantes, em uma cidade com menos imigrantes em comparação com o sul da Flórida. Em casos como esses, o imigrante que vem aos Estados Unidos realmente atrás do “sonho americano” tem medo de ver anos de esforços para melhorar a sua imagem e de sua comunidade serem jogados no lixo.

No sul da Flórida, um caso envolvendo a fuga de uma brasileira antes do julgamento da morte de duas pessoas em um caso de DUI toca novamente na questão da política brasileira, de não extraditar seus cidadãos. Independentemente das razões da fuga da brasileira, quem acaba pagando pelo seu ato são outros imigrantes que já perdem um ponto de credibilidade.

Já está claro que a reforma imigratória exclui imigrantes que tenham cometido crimes no país. Mas é importante também que cada um deixe clara a opinião de que a reforma almejada por milhões é destinada a trabalhadores como os citados no início do texto, tanto aqueles que vieram para varrer o chão, costurar ou para estudar e fazer carreira nos EUA.

De acordo com o projeto de reforma aprovado pelo Senado em junho, há espaço e oportunidades para todos os tipos de imigrantes. Já em relação aos que cometeram crimes e, além disso fugiram da Justiça, aqueles que utilizam o passaporte brasileiro ou de outro país para fugir das suas responsabilidades, temos que ter tanto interesse quanto as vítimas para que sejam punidos, para manter a imagem dos imigrantes como aqueles que são responsáveis por seus próprios atos, sem utilizar a binacionalidade para fugir da Justiça americana.