Animais e o medo de trovões

Por Dra. Paula Ferreira

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O medo e fobia de trovões (assim como o medo de fogos de artifício) é uma condição muito comum em cães. Primeiramente, deve-se entender que esse medo exagerado e irracional (fobia) é considerado uma condição médica, e o primeiro passo para ajudar um animal que sofre disto é diagnosticá-lo corretamente.

A fobia de trovões pode se manifestar com diferentes formas de comportamento. Alguns dos sintomas mais comuns, indicando que o animal tem fobia de trovões, são: tentar desesperadamente escapar (muitas vezes resultando em atropelamentos ou outras formas de trauma físico), defecar e urinar na casa, vocalização, destruição de coisas materiais, tremores, esconder-se, caminhar obssessivamente e salivação excessiva.  Reações normais às trovoadas são quando os cães exibem comportamento alerta, com ansiedade moderada. Essas reações são normais e não exigem nenhum tipo de tratamento especial.

Quando um animal sofre de fobia, o medo é caracterizado por uma reação exagerada e irracional ao estímulo. Ao longo de sua vida, à medida que o animal encara as tempestades, o medo vai piorando, chegando a um ponto em que o cão sente medo até mesmo quando uma pequena chuva se aproxima, quando o cão percebe o vento de chuva, ou a mudança na pressão atmosférica anunciando a chuva.

É importante avaliar se o animal que tem fobia a trovões está sujeito a sofrimento extremo e, se for o caso, é necessário fazer um tratamento médico. A maior parte dos cães que recebe tratamento melhora, mas os animais, mesmo tratados, podem ter recaídas ocasionais.  A fobia de trovões e tempestades não é necessariamente a mesma coisa que fobia de barulhos, mas muitos cães que têm fobias de tempestades tem também fobias de barulhos (como fogos de artifício).

Existem animais que, além da fobia de trovões, sofrem de outra doença comportamental chamada “ansiedade de separação” (o animal reage violentamente à ausência do dono e não pode ser deixado sozinho em casa),  que muitas vezes está presente em conjunto com a fobia de trovões, tornando a situação ainda pior. Portanto, o veterinário responsável deve fazer uma avaliação e levar em consideração outras anormalidades que precisam de tratamento concomitante.

Nem todos os cães sofrem de fobia, pois a fobia às trovoadas pode ter diversos fatores. Especialistas afirmam que existe até mesmo um fundo genético, ou seja, dentro de uma família que tem cães com fobia, as chances de que os filhotes sofram da mesma fobia aumentam. Também é importante avaliar a história do cão: animais que são deixados fora de casa e sem abrigo durante tempestades, mesmo que não tenham familiares com a fobia, podem desenvolver o distúrbio. E com muita razão. Em nenhum caso se deve deixar um animal desabrigado fora de casa durante uma tempestade.

Outra teoria é que os animais que foram submetidos a treinamento com equipamentos que emitem choques elétricos podem desenvolver fobia à tempestades, pois os cachorros sentem a eletricidade emitida durante uma tempestade, e tem medo do choque. Como lidar com um animal fóbico? O ideal realmente seria evitar as situações que desencadeiam o medo, mas infelizmente isso é impossível. Contudo, é possível minimizar o desconforto do bichinho. Preste sempre atenção à previsão do tempo, e se tiver há alguma tempestade anunciada, certifique-se de que o seu cão está abrigado dentro de casa. Nas datas em que se sabe que haverão fogos de artifício, tome as mesmas providências que seriam tomadas em caso de trovoadas. Se possível, organize uma área designada para o caso de tempestade, uma área onde os ruídos são mais amenos. Existem alguns produtos comerciais que podem ajudar a isolar os barulhos, como protetores de ouvidos especialmente desenhados para cães e coberturas especiais para as jaulas que prometem diminuir a intensidade do barulho dos trovões.

Se o animal tem medo da luminosidade dos raios, coloque-o em um quarto escuro com as cortinas fechadas.  Para os que reagem negativamente à eletricidade trazida pelas tempestades, existem roupas para cachorros que prometem isolar a eletricidade, fazendo com que o animal se sinta confortável durante o processo. É também necessário fazer um trabalho para sessensibilizar o animal. Por exemplo, para animais que apresentam sintomas desencadeados pelo barulho dos trovões, um CD com gravação de trovoadas pode ser colocado para o cachorro escutar em volume baixo inicialmente e, pouco a pouco, aumenta-se o volume. Durante o processo, ofereça comidas (como biscoitos caninos ou as guloseimas preferidas do seu cão) ou objetos (briquedos, cobertores, etc) que tragam conforto ao animal. Mas, para aqueles animais que têm medo não somente do barulho, mas também de outros fatores trazidos pelas tempestades como, por exemplo, o vento, a mudança de pressão atmosférica, relâmpagos e a própria chuva, a dessensibilização com CDs não funcionará bem. Nunca castigue o seu animal quando ele reage à tempestade, pois isso só fará com que ele tenha mais um motivo para ter medo, ou seja, tanto o sofrimento do animal quanto à severidade dos sintomas irão piorar. Tente sempre associar os estímulos trazidos pela tempestade com coisa positivas e reconfortantes. Para os donos, muita paciência com o seu animal. As fobias são difíceis de tratar, até mesmo em seres humanos. É impossível dessensibilizar completamente um animal que sofre de fobia a tempestades, assim como é impossível predizer com 100% de precisão quando a tempestade está para chegar. A expectativa dos donos deve ser de melhora (e não de cura completa) para que a qualidade de vida do cachorro não seja tão afetada pela fobia.