Por atilano Muradas
Três quartos da extensão da Terra, como se sabe, são compostos de água. Apesar dessa goleada da água sobre a terra, o homem focou seus estudos no solo firme, deixando o mundo submarino como alternativa para quando as reservas da terra se esgotarem. Isso não quer dizer que não exista exploração submarina. Parte do petróleo, da alimentação e da água existente no mundo é retirada do mar. Contudo, os oceanos e mares não são utilizados apenas como fonte de subsistência. São também fonte de lazer. Uma dessas utilizações é a prática do mergulho submarino, lazer – ou esporte – bastante cultivado na América, haja vista as incontáveis belezas encontradas no fundo dos mares.
O brasileiro Jader Massariol, que mora há 21 anos na América – 16 na Flórida –, já era mergulhador quando morava no Brasil, em Volta Redonda, RJ. Ele faz o mergulho para a caça em muitos lugares, inclusive, no Ceará, onde também tem barco e residência. Jader tem uma empresa de instalação de pisos, e faz o mergulho como um hobby. Por morar ao lado do canal e ter acesso ao mar, sempre que pode, está caçando. “Eu comprei a casa próximo ao mar justamente pensando no mergulho e na pesca. Isso é a minha paixão”, confessa.
Existem três tipos de mergulho: o livre, o autônomo e o dependente. A diferença entre o mergulho livre e o autônomo é que, no primeiro, não é usado o cilindro com ar comprimido ou outra mistura gasosa; no segundo, o regulador de ar e o colete equilibrador servem para controlar a flutuabilidade. Já no dependente, o suprimento de ar não é levado pelo próprio mergulhador, mantendo-se a alimentação da superfície.
O mergulho dependente não é praticado por mergulhadores amadores ou esportistas, uma vez que, como não há limitação de ar para a permanência do homem sob a água, facilmente os limites não descompressivos do mergulho acabam sendo ultrapassados, exigindo assim diversas paradas programadas para descompressão.
Ademais, uma interrupção no fornecimento de ar para o mergulhador pode ser fatal, dependendo da profundidade e do tempo que se encontra mergulhando. Para os iniciantes é recomendado o mergulho livre. Só com doze anos de idade é que se pode começar com o autônomo. O mergulho dependente é largamente utilizado por profissionais, especialmente os que trabalham em plataformas de petróleo e na construção civil.
Mergulho é um esporte que qualquer pessoa pode praticar
Um grupo de jovens brasileiros também tem dedicado parte de seu tempo fazendo mergulhos para caçar ou, simplesmente, para lazer. Wilson, Bruno, Duda, Túlio, Ricardinho, Stefa, Felipe, mergulham quase todos os finais de semana nas praias de Fort Lauderdale até Boca Raton e, a cada dois meses, viajam para as Bahamas. Wilson diz que todo o grupo pratica a caça. “Ninguém do nosso grupo é profissional, mas todos temos a licença para caça. Se a polícia pega alguém caçando sem ter a licença, a multa é grande. A licença é barata. Quinze dólares por ano. Quando a polícia pára alguém para fiscalizar, confere o registro do barco, se tem coletes salva-vidas, se pescou ou não”, informa Wilson. A licença, o entanto, não permite à pessoa pegar qualquer tipo de peixe. Ela especifica: jacaré, peixes, crustáceos, e assim por diante.
Wilson explica que o mergulho é um esporte relativamente caro, por isso, as pessoas preferem alugar o equipamento ao invés de comprar. “Mas, só aluga equipamento quem tem carteira da PADI, que atesta que a pessoa fez um curso para atuar no mergulho e na caça”, explica Wilson.
Tanto Wilson quanto outros mergulhadores, conhecem e chamam de mestre o mergulhador catarinense Arilton Pavan. Ele é o proprietário da Dixie Divers, localizada em Deerfield Beach. Além de vender os equipamentos de mergulho, Pavan ministra aulas desse esporte que está se tornando popular entre os brasileiros.
Os cursos podem ser feitos a partir dos dez anos de idade. Em 11 anos de América à frente da loja, Pavan já formou mais de 700 brasileiros e mais de 2.000 americanos. “Muitos alunos continuam a praticar o mergulho constantemente, outros de vez em quando. Mergulho é um estilo de vida. É um esporte que se pode praticar dos dez aos oitenta anos, ou mais. Quando a pessoa entra na água, o peso dela quase não existe, fica fácil se locomover, e quase não exige força física”, diz Pavan. Ele explica ainda que, quem se certifica no curso, fica habilitado em todo o mundo. A certificação dada aqui vale em qualquer lugar. Segundo ele, atualmente, muitos brasileiros estão realizando os cursos com vistas ao mercado de trabalho em outros países, unindo o hobby com o trabalho.
Pavan não é apenas um instrutor de mergulho e um vendedor de equipamentos. Ouvi-lo é viajar pela história do mergulho, aprender curiosidades e se apaixonar pelo mergulho. “O Sul da Flórida tem a maior concentração de mergulhadores do mundo. Próximo a nós aqui temos mais de sessenta e cinco barcos afundados. Na verdade, são mais de 200, mas muitos estão em locais profundos, onde mergulhadores comuns não vão. Além disso, temos 85 recifes naturais”, detalha Pavan.
Wilson chama esses navios submersos de uma espécie de museu submerso. “Os navios desativados, na verdade, não afundaram, foram afundados a fim de se tornarem pontos turísticos submersos. Nos sites especializados, o mergulhador consegue a localização exata desses navios, programa no GPS, e faz o passeio submarino”, revela.
Para um mergulho seguro, é necessário o uso uma série de equipamentos que proporcionarão tranqüilidade, conforto e, obviamente, segurança ao mergulhador.Uma história envolvendo Domingos e Lone, que foi publicada recentemente em um jornal americano, é digna de nota. Ambos mergulharam ao lado de um senhor de 84 anos. Esse homem é Ray McAllister, fundador da Ocean Engineering, biólogo, escritor e professor da FAU. “Esse foi um mergulho importante para a nossa vida, pois o doutor McAllister é um dos pioneiros do mergulho na América. Eu nunca ouvi falar que uma pessoa de 84 anos faça mergulho submarino”, conta Domingos. O mergulho foi notícia no jornal americano Palm Beach Post, de 05 de julho de 2007.
E não pense o leitor que mergulho é só para seres humanos. Animais também são treinados para mergulharem (www.mergu-lhocanino.com.br), mas isso é assunto para outra reportagem. Quem desejar saber mais sobre mergulho, fazer cursos, comprar equipamentos, eis alguns contatos importantes. Domingos e Lone ([email protected] ou 561-702-6067); Dixie Divers 954-420-0009.
Uma história de amor pelo mar
Domingos e Lone Souza estão casados a quase trinta anos e já viveram grandes aventuras juntos. Quem visita a casa deles passa a co-nhecer e a amar o mar como eles amam. Toda decorada com objetos que lembram o mar, ou que foram extraídos dele, a casa é uma viagem, em seco, ao ainda desconhecido mundo submarino. Um verdadeiro arsenal de lembranças de mergulhos em águas de diversos lugares: Fernando de Noronha,Mar de Abrolhos,( 6 vezes) , México= Chinchorro Bank , Cancun, Cozumel (3 vezes), Nassau e Free Port, Walkers Cay, Marshal Harbour, Berry Island, West End Bahamas Islands, Island of Bahamas (14 vezes), Mar do Caribian, Santa Lúcia, Curaçao, Aruba, Providenciales (Turcos e Caicos), Key West, Dry Tortugas (Forth Jeferson), North Caroline, e costa sul da Flórida. No início dos anos 80, o casal decidiu morar, pelo menos, dois anos nos Estados Unidos. “Depois que a idéia de vir para cá nos ocorreu, em apenas trinta dias já estávamos aqui”, conta Domingos. De fato, eles ficaram 5 meses, voltaram ao Brasil, e, depois, regressaram para morar definitivamente.
Em 1998, eles compraram um barco que batizaram de “Lambada”, com o qual se divertiram por 11 anos. “Naquele barco, tivemos muitos bons momentos com amigos. As histórias ocorridas nele são inúmeras”, relembra Domingos. Uma das amizades que Domingos e Lone cultiva há muitos anos, e que também já viveu várias aventuras no “Lambada”, é o professor universitário Nestor Cardoso. Ele, que participou da primeira expedição brasileira à Antártida, e tem uma carreira brilhante, conta que o casal não apenas possui um hobby. “Domingos e Lone conseguem transformar esse esporte numa atividade social que envolve desde a preparação do mergulho, passando pela viagem, a limpeza do peixe, até quando nos sentamos para comer. Domingos e Lone preparam os pratos do que pescamos como ninguém. A culinária deles reúne amigos”, revela Nestor.
Apesar da experiência adquirida com os anos, o interesse constante pelo assunto, Domingos e Lone tomaram aulas para se aperfeiçoarem na arte de mergulhar. Eles fizeram o curso da Professional Association of Diving Instructors (PADI). No total, foram três cursos.
Há tantos anos nos Estados Unidos, Domingos e Lone cultivaram amigos brasileiros e americanos. Quando fazem, para os amigos americanos, a moqueca capixaba na panela de barro trazida do Espírito Santo, contam a história desse importante utensílio da culinária brasileira, “e eles muito apreciam”, diz Domingos. Aliás, histórias eles contam a todo instante.
Uma das lindas histórias contadas por Lone, ocorrida no ano passado, tem como protagonista o seu pai, Leolito Cabral, que estava fazendo 80 anos. Ele, que estava muito doente, fez um pedido especial para o seu aniversário: oitenta lagostas, uma por ano de vida. Isso era quase impossível, pois cada pessoa só pode pescar, no máximo, seis lagostas por licença. O prazo era de menos de uma semana. Com o apoio dos amigos, conseguimos reunir 86 lagostas. Meu pai mesmo contou. Fotografamos ele com todas as lagostas. Em seguida, ele fez um outro pedido: “Já pensou se essas fotos saíssem no jornal pra todo mundo ver?”
“Na segunda de manhã eu liguei para o jornal, expliquei o caso. A chefe do jornal concordou e, na terça-feira sequinte, as fotos saíram no jornal. Quarta-feira o pai piorou, na quinta foi internado e na sexta ele faleceu”, relata Lone.
Como começou a história do mergulho
O padre italiano Giovanni Alfonso Borelli foi o primeiro homem a mergulhar com segurança e conforto. Seu bem-sucedido passeio subaquático, em 1679, contou com um traje impermeável feito de couro e untado de sebo. Ele tentava, rusticamente, reduzir as agruras causadas pelo frio, uma das grandes dores de cabeça dos mergu-lhadores. Antes dele, porém, o historiador grego Heródoto relatava que o imperador Xerxes tinha organizado expedições para buscar, nas profundezas do oceano, os te-souros submersos dos persas. Bem antes de Cristo, Aristóteles, o notável filosofo da Grécia antiga, narrou a descida de Alexandre, o Grande, num sino de mergulho primitivo para observar a vida marinha.
No ano de 1899, o francês Besnoit Rouquayrol patenteou o primeiro aparelho de respiração autônoma. Mas faltava uma válvula de alta pressão. Sem ela, não havia como equilibrar as altas pressões existentes no fundo do mar. A solução foi encontrada pelo francês Jacques-Yves Cousteau, em 1943. Na época, ele vivia no sul da França, praticando caça submarina para se manter. Junto com o engenheiro Emile Gagnham, que projetou uma válvula de alta pressão, Cousteau aperfeiçoou o aparelho de Rouquayrol, batizado de aqualung.
Atualmente, os recordes mundiais ultrapassam a casa dos cem metros de profundidade. Os mais ousados, entretanto, acabam se especializando no mergulho autônomo, modalidade que permite atingir profundidades de até trinta metros, com auxílio do equipamento de respiração. Os manuais das várias certificadoras de mergulho recreacional, apontam para a profundidade limite para este tipo de mergulho, na casa dos quarenta metros de profundidade. A partir daí, os efeitos da narcose pelo nitrogênio se acentuam, tornando arriscado o mergulho realizado simplesmente com ar comprimido (composto por aproximadamente 21% de oxigênio e 79% de nitrogênio).

