Mexicanos cruzam a fronteira e dão ânimo à economia

Por Gazeta Admininstrator

Consumidores mexicanos com as mãos cheias de dinheiro e longas listas de Natal chegaram aos montes em hotéis, restaurantes e shoppings da fronteira, dando um ânimo à economia americana em queda vertiginosa. As famílias, a maioria de renda média e alta, viajou centenas de quilômetros para aproveitar uma maior variedade de produtos a preços substancialmente mais baixos do que poderiam ser encontrados em seus estados mexicanos natais de Sonora e Sinaloa - mesmo após a recente desvalorização de 30% do peso mexicano em relação ao dólar.

Para muitos, essa é uma longa jornada de carro que inclui múltiplas revistas em bloqueios da polícia mexicana, acompanhadas de trânsito massivo na fronteira em Nogales, onde os atrasos de duas horas ou mais para entrar nos Estados Unidos são comuns. Mas mesmo com esses aborrecimentos, os consumidores mexicanos dizem ainda valer a pena fazer a viagem.

“Conseguimos achar tudo que queremos e é muito mais barato”, disse Aurelia Peralta, dona de casa de 38 anos que vive em Hermosillo, uma cidade de 700 mil habitantes a cerca de 320 km ao sul de Tucson. Apontando para o Guitar Hero World Tour que seu filho adolescente estava jogando, ela disse que presentes de Natal populares custam até duas vezes mais em Hermosillo.

Quando era menina, a família de Pe-ralta costumava ir a Tucson todos os anos e ela e seu marido, Obed Romero, continuaram o ritual, nos últimos 15 anos. Romero disse que ainda existem muitas barganhas, mesmo com a desvalorização do peso. Além disso, como o espanhol é amplamente falado em Tucson e hispânicos de descendência mexicana compõem 30% da população, “nos sentimos muito confortáveis”.

Isso não é por acaso. Fazer com que os consumidores mexicanos se sintam bem-vindos é uma prioridade cada vez maior para os negócios em Tucson. “É extremamente vital fazer tudo que podemos para acomodá-los nesse momento”, disse George Bom, gerente nacional de vendas do hotel Radisson Suites Tucson. “A conclusão é: não podemos nos dar ao luxo de perdê-los”.

Visitantes mexicanos gastam mais de $300 milhões por ano na área metropolitana de Tucson, segundo um estudo de 2002 do Programa de Pesquisa de Negócios e Economia da Universidade do Arizona. Tucson atrai mais de 3,46 milhões de visitantes do México, a cada ano, e a agência de convenções e visitantes da cidade está fazendo forte propaganda do outro lado da fronteira, no Estado vizinho de Sonora, México.

J. Felipe Garcia, vice-presidente de assuntos comunitários e marketing mexicano da Agência Metropolitana de Convenções e Visitantes de Tucson, disse que um número estável de visitantes mexicanos continua comprando nos Estados Unidos, apesar dos problemas econômicos que também atingem o México, onde as vendas de varejo estão caindo bem como o valor do peso. “A mentalidade do visitante mexicano nesses tempos de crise econômica é muito diferente da americana”, disse Garcia. “As pessoas nos EUA estão com medo de gastar. Mas as pessoas no México estão acostumadas a desvalorizações econômicas, recessões e crises. Elas não estão com medo”.

A agência de convenções tem um escritório em Hermosillo e Garcia disse que, em breve, abriria outros mais ao sul, em Los Mochis e Culiacan, ambas no Estado de Sinaloa. As três cidades possuem uma renda média mais alta que as cidades de fronteira vizinhas de Nogales e Agua Prieta. Cerca de 22 milhões de pessoas sem cidadania americana visitam o Arizona, legalmente, através de uma das seis entradas do Estado a cada ano. Mais de 70% dos visitantes relatam que as compras são a razão principal para sua visita. Em comparação, a patrulha de fronteira americana relata que 325 mil pessoas foram presas no ano fiscal de 2008, tentando entrar ilegalmente nos Estados Unidos pela fronteira com o Arizona.

Pouco mais de 96% dos visitantes legítimos permanecem apenas por um dia antes de retornar ao México. Grande parte do restante permanece menos de três noites em hotéis, com família ou amigos, segundo um relatório da Universidade do Arizona. A pesquisa, que será atualizada em janeiro, mostra que os turistas mexicanos gastam quase US$ 1 bilhão no Arizona, muito mais que os US$ 330 milhões gastos no México pelos residentes do Arizona. A co-autora do relatório de 2002, Vera Pavlakovich-Kochi, disse que a nova pesquisa a ser divulgada em janeiro pelo Escritório de Turismo do Arizona é um dos quatro estudos conduzidos ao longo de 30 anos que constatou que os visitantes mexicanos têm “importância econômica significativa para o Arizona”.

Garcia disse que os consumidores mexicanos que vêm a Tucson quase sempre pagam em dinheiro e muitos economizam o ano inteiro para a excursão de compras uma semana antes do Natal. Trabalhadores assalariados do México também recebem um bônus compulsório de, no mínimo duas semanas de pagamento, no meio de dezembro, o que ajuda a abastecer as compras de Natal que vão até a primeira semana de janeiro, terminando com o feriado mexicano Dia de los Tres Reyes, em 6 de janeiro.

Fernando Escalante, 39 anos, é um dos consumidores mexicanos que não se importou com as notícias ruins da economia e trouxe sua família para fazer compras em Tucson. Escalante, dono de um negócio de aquecedor e ar-condicionado em Hermosillo, disse que estava gastando menos este ano, mas levando mais mercadorias, porque os preços estavam muito mais baixos. Escalante disse que os mexicanos estão em posição melhor para resistir ao tumulto econômico, porque muitos mexicanos têm casa própria e não possuem grandes dívidas de cartão de crédito. “Se temos algo, é nosso e já pagamos por ele”, disse.