Miami é destino nacional de cirurgia do "bumbum brasileiro", mas alto número de mortes assusta

Por Arlaine Castro

Milhares de pessoas voam diariamente de todo o país para a Flórida e o motivo vai além dos parques em Orlando ou as belas praias do estado. Milhares de dólares são deixados em clínicas de cirurgias estéticas - especialmente para a "brazilian butt lifts", conhecida como cirurgia do "bumbum brasileiro" - que teve um aumento de mais de 100% de procura nos últimos anos em todo os EUA. O aumento de clínicas de estética transformou a Flórida em um destino nacional para a cirurgia plástica. Mas o número de mortes assusta. Essa operação é considerada a mais mortal de todos os procedimentos estéticos e foi a causa da morte de pelo menos 33 pessoas nos últimos cinco anos nos Estados Unidos, de acordo com a Sociedade Americana de Cirurgia Plástica. Só nos últimos seis anos, uma clínica em Miami e uma em Hialeah supervisionadas pelo mesmo médico perderam oito pacientes em uma onda de mortes não vistas em nenhum outro lugar na Flórida. Juntos, elas respondem por cerca de 1 de cada 5 mortes por cirurgia plástica no estado, segundo uma investigação feita pelo USA Today e Naples Daily News. Além das mortes, quase uma dúzia de outros pacientes ficaram com complicações críticas, incluindo três com órgãos internos perfurados, que os forçaram a correr para emergência dos hospitais em busca de ajuda, de acordo com relatórios médicos e registros de hospitais verificados pelos jornais. Muitas das fatalidades e lesões não foram resultado de complicações inevitáveis, mas de erros e procedimentos sérios que foram muito além dos limites da segurança, aponta a investigação. Quatro das mulheres morreram depois que seus médicos injetaram gordura nos músculos e rasgaram as veias durante a cirurgia, mostram registros e entrevistas. A gordura se acumulou em seus corações e pulmões causando a morte em minutos. Dessas que morreram, sete eram hispânicas e afro-americanas de classe trabalhadora - grupos visados pelas campanhas publicitárias das clínicas. Mulher morre após cirurgia plástica “Brazilian butt lift” em Hialeah Com os casos de mortes e ferimentos aumentando, os nomes de duas *clínicas investigadas no sul da Flórida foram alterados três vezes desde 2016 após os casos, segundo a investigação dos jornais. Mesmo acusado, um médico permanece como pessoa responsável: Dr. Ismael Labrador, 56 anos, que já foi suspenso do consultório por permitir que funcionários sem licença realizassem procedimentos estéticos. Nos últimos seis anos, o Departamento de Saúde da Flórida investigou uma média de seis mortes e ferimentos graves nas clínicas de Labrador. A agência acusou pelo menos dois médicos de negligência e notificou as instalações mais de 20 vezes por não manterem registros médicos adequados. Mas nada disso impediu que eles continuassem atuando e outros pacientes morressem. No entanto, mesmo com os riscos, os preços e as promoções atraem: US $ 3.500 para uma abdominoplastia, US $ 4.000 para o bumbum - metade do que os cirurgiões tradicionais cobram, levantou a investigação. Operação "bumbum brasileiro" aumenta 135% nos EUA Assim, impulsionada por estrelas e celebridades de TV, as operações estéticas são as que mais crescem no país. De 2012 a 2017, o número de cirurgias de elevação do bumbum teve um aumento gradual de 135% em todo o país, indo de 8. 654 em 2012 para 20. 301 em 2017, segundo levantamento da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica baseado em procedimentos relatados voluntariamente por cirurgiões certificados. Na maioria dos casos, o procedimento pode ser feito com segurança por médicos bem treinados. Mas é considerado o mais perigoso em cirurgia plástica, com uma taxa estimada de mortalidade de 1 em 3.000 operaçõesa, analisa a investigação. Usando um tubo longo e fino, os médicos sugam a gordura do abdômen, quadris ou coxas e injetam nas nádegas para aumentá-las. O risco surge quando os médicos injetam gordura no músculo - uma área que são alertados por especialistas para evitar - e dilaceram as veias. Lá, os vasos podem transportar a gordura para o coração e os pulmões, o que cria um bloqueio mortal conhecido como embolia. Advogados buscam esclarecimentos sobre morte de brasileira após cirurgia plástica em Boca Raton A Sociedade Americana de Cirurgia Plástica e Estética salienta que as fatalidades ocorrem da junção de médicos despreparados, materiais sem conformidade com o exigido e o número além do indicado de cirurgias por dia que são de apenas quatro. Por isso, o órgão juntamente com organizações parceiras estabeleceram uma força-tarefa para investigar por que essas mortes estavam acontecendo e para alertar médicos e pacientes. Agora, a força-tarefa está recomendando que os cirurgiões plásticos só façam "bumbum brasileiro" injetando gordura abaixo em um local mais raso, logo abaixo da pele. Os pacientes podem não obter os mesmos resultados estéticos, mas a mudança quase certamente salvará vidas, alega o órgão. Sucesso entre americanas e hispânicas Acostumada a atender diariamente pacientes recém-operadas da cirurgia do "bumbum", a massoterapeuta Kelly Fry Dobes Oliveira relata que nunca teve algum caso que envolvesse morte de paciente, mas já teve pacientes com infecção e necrose no pós- operatório e que mesmo assim elas se sentiam felizes. "Esse tipo de cirurgia é sucesso entre americanas e hispânicas. Elas acham as brasileiras lindas e acham que todas as mulheres no Brasil têm 'corpão'. Nunca atendi uma brasileira", conta. Fisioterapeuta especialista em estética no Brasil há 20 anos e massoterapeuta licenciada pela Flórida, Oliveira diz que Miami tem uma demanda enorme desse tipo de operação. "95% das minhas pacientes fazem lá, aqui em Orlando são poucas, pelo menos que eu atendo", ressalta. A massoterapeuta explica sobre a importância do procedimento pós-operatório. "A drenagem linfática é para diminuir edema e dor e só é feita na região que fez a lipoaspiração. Na área enxertada, ou seja, no bumbum, não se pode fazer massagem para evitar que o corpo absorva a gordura injetada. Elas não podem sentar diretamente na área enxertada, esse é o maior desconforto dessa cirurgia, o tempo varia de 1 a 3 meses e existe um travesseiro próprio que eles utilizam para sentar, mas todas dizem ser muito desconfortável", completa. *As clínicas citadas pelos jornais como as de maior número de mortes de pacientes e alvos constantes de investigações atendem atualmente pelo nome de Jolie Plastic Surgery. Em 2014 era conhecida como Vanity Cosmetic Surgery e a outra clínica em Hialeah tinha o nome de Encore Plastic Surgery em 2015, que hoje também atende pelo nome de Jolie. 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