Minha herança é o lugar de onde vejo o mundo
Diante disso, seria impossível para mim viver em outro país e entregar uma mala vazia a meus filhos. Quando eu cheguei nos EUA, a maior pergunta que ecoava dentro de mim era: será que meus filhos vão conversar, conhecer, pertencer e usufruir dos tesouros da minha língua-cultura? Que sentido terão para eles as histórias e a língua que definem e dizem sobre quem eu sou, sobre o lugar de onde eu vejo o mundo?
Naquele momento, ficou muito claro meu objetivo: estudar, aprender, refletir e ajudar pessoas a entenderem a importância das línguas de herança. Despertar o desejo e conscientizar sobre cultivar as línguas e a culturas das famílias imigrantes. É claro que isso é, todos os dias, trabalhoso e desafiante. Quanto mais estudo sobre as línguas de herança, mais entendo o poder que a sociedade tem de influenciar na língua-cultura de uma pessoa. Muitas vezes, enfrentamos a resistência de cultivar nossa língua de herança dentro da família, na escola, entre vizinhos, etc.
Às vezes alguém pergunta: não seria mais prudente que seus filhos aprendessem muito bem o inglês primeiro, para depois aprenderem o português? Afinal, pensam, eles vivem nos EUA e precisam participar dessa sociedade. Em reposta, eu não só listo todos os mitos já desmentidos pelos estudos sobre o bilinguismo, mas eu mostro como meus filhos, bilíngues simultâneos são proficientes nas duas línguas e passeiam livremente pelas duas culturas. Então, devolvo a pergunta, que Ana Lúcia um dia me ensinou: como poderia eu ser mãe, ou pai, ou avô em uma língua que não me vem do coração?
*Ivian Destro Boruchowski, MEd Professora, autora e pesquisadora sobre bilinguismo e línguas de herança.
