Há alguns anos um cliente de coaching me perguntou: Qual o momento certo na vida de uma pessoa para empreender?
Dúvida recorrente. Ele era um alto executivo de uma multinacional, tinha salário gordo, benefícios de montão, férias, 13º, milhagem, plano de saúde (que na verdade deveriam ser chamados de “plano de doença”), carro e mais uma porção de coisas que a empresa lhe dava. Dava não, perdão, trocava pela sua expertise.
Ah, esqueci de mencionar acima: Ele tinha uma infelicidade do tamanho de seu salário, frustrações maiores que os benefícios e uma porção de problemas que nem eram seus. Aquilo que chamo de carga desnecessária.
Está pensando que sou contra aqueles profissionais que fazem carreiras eternas em empresas? Já disse aqui, falo por mim, sim, sou contra. Mas sei que há pessoas que são a favor e minha obrigação é respeitá-las e é o que faço. Tem gente que não nasceu para empreender. Simples assim.
Mas, para aquele cliente em especial, a vida de executivo estava pesada demais e a resposta à pergunta que me fez era óbvia: O momento certo para empreender é justamente o momento em que se começa a pensar nisso com profundidade. Notem que não estou falando em execução. Essa parte pode acontecer hoje, amanhã ou em alguns anos. Há que se preparar o terreno. Mas como tudo na vida, empreender começa muito antes de abrir as portas de um negócio. Começa na ideia, no desejo.
Ele quis saber minha opinião porque já tinha em mente alguma coisa. Ele quis saber o que eu pensava a respeito porque ele já estava com cinquenta e poucos anos. Sua preocupação, na verdade, era descobrir o que eu pensava sobre isso, se o fato de ele não ser mais um garoto atrapalhava seus planos. Mas vejam, ele já tinha um plano em mente.
Quase aquela dúvida recorrente: Deve-se trocar o certo pelo incerto? Bem, nem acho que ter um bom emprego seja a coisa mais segura desse mundo. De fato parece ser, mas sabemos que não é.
Falei a ele o que falo a todo mundo. É o óbvio, mas que nem sempre observamos: toda escolha envolve necessariamente uma renúncia.
Meu conselho a respeito é: Se você quer mesmo fazer isso, trocar de vida, tente ao menos fazer todo o planejamento enquanto ainda está trabalhando em seu emprego atual. Além do dinheiro continuar entrando, há outra coisa. Muito mais importante, até. A observação. Quando uma pessoa está trabalhando e quer sair de lá para empreender, ela passa instantaneamente a olhar a empresa em que trabalha com outros olhos. Observa tudo, cada movimento, cada passo, cada receita, cada despesa, enfim, ela passa a analisar a companhia em questão como se fosse sua.
Por isso é importante fazer esse planejamento simultaneamente com o trabalho atual. A gente muda a lente dos óculos, a gente muda a perspectiva e, podem ter certeza, é uma experiência pra lá de enriquecedora. Até mesmo para validar seu desejo de empreender, afinal, ele vai ter que renunciar a tudo aquilo.