Morte de criança não vacinada na FL reacende debate sobre vacinação infantil

Por Arlaine Castro

Claudia Costabile gerente de comunicação farmacopeia dos EUA
Vacinação infantil: uma criança da Flórida que não era vacinada foi a primeira pessoa em todo o país a morrer de gripe na temporada 2018-2019, anunciou o Departamento de Saúde da Flórida na última segunda-feira, 15. As autoridades informaram que a criança estava saudável até o momento da doença e foi diagnosticada com Influenza B e a morte se deu entre 30 de setembro e 6 de outubro. Não foram divulgados detalhes sobre a vítima nem a data exata da morte. Cerca de 80.000 americanos, incluindo 180 crianças, morreram no ano passado na temporada de gripe mais letal em mais de 40 anos, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças. Aproximadamente 80% dos que morreram não foram vacinados, segundo o CDC. As vacinas demonstraram reduzir em 60% a probabilidade de uma criança morrer de gripe, segundo autoridades do departamento de saúde. As vacinas são recomendadas para qualquer pessoa com pelo menos seis meses de idade. O médico Dr. Richard Webby faz parte da Equipe de Composição de Vacinas da Organização Mundial da Saúde, um grupo de cientistas que recomenda quais vacinas contra gripe devem ser colocadas em circulação todos os anos, e disse que a vacina não é perfeita, uma vez que mesmo com a vacina é possível ficar gripado, mas é o melhor passo para prevenir o aparecimento da gripe, minimizar os sintomas se ficar doente e prevenir a propagação da doença. Sarampo, caxumba, rubéola, coqueluche, difteria, tétano, poliomielite, varicela, doença pneumocócica, hepatite A, hepatite B, influenza, meningococo e Haemophilus influenzae tipo b (Hib) são tipos de doenças evitáveis ??pela vacina, informa o Departamento de Saúde da Flórida. Criança sem vacina contrai sarampo na Flórida Essas doenças comuns na infância e na vida adulta são altamente contagiosas e são particularmente perigosas para crianças muito novas que têm relativamente pouca resistência à infecção e mais propensas a desenvolver complicações sérias, como surdez, retardo mental, danos no cérebro e na medula espinhal e, ocasionalmente, morte. De acordo com o Departamento, a Flórida tem um programa de imunização “muito forte e bem-sucedido” e, sem a garantia de altos níveis de imunização, os visitantes e os moradores não poderiam desfrutar da alta qualidade de vida que o estado oferece com a redução da incidência de doenças, dos custos de assistência médica e garantia aos turistas e moradores de não contrair uma doença evitável por vacina. “O programa garante uma resposta de causa e efeito, monitorando os níveis de imunização em populações vulneráveis ??em todo o estado, contribuindo assim para estratégias para atingir e manter altos níveis de imunização”, diz o departamento. Para as autoridades de saúde, embora os indivíduos vacinados ainda possam ser infectados com doenças como coqueluche ou varicela, em geral, aqueles que receberam pelo menos 1 dose de vacina têm desfechos menos graves do que aqueles que nunca foram vacinados para a doença. Requisitos de Vacinas do Estado da Flórida O Flórida SHOTS ou Florida State Tracking System é um registro de imunização online gratuito, estadual e centralizado que ajuda os provedores de saúde e as escolas a rastrear os registros de vacinação para garantir que pacientes de todas as idades recebam as vacinas necessárias para protegê-los de doenças perigosas evitáveis ??por vacina. O registro é endossado pela Academia de Médicos de Família da Flórida, pela Associação de Planos de Saúde da Flórida, pela Associação Médica da Flórida, pela Associação Médica Osteopática da Flórida e pela Seção da Flórida da Academia Americana de Pediatria e é autorizado pela Seção 381.003, do Estatuto da Flórida sob o programa da Seção de Imunização do Departamento Estadual de Saúde. Isenção de vacina O Formulário DH 680, ou Certificação de Imunização, é usado para todas as isenções médicas e requer uma declaração e assinatura do médico. Já a DH 681, isenção religiosa de imunização, é necessária para isenções religiosas e é emitida pelo Departamento de Saúde do Condado (CHD). “Um pedido de isenção religiosa dos requisitos de imunização deve ser apresentado à instituição / escola no formulário de Isenção religiosa de imunização do Departamento de Saúde (DH 681 Form). O Formulário DH 681 é emitido apenas pelos departamentos de saúde do condado e apenas para uma criança que não esteja imunizada devido aos princípios ou práticas religiosas de sua família. Se um dos pais solicitar tal isenção, o departamento de saúde do condado deve usar o formulário DH 681 atual, que foi assinado pelo pai afirmando a declaração por escrito no formulário de que existe um conflito religioso. Este formulário deve ser emitido mediante solicitação. Nenhuma outra informação deve ser solicitada ao pai ou responsável. ”Regra 64D-3.046, Código Administrativo da Flórida. Isenções médicas também são permitidas. Aumento de isenção religiosa O risco, porém, é que as crianças não vacinadas correm maior risco de doenças preveníveis por vacinação, como coqueluche, varicela e sarampo, e o número vem aumentando, diz o departamento de saúde. “As comunidades com uma maior proporção de isenções religiosas (religious exemptions - RE) para a vacinação estão em maior risco de transmissão de doenças evitáveis ??por vacinação e o número de novas REs está aumentando a cada mês. Em todo o Estado, a prevalência estimada de REs entre crianças de 4 a 18 anos é de 2,9%, com os municípios variando de 0,3% a 6,5%. Em setembro de 2017, a prevalência em todo o estado foi de 2,5%, e a prevalência aumentou gradualmente a cada mês desde então”, cita o departamento em seu site oficial. (Para saber mais sobre as REs em nível local, visite www.flhealth.gov/REmap, com dados atualizados de setembro de 2018). Falta de vacinação pode causar surtos de doenças nos EUA, aponta pesquisa Surtos Segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, até 8 de setembro de 2018, 137 casos individuais de sarampo foram confirmados em 24 estados (incluindo na Flórida) e no Distrito de Columbia. Na Flórida, um caso foi relatado em uma criança não vacinada, segundo o departamento de saúde de Pinellas County. O CDC diz que o sarampo se espalha facilmente quando atinge uma comunidade onde grupos de pessoas não são vacinados através da tosse e espirros, e os sintomas aparecem em 10 a 14 dias após a exposição. O sarampo pode ser prevenido com a vacina MMR, conhecida como tríplice viral, que as crianças geralmente recebem entre 12 e 15 meses de idade. Uma segunda dose é geralmente administrada entre as idades de 4 e 6. A vacina MMR é considerada 97% eficaz na prevenção do sarampo e previne também para caxumba e rubéola. "Melhor prevenir do que remediar" Trabalhando há mais de cinco anos como nurse pratictioner em clínicas de primeiros cuidados na Flórida, a paulista Karoline Mion salienta que a polêmica sobre vacinação das crianças aumentou de uns anos pra cá e que há algumas comunidades de imigrantes que, por causa do pouco cuidado com a saúde no país de origem, não buscam vacinação, o que ajuda para o risco de transmissão de doenças. “Não é nem por serem contra alguma vacina, mas porque não ligam mesmo com os primeiros cuidados. É preciso todo um trabalho de conscientização para que busquem a imunização”, destaca. De acordo com Mion, a comunidade brasileira, especialmente os brasileiros recém chegados aos EUA, é uma das que mais busca vacinar principalmente as crianças. “Mesmo que não tenham vacinado no Brasil, vemos muitos pais que procuram logo quando chegam. Aqueles que não o fazem, muitas vezes é porque não possuem seguro saúde e não sabem que podem procurar os departamentos de saúde e obter vacinas de graça”, conclui. Novo estudo comprova que vacinação não causa autismo Em campanha para aumentar a cobertura de imunização, Mion diz ainda que o governo federal chega a conceder gifts cards para que famílias mantenham a vacinação e consultas em dia. Atualmente trabalhando na clínica Americare Wellness em Boyton Beach, liderada pelo brasileiro Antônio Carlos, a paulista destaca que a campanha para vacinação contra a gripe está aberta e espera ter adesão da comunidade brasileira. “Ressaltamos muito a importância de se vacinarem todos porque há muitos pais que não são bem orientados”, enfatiza. [caption id="attachment_174271" align="alignright" width="300"] Claudia Costabile atua na área de comunicação científica em Maryland.[/caption] Vacina X autismo Sobre a polêmica de algumas pessoas que acreditam que vacinas podem causar autismo, Claudia Costabile que trabalha como Strategic Communications Manager for Science na US Phamacopeial Convention em Rockville, Maryland, e tem uma filha de 3 anos e meio, diz que a ciência continua provando que não há relação entre uma coisa e outra. “O que houve foi um sujeito criminoso que publicou um artigo falso e que inclusive perdeu a licença para exercer medicina por fraude”, afirma. Para Claudia, infelizmente as pessoas preferem acreditar em celebridades a cientistas que passam a vida toda estudando ciência. “Para ser honesta, pra mim não tem alternativa além de vacinação. Meu marido é PhD em imunologia e trabalha com vacinas. Somos os dois defensores intensos da vacinação e da ciência. A internet hoje em dia confunde muito as pessoas sobre o que é ciência e o que é opinião. E vacinação não é opinião. É um serviço público e uma consequência da vida em sociedade”, destaca. Sobre as reações adversas das vacinas, existe como em qualquer medicamento, mas as graves são raras, diz Claudia. “Existem pessoas mais suscetíveis e com alergias não identificadas anteriormente. Existem pessoas com condições pré-existentes”, explica. “As reações leves (febre, vermelhidão e dor no local) acontecem também e são supernormais. Você já viu um bebê com coqueluche (whooping cough)? Antes de a vacina existir, morriam 8.000 pessoas por ano da doença nos Estados Unidos. Hoje em dia, com a vacinação, morrem 20”, aponta Claudia. A brasileira acredita ainda que o fato das doenças terem sido erradicadas por anos e uma geração não ter vivenciado os surtos e mortes, faz com que se acredite que a vacina não é necessária. “O que acontece é que as pessoas nunca viram uma epidemia de poliomielite ou de sarampo. Então acham que não precisam vacinar e as doenças voltam. A vacina que causa mais discussão, a de sarampo (measles) tem uma taxa de reações adversas a vacina (adverse events following immunization (AEFI)) de 1 em 1 milhão de crianças. Isso quer dizer que a cada um milhão de crianças vacinadas, UMA em média tem uma reação grave. E a reação não é autismo. Em comparação, 30% das crianças que pegam sarampo desenvolvem complicações graves como infecções secundárias, convulsões, ulcerações, pneumonia, e, claro, nos casos mais graves, morte”, conclui. Todos os casos de reações adversas podem ser verificadas no site do CDC. 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