Morte de menino após se revelar gay reacende debate sobre bullying

Por Arlaine Castro

Leia Pierce with her son Jamel Myles, 9. Myles took his own life on Thursday, August 23, 2018. (Photo courtesy of Leia Pierce via Facebook)
[caption id="attachment_172117" align="alignleft" width="327"] Morte de menino após se revelar gay reacende debate sobre bullying. Foto: Facebook via The Denver Post.[/caption] A morte de Jamel Myles, um menino de nove anos, que tirou a própria vida após quatro dias de retorno à escola em Denver, no Colorado, reacendeu o debate sobre o bullying nas escolas. Segundo sua mãe, Leia Pierce, tal ato foi em resposta ao excesso de bullying homofóbico depois que ele se revelou gay para seus amigos. Seja por revelar a sexualidade ou por outro motivo, lidar com o bullying é cada vez mais difícil principalmente para as crianças. Durante o verão, Myles teria revelado à família que era gay e queria contar a seus colegas de classe em sua escola porque ele estava orgulhoso de sua orientação. "Ele estava com receio porque é um menino e é mais difícil para os meninos quando eles assumem. Sorri para ele e disse que ainda o amava”, disse Pierce ao The Denver Post. Porém, no dia 24 de agosto, ele tirou a própria vida. "Meu filho morreu por causa do bullying. Meu bebê se matou. Ele não merecia isso. Ele queria fazer todo mundo feliz mesmo quando não estava”, disse a mãe. O garoto começou a usar unhas postiças no dia 20 de agosto, o primeiro dia de volta às aulas. Quatro dias depois, a mãe encontrou seu corpo sem vida em casa. A irmã mais velha de Jamel revelou à mãe que outras crianças disseram ao menino para se matar, segundo o jornal. Recentemente, uma pesquisa revelou que quase metade dos adolescentes que disseram que se sentiam atraídos pelo mesmo sexo ou ambos os sexos se magoaram – um indicativo de quanta saúde mental ruim pode afetar aqueles que são trans, homo ou bissexuais e como isso pode afetar a sua capacidade de viver, aponta o The Denver Post. Brasileiros relatam bullying sofrido pelos filhos em escolas da Flórida Em um outro recente caso de bullying severo, um menino de seis anos foi hospitalizado com várias lesões depois de enfrentar um grupo de meninos para defender um amigo. O caso aconteceu no condomínio da família em Olympia, estado de Washington, no dia 22 de agosto, de acordo com o jornal KOMO. Eles bateram em Carter English com pedras e gravetos e esfregaram serragem em seus olhos. O garoto acabou com um braço quebrado, olhos dilacerados e vários cortes e contusões na cabeça e no rosto. A polícia de Olympia está investigando o caso e disse ter identificado uma criança de cinco anos que eles acreditam ter iniciado tudo e planejam envolver os serviços sociais. O caso foi apresentado brevemente ao Ministério Público, mas devido à idade de todos os envolvidos, o caso não resultará em uma referência criminal. "Eu realmente não sei o que estou esperando para que as pessoas saibam que isso não é aceitável. O bullying não é coisa boa. Não há motivo para intimidar alguém”, disse a mãe Dana English, em lágrimas. Para a psicanalista Adriana Tanese Nogueira* , um dos problemas é a falta de percepção dos pais. “O bullying se combate em casa em primeiro lugar. Para uma criança (ou qualquer um) chegar ao suicídio tem um longo caminho feito de tristeza, desamparo e depressão. Quando vemos uma criança assim, temos a obrigação de nos importar. Em primeiro lugar os pais, mas também as professoras, os adultos da escola. Em segundo lugar, o bullying se combate nas escolas, com diretorias que investem em conscientizar professores e auxiliares de todo o tipo para ver, observar, cuidar. Em terceiro lugar, o bullying se combate mudando uma cultura, a do bullying, e isso nas escolas (quer irão se mexer mais rapidamente se os pais se mexerem)”, acrescenta. Para a especialista, é preciso “ajudar as crianças a compreender e aceitar a diversidade humana, a não se sentir ameaçadas pelo ‘outro’. E aí o esforço é de todos nós, pessoas conscientes e boas que queremos um mundo melhor. Como se diz, 'Pior não é quem faz o mal, mas o bom que não faz nada”, completa. Neste mês de setembro é iniciada a campanha mundial para conscientizar a população sobre a realidade do suicídio e mostrar que existe prevenção em mais de 90% dos casos, segundo a Organização Mundial da Saúde. * Adriana Tanese Nogueira - Life Coach, Terapeuta Transpessoal, autora e formadora de opinião. Leia mais sobre o assunto em Aluno que atirou e matou estudantes no Texas era alvo de bullying Flórida: Senado aprova lei que dá voucher para alunos que sofrem bullying irem a escola privada