Muita análise e pouca ação - Editorial

Por Marisa Arruda Barbosa

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Quando há pouca notícia e muita ansiedade, existe muita análise. Foi isso que aconteceu esta semana, em relação à reforma imigratória: muitos editoriais e programas de rádio debateram sobre o assunto e houve pouca ação, o que alguns dizem ser perigoso, caso o “momentum” não seja aproveitado agora.

Uma vez que o projeto de lei de reforma chegou à Câmara dos Deputados, tudo parece ter parado. O presidente Barack Obama parou para repensar sua estratégia e, assim como ele, todos pensam em qual seria a melhor jogada o tempo todo.

Durante o programa de rádio “On Point”, da NPR (GOP and Immigration Reform), um ouvinte falou algo que muitos imigrantes concordariam: que é uma pena que se pense em reforma imigratória em curto prazo, nas eleições de 2016 e no momento político de agora, e não se pense no futuro de pessoas e nas próximas gerações.

Pensando em curto prazo, republicanos que são contra a reforma, dizem que a aprovação de uma lei poderia ser como atirar no próprio pé, já que atrairia novos democratas, partindo do pressuposto de que imigrantes são democratas.

Mas é muito importante mudar essa e muitas imagens em relação aos imigrantes. Existem muitos imigrantes que se tornam republicanos mais tarde, quando chegam no momento de escolher um partido para fazer escolhas políticas no país. Quando um imigrante chega a um novo país, não tem aqui suas tradições de uma família republicana ou democrata, tendo que aprender tudo novamente, do zero. Assim, republicanos e democratas podem ter um bom papel na educação de novos imigrantes, que depois de legalizados no país - isso se a reforma que porventura for aprovada oferecer um caminho para a cidadania, - terão interesses que irão além da imigração, naturalmente, como emprego, sistema de saúde, etc.

Derrota política, real necessidade de reforma, necessidade econômica, falta de interesse em uma classe que a maioria poderia ser “democrata”, os próximos meses, que realmente parecem ser muitos meses, devem ser de muita adrenalina para aqueles que esperam pela reforma para decidirem suas vidas, enquanto outros fazem campanha política.

Olhando de outro ângulo, no entanto, diante de outras questões políticas polêmicas, como o chamado “Obamacare”, controle de armas, uma comentarista em um programa de rádio durante a semana disse que a reforma, na verdade, é o mais provável de acontecer. O projeto criado pela chamada “Gangue dos 8”, um grupo bipartidário de senadores, por exemplo, demonstra uma vontade política inexistente nessas outras questões.

Ainda falando de reflexões, porém, em outro assunto, esta semana, a absolvição de George Zimmerman trouxe muita controvérsia ao país, reascendendo uma questão racial que parecia mais harmonizada.  Enquanto muitos saíram às ruas, o movimento não foi tão violento quanto autoridades imaginaram, pelo menos sem conflitos. A respeito de manifestações, um pastor do sul da Flórida disse algo a se pensar, mas ou menos assim: “Cartazes nesse momento não terão muito efeito. Temos que pensar em unir forças com membros da comunidade para mudar realmente a política no país”. Esta frase poderia ser guardada para falar para os brasileiros sobre as manifestações no Brasil e no mundo, que começaram com o aumento de 20 centavos no preço das passagens de ônibus em várias cidades. Não seria o momento para cada um concentrar forças e traçar um plano real de mudanças?