Mulheres boazinhas e venenosas - Viver Bem

Por Adriana Tanese Nogueira

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Os melhores inimigos são aqueles cujo rostos e atos são visíveis e reconhecíveis. Os piores são os que traem, caluniam, envenenam por trás, tão escondido e bem feito que parecem santos inócuos. Geralmente, no primeiro caso se trata de homens, no segundo – ai que tristeza – de mulheres. É por isso que muitas vezes eu prefiro os homens, você sabe de cara com quem está lidando, o machismo é mais evidente. Algumas culturas são marcadamente masculinas, como a americana, outras tem uma dose maior de feminino, como a brasileira, o que faz com que mesmo os homens brasileiros tenham uma forma de atacar típicas do modelo de mulher que irei descrever.

Ela aparenta ser boa, ingênua, dócil, paciente e disponível. Um doce de pessoa. Quantos homens dariam tudo para ter uma esposa assim! É o próprio clone da Virgem Santíssima (se não fosse que a Virgem é um ideal desumano). Mulheres humanas têm ambições, desejos, contradições, raivas, ódio, como todo ser humano. Mas este tipo de mulher intencionalmente compromete-se a caber no papel da mulher docinho de côco. E o que acontece? Quando uma pessoa, em nome de um modelo puro e alvo, reprime uma parte importante de seus aspectos humanos, ela se cinde, se quebra em duas, o que faz com que ela desenvolva uma personalidade de duas caras. No jargão popular, ela se torna falsa. Ao abraçar um modelo feminino que exige dela que seja perfeitamente maleável para caber na vida de seu esposo e família, a mulher vai pagar um preço, essa dinâmica psicológica não sai de graça. O “investimento” nessa escolha existencial é alto.

Outro dia, comprei um doce, era de chocolate e creme, em camadas, com massa folhada, alto uns seis centímetros, de aparência excelente. Depois do almoço fui cortar um pedaço para a sobremesa. Peguei um garfo e comecei a comer. Humm… achei que tinha um sabor estranho, mas pensei que talvez o creme fosse de limão e por isso aquele sabor meio azedinho. Retirei mais um pedacinho e o coloquei na boca e… eis o inconfundível sabor ruim. Olhei com mais atenção para massa: lá estava o verde do mofo!

Assim é com certas mulheres, tudo parece perfeito e agradável até você ser picada pelo seu veneno. O ataque sempre te pega de surpresa, porque você está aberta e disponível frente à tão doce aparência. Você chega até a duvidar que haja algo errado com ela, quem sabe seja apenas uma impressão subjetiva. Aquela pontada de azedinho faz parte da personalidade inócua dela. Assim, deixa pra lá. Entretanto, mais cedo ou mais tarde, você acabará por sentir o estilete fino passando rapidamente pela tua carne, quando menos espera e onde menos espera. E sua sensação será inconfundível. Você foi atacada.

Este suave e gratuito assalto é sempre contra outra mulher a qual não precisa ter-lhe feito nada de mal. É um ataque envenenado que vem embalado na forma de um cavalo de Tróia. Só quem sente o golpe sabe que foi atacada. Por fora nada se nota, a menos que uma terceira pessoa seja psicologicamente desenvolvida e esperta o suficiente para reparar. O que infelizmente é raridade, sobretudo entre os homens, os quais continuarão encantados com a domesticabilidade da mulher-docinho de côco, cegos para suas duas caras, descendo a lenha naquelas outras mulheres arrogantes e julgadoras que ousaram denunciar o mofo verde em meio ao creme fofo. Não há mofo algum, é sua imaginação de pessoa ruim!

Por incrível que pareça, muitas (mas não todas!) mulheres que assim agem sequer o percebem. Aqueles pequenos gestos e aquelas poucas palavras saíram de sua boca sem que elas se dessem conta, e se você indagar irão negar qualquer sentido negativo – tamanha é a dissociação interna, tamanha é a doença psicológica que carregam, verdadeiras Dra. Jekill e Ms. Hyde.

A doença que essas mulheres carregam em grau agudo e profundo chama-se geralmente inveja. A inveja consiste em diminuir a outra pessoa porque ela possui aquilo que se deseja, mas que não se assume que se quer, não se acha que se pode obter e sinceramente nem sempre se quer trabalhar para conseguir. A invejosa não assume a inveja porque assumir significaria reconhecer que a outra pessoa tem algo a mais dela e seu sentimento de inferioridade é tamanho que lhe impede de reconhecer uma falha. Portanto, nada que a outra tenha ela admite que lhe falta. Além disso, admitir levaria a ter que se mexer para conseguir o que se precisa e isso, gente, é dureza, é trabalho, é esforço, é dedicação, responsabilidade... Se alguém quer adquirir algo, precisa antes reconhecer-se ignorante, incapaz, pequeno ou carente. Funciona assim. Mas a mulher boazinha e venenosa sonha estar no topo da pirâmide sem descascar seu esmalte impecável. Que docinho.

*Adriana Tanese Nogueira é psicanalista e life coach www.ATNHumanize.com