Mulheres poderosas e submissas - Viver Bem

Por Gazeta News

Por-Que-os-Homens-Querem-as-Mulheres-Poderosas

Adriana Tanese Nogueira*

Era uma vez mulheres que não ousavam trabalhar fora porque temiam a rua e o mundo. Houve a revolução feminista e, hoje, as mulheres andam por todo lado e fazem praticamente todo tipo de trabalho.

Era uma vez mulheres que dependiam de seus maridos para comprar uma bolsa, um par de chinelos, para sair de férias ou tomar um café com as amigas. Os maridos davam seu alvará e o dinheiro para fazer essas coisas.

Era uma vez mulheres que eram mantidas em gaiolas de ouro representadas pela casa que o marido lhes dava, pelas jóias que recebiam, pela conta bancária dele e tudo o que o dinheiro permite. O status compensava o vazio de suas vidas.

Era uma vez mulheres que titubeavam diante da realização profissional. Não se sentiam à altura, não sabiam por onde começar, não conseguiam ter “voz ativa e no seu futuro mandar” (Chico Buarque - Roda Viva).

Todas essas mulheres do passado pertencem ainda ao presente. Cada uma enfrenta um aspecto, uma etapa do processo de emancipação feminina. Mas a este grupo se acrescentou uma nova espécie, uma abnormalidade bem curiosa.

Hoje em dia, existem mulheres poderosas que ganham dinheiro e carregam a casa nos ombros, cuidando de filhos e trabalho numa tacada só, e que ainda por cima sustentam maridos ou são por estes aproveitadas. Aparentemente ignorantes de seu poder, essas mulheres têm homens que pouco ou nada contribuem com as despesas, que não as valorizam e que elas não amam e que não as amam. Entretanto, elas os mantêm em seus lugares nobres de “marido”, de “homem”, como se toda aquela revolução feminista de 50 anos atrás não tivesse nunca existido.

Inverteram-se os papéis externos, mas aqueles internos, psicológicos, continuam os mesmos. Ela é quem traz o dinheiro para casa, não ele. Mas dele ela continua psicologicamente dependente. Apesar de todo o poder econômico que uma mulher tem e a despeito de sua heróica capacidade de se erguer de uma posição mesquinha na vida para aquela de uma mulher proprietária de sua casa (e até de muitas outras), ela continua psicologicamente frágil diante da figura masculina. E pior, teme tomar atitudes diante de um homem que ela sabe que não a ama.

Esse paradoxo parece dizer que na cabeça dessas mulheres é preciso ter um homem. Não é necessário que seja trabalhador e honesto. Dispensa-se o respeito e até o reconhecimento pelo que se faz por ele. Pode-se carregá-lo nas costas porque ele não traz um tostão para casa ou até, traz mas tem outras “prioridades”. O importante é que seja um homem. Há de se ter um homem em casa. E não por amor.

Não importa se sua presença prejudica o desenvolvimento dos filhos, que se perguntam silenciosamente o que sua mãe bam bam bam faz com um homem de caráter duvidoso. Não importa se os traumatiza. Não importa se ela está dando à filha o exemplo contraditório e preocupante de uma mãe que se autosabota, e depois essa mesma filha quando adolescente se rebela à mãe e não quer ser sua “amiga”. Não importa. O lugar sagrado de “homem da casa” é intocável.

O fato é que as mulheres andaram muito longe desde aquele triste começo, quando não tinham independência e autonomia alguma. Mas um elástico as prende ao ponto de partida: elas acham que precisam de um homem. Tem de estar casadas. Tem de servir ao marido. Tem de fazer o filho amar e respeitar o pai - apesar delas não serem nem amadas nem respeitadas por este pai ou pela família dele. O homem continua no pedestal, mesmo quando é um vagabundo, um mal humorado, um alcóolatra, um problemático - ou o que quer que seja. Vivemos a loucura de mulheres donas do pedaço no mercado de trabalho, mas não donas de si mesmas. Mulheres que vivem submissas ao condicionamento cultural arcaico, mas incrivelmente eficiente, que reza sem assumir (porque hoje isso não se diz mais em voz alta) que “ele tem privilégios” ou que  “ela não tem direitos”. Mulher sozinha é coisa ruim. É feio, errado, triste.

Minha sugestão não é a de se livrar de maridos e companheiros. Mas a de se livrar da submissão e, com ela, daquela culpa profunda por ser diferente (do estereótipo da sociedade ou do que os pais queriam para elas). Ser mulher forte virou um pecado. Ser independente uma culpa. Ser inteligente um problemaço gigantesco. Ora, e quem acredita que mulheres submissas encontram o amor que tanto almejam?

A verdade é que até que elas não se assumam pelo que são e aceitem o que realmente precisam, ou seja, liberdade, respeito e autoestima, não poderão encontrar uma relação satisfatória ou melhorar aquela que tem. É sua postura de tolerância insensata que alimenta homens aproveitadores e desrespeitosos.

O problema não é eles, é elas. Estas mulheres estão amarradas em contradições que não têm esperança de serem resolvidas até elas não olharem para si mesma e enfrentarem a jornada interior de autotransformação, única estrada possível à verdadeira emancipação. Porque dinheiro não compra liberdade e muito menos felicidade.

*Adriana Tanese Nogueira é psicanalista e life coach www.ATNHumanize.com