Mundo desenvolvido x mundo em desenvolvimento

Por Gazeta Admininstrator

A história nos mostra, nenhum império resiste ao passar dos anos. Isto ocorreu na antiguidade com o Egito, a Grécia e sobretudo com Roma, que chegou a dominar praticamente todo o mundo conhecido.

Mais recentemente, houve períodos de domínio da Espanha, com sua Armada Invencível, da França, com o Iluminismo, e da Inglaterra, com sua Revolução Industrial, até chegarmos aos Estados Unidos da América, a nação mais poderosa do planeta há mais de 50 anos. Quebrar, ou pelo menos estender, este período é um desafio que está sendo enfrentado pelo país e, certamente, estará presente na vida dos norte-americanos.

Entender este processo, e dele participar de forma inteligente e pragmática, será um fator determinante na vida e no futuro dos Brazilian Americans, este grupo formidável, criativo, trabalhador e naturalmente ambicioso, de que fazemos parte.

Certamente a China, se superados seus imensos problemas e inconsistências internas, deverá ser o grande rival à hegemonia norte-americana. Após ter ultrapassado o Japão, outra potência asiática que enfrenta uma situação desconfortável e preocupante, ultimamente exacerbada com a tragédia que ocorreu na costa norte do país, assolada que foi por um forte terremoto e tsunami, seguido pelo vazamento nuclear provocado pelo alagamento de alguns reatores nucleares, prepara-se a China à corrida em busca da liderança mundial.

Maior credora da dívida pública norte-americana, a China, porém, não é a única que vem acelerando em direção ao desenvolvimento e à melhoria do padrão de vida de seus cidadãos. Índia, Brasil, Indonésia, Rússia e outros emergentes também vêm crescendo a taxas invejáveis em comparação aos países ricos.

Em um estudo sobre o acompanhamento econômico global, realizado pela Associated Press (AP), ficou evidente a diferença entre os dois blocos. Enquanto o mundo desenvolvido ainda pena com as consequências da crise econômica de 2008 e 2009 ? a pior desde a quebra da Bolsa de New York em 1929 -, os emergentes passaram com menos sofrimento pela crise.

Crescimento interno

A grande vantagem dos países em desenvolvimento é o próprio mercado interno. Países populosos, eles estão beneficiando-se do próprio crescimento interno. Ou seja, estão tirando milhões de pessoas da pobreza e levando-as para a classe média gerando, assim, uma grande e nova classe de consumidores para produtos e serviços.

Segundo os dados coletados pelo Banco Mundial, os países que integram o mundo em desenvolvimento foram responsáveis por 18% da fatia do resultado total da economia global em 1980. Trinta anos depois, este percentual subiu para 26% e a tendência é a de que esta participação seja cada vez maior.

O estudo da AP confirmou o rápido ritmo de crescimento dos emergentes em comparação aos países desenvolvidos, com China, Índia e Indonésia liderando, enquanto os de crescimento mais lento situam-se na Europa: Espanha, Itália e Inglaterra. Para piorar, os países que formam a União Europeia apresentam o índice de 9,6% de desemprego (com a Espanha como destaque negativo, com cerca de 20% de desemprego) e 9,4% nos Estados Unidos. Em contraste, a taxa de desemprego no Brasil é de 5,3%.

E os empregos estão acompanhando o processo, ou seja, criam-se mais vagas nos países em desenvolvimento do que nos países ricos. Entretanto, nem tudo são flores. O Brasil inclusive já vem sofrendo com a falta de profissionais qualificados para preencher os postos de trabalho oferecidos pelos empregadores, o que tem incentivado a ida de estrangeiros para ocupar estas posições, ao mesmo tempo em que se faz necessário um investimento mais significativo em educação, formação, treinamento e reeducação dos brasileiros, sobretudo daqueles que carecem de especialização. Até porque, se nada for feito, eles, os donos da casa, serão expelidos do mercado de
trabalho uma vez que a tecnologia vem criando condições para substituir com vantagem a mão-de-obra desqualificada. Profissões como frentista de posto de combustível, cobrador de ônibus, ascensoristas e outras já foram extintas nos países ricos, mas continuam existindo no Brasil como uma espécie de colchão social. Os cortadores de cana, por exemplo, poderiam perfeitamente ser substituídos por modernas colheitadeiras, mas as consequências sociais desta mudança seriam desastrosas para o país.

Efeito negativo

Outro efeito negativo é o ressurgimento de uma velha conhecida dos brasileiros, a inflação, que já começa a rugir nos países em desenvolvimento. Na China, gira em torno de 5%, enquanto na Índia chega a 9% e na Argentina já está em 11%. O governo brasileiro continua negando problemas com a inflação, mas os analistas confirmam que o fantasma inflacionário voltou a rondar a economia brasileira.

A alta taxa de juros, que reflete os riscos de mercado, continuam como mais um fator de atratividade dos emergentes. E os investidores disto sabem e aceitam o jogo, pelo menos enquanto nos países mais desenvolvidos as taxas de retornos continuem baixas. Em vez de ficarem com o dinheiro parado nos EUA sendo remunerados a uma taxa de 0,15%, eles migram para Tailândia ou Brasil, onde as taxas de juros atingem 11,25%. Apesar dos riscos, o Brasil hoje ainda oferece estabilidade, com um mercado acionário ativo e politicamente democrático, ao contrário, por exemplo, da Rússia e sobretudo da China, que ainda se configura uma ditadura rígida. Mesmo a Índia, considerada a maior democracia do mundo, controla severamente seus bancos.

Moeda chinesa subvalorizada

E o embate entre os integrantes dos dois blocos também está acontecendo no campo da valorização das moedas. O yuan, a moeda chinesa, continua subvalorizada em comparação com as principais moedas, um artifício para continuar a impulsionar as exportações, o motor propulsor de arrecadação de receitas para as empresas chinesas. E o consequente aumento da produção e do consumo gera a compra de commodities, algo que tem favorecido a pauta de exportações do Brasil.

Assim, sabendo carrear à produção sua mão de obra qualificada, mais a grande produção de commodities e o avançado parque industrial, o Brasil pode aproveitar este momento para se tornar um fornecedor de bens acabados de consumo com aceitação mundial. Sem dúvida, este é o passaporte para o Primeiro Mundo. Temos tudo, só falta conseguir o visto de entrada neste grupo.

Luigi Pardalese é presidente do Instituto Pardalese, Flórida, USA