Muro para conter imigrantes gera polêmica dentro e fora dos EUA

Por Gazeta Admininstrator

Não se trata do muro de Berlim nem da grande muralha da China, mas a possível construção de um muro em vários pontos da fronteira dos Estados com o México vem causando polêmica entre grupos favoráveis e contrários à entrada de imigrantes ao país mais rico do mundo.

A construção do muro é parte de uma medida aprovada pela Câmara de Representantes em Washington em 16 de dezembro, e que precisa ser ratificada pelo Senado para que se transforme em lei.

Para uns, o muro é símbolo de segurança e proteção, criando uma espécie de fortaleza contra possíveis atos terroristas. Para outros, é parte de uma onda xenófoba que apenas deslocará os imigrantes clandestinos para partes inóspitas da fronteira.

"Ao longo da história, foram construídos muros e barreiras com o pretexto de deter os invasores. Neste caso, o muro é uma barreira fútil, literal e suposta dos EUA a um diálogo construtivo com o México sobre um problema comum", disse à EFE David Carrasco, historiador da Universidade Harvard.

"As muralhas necessitam de vigilância armada para funcionar e terminam sendo um ímã de violência. Este muro não vai frear a intervenção dos EUA no continente (...) e reflete o fracasso do país em enfrentar as mudanças demográficas", acrescentou o especialista.
Mas os conservadores elogiam a idéia, proposta pelo republicano James Sensenbrenner, por considerarem que os EUA, que recebe meio milhão de imigrantes a cada ano, devem interromper uma tendência "insustentável".

O muro, por enquanto apenas no papel, já foi rejeitado por grupos civis de proteção aos imigrantes, empresários, ecologistas e defensores dos direitos humanos, que argumentam que só irá gerar mais mortes.

Em 2005, 441 pessoas morreram em sua odisséia rumo ao norte, em sua maioria mexicanos e centro-americanos, segundo números oficiais dos EUA, inferiores aos dos outros países envolvidos.

A idéia do muro se insere no debate político sobre como frear a imigração ilegal, mas gera debates entre os próprios americanos: o complexo mosaico inclui pequenos mas ativos grupos que vêem em cada imigrante um possível terrorista e pedem sua expulsão, e aqueles que enumeram suas contribuições e pedem por sua legalização.

A lista de queixas é longa: os imigrantes ilegais são uma carga para o Estado, contribuem para lotar escolas e moradias, aumentam a criminalidade e congestionam o trânsito, deslocam os trabalhadores americanos e causam a deterioração das vizinhanças.

Para outros, a imigração ilegal é produto do subdesenvolvimento, das desigualdades sociais e da escassez de oportunidades em seus países de origem. Os imigrantes contribuem com a economia nacional através do pagamento de impostos e a compra de bens e serviços, argumentam grupos como o Fórum Nacional de Imigração (NIF, na sigla em inglês).
"O muro responde apenas a um sintoma de um problema muito maior, que é o fracasso de nosso sistema de imigração. O que necessitamos é uma reforma migratória integral que leve em conta a realidade econômica dos EUA", disse à EFE Christina DeConcini, analista do NIF.

Se os imigrantes clandestinos são parias ou uma influência positiva, depende do ângulo pelo qual sejam vistos. O certo é que, fartos da aparente passividade do Governo federal contra a imigração ilegal, municípios e Governos estaduais ensaiam suas próprias soluções.

A Prefeitura de Manassas (Virginia) pensa em retirar uma medida que começou a aplicar no mês passado no sentido de alterar a definição de família e restringir o número e o tipo de pessoas que poderiam viver sob um mesmo teto.

Sem permissão judicial, inspetores da cidade iam de casa em casa - em particular nos lares hispânicos - para obrigar o despejo de tios, primos e sobrinhos.

No ano passado, os Governos do Novo México e do Arizona - dois dos estados que mais registram imigração ilegal - declararam estado de emergência, ressentidos com Washington por ter lhes dado as costas em relação às despesas públicas decorrentes da presença de imigrantes na zona fronteiriça.

A proposta do muro causou grande mal-estar ao sul do Rio Bravo, e embora muitos concordem que todo país tem direito a resguardar suas fronteiras, poucos acham que, diante dos engenhosos planos que os terroristas costumam engendrar, a solução esteja escondida entre tijolos de concreto.