Muros, cercas e o tráfico ilegal de pessoas para os Estados Unidos

Por Arlaine Castro

A mando do presidente Donald Trump, em três dias, pelo menos 100 soldados do exército americano desenrolaram carretéis de arame farpado no chão formando uma cerca em Laredo, cidade na fronteira com o México, dominada por um trecho do Rio Grande. O local é um dos pontos mais usados pelos traficantes de pessoas para atravessar imigrantes ilegalmente para os Estados Unidos. Além da cerca, o muro que o presidente tanto quer construir também já vai saindo do papel. Sua construção começa em fevereiro de 2019 e na mesma parte onde foi instalada a cerca: no Vale do Rio Grande, onde fica a estação do U.S. Customs and Border Patrol (CBP) em McAllen, no Texas. A empresa também aumentará a altura das cercas existentes, segundo o CBP. Claro que, do ponto de vista lógico, uma barreira física complica e até impede a passagem ilegal de um território a outro. Mas afinal, muros e cercas vão parar o tráfico ilegal de pessoas para os EUA? Máfia O tráfico de pessoas pode ser comparado a uma espécie de máfia que movimenta bilhões de dólares por ano em todo o mundo e atinge milhões de pessoas. Muitas delas são forçadas a trabalhos escravos e sexuais. Em um artigo sobre o tráfico internacional de pessoas, o advogado Benigno Nuñez Novo, que escreve sobre Direito Internacional Público no site Jus.com, aponta que o tráfico humano deu mais de 31,6 bilhões de dólares do comércio internacional por ano em 2015 e é pensado para ser uma das atividades de maior crescimento das organizações criminosas transnacionais. “O tráfico de pessoas é condenado como uma violação dos direitos humanos por convenções internacionais e está sujeito a uma diretiva da União Europeia”, cita Novo. Em dezembro de 2017, representantes das forças policiais de 33 países da região das Américas firmaram uma declaração contra o tráfico humano durante uma conferência organizada pelo México e com o apoio do Escritório da ONU sobre Drogas e Crime, Unodc. Como finalidade do tráfico, o Unodc calcula que no mundo todo, 79% das vítimas de tráfico humano são exploradas sexualmente, enquanto 18% dos traficados são utilizados para trabalho escravo. O “tráfico de pessoas” é definido na legislação internacional como o recrutamento, transporte, transferência, alojamento ou acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou outras formas de coação, ao rapto, fraude, engano, abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração, descreve o artigo do site Jus.com. Mas, além das barreiras físicas como muros e cercas, têm aumentado as leis e os discursos contra a imigração ilegal. Correto analisando a política interna, mas que traz um outro ponto de vista sobre a questão: o aumento de trabalho forçado por aqueles que vivem às sombras no país. “As políticas que levam os migrantes a viver e a trabalhar na sombra, tornando-se a presa ideal para empregadores abusivos”, afirmou a professora da Universidade de Georgetown à agência Reuters em 2017.