Na questão dos vistos, money talks! - Opinião

Por Carlos Borges

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Quem diria…não passa um dia sequer que não seja publicado nas principais mídias norte-americanas da Flórida e New York , uma matéria “extremamente simpática” a uma mudança rápida nas políticas de concessões de vistos para brasileiros nos Estados Unidos.

A inclusão dos brasileiros no grupo de países cujos cidadãos não precisam de vistos antecipados de entrada para viajar para os Estados Unidos, é agora uma intensa reivindicação de poderosos grupos lobistas norte-americanos. Não se trata, é óbvio, de nenhuma “descoberta mágica” do quanto simpáticos e maravilhosos nós somos. Nada disso. Flórida e Nova York, com suas economias combalidas por uma recessão que só agora está timidamente saindo do buraco, têm no turismo uma de suas maiores fontes de receita.

E os alegres e gastadores brasileiros estão se tornando, literalmente, a”salvação da lavoura”.

Esse já foi assunto de editorial anterior. Mas não tem como não retornar ao tema, visto que a avalanche de reportagens, desde jornais segmentados das áreas de negócios e turismo, a editorias e reportagens de veículos poderosos como o “The New York Time”, “The Miami Herald” e “Washington Post”, impõem ao assunto uma tarja de “urgência urgentíssima”. Claro: ‘hay dinero? Soy a favor.’

Visto pelo ângulo do Brasil, a entrada no grupo dos países que se beneficiam do “visa waiver program” pode ser benéfico para os dois países. Mas seguirá sendo mais benéfico econômicamente para os norte-americanos, porque o volume de brasileiros interessados em visitar os Estados Unidos seguirá sendo por muito tempo muito superior ao sentido contrário.

E as razões são muitas. Ao começar pelo apelo turístico que cidades como Miami, Orlando, New York, Las Vegas, San Francisco e Los Angeles – só para citar seis delas – exercem sobre o viajante brasileiro. Dois milhões de brasileiros visitaram os Estados Unidos em 2011. A expectativa é de que, mesmo com as dificuldades e demora na obtenção de vistos nos parcos quatro consulados existentes no Brasil, é de que esse número cresca 30% em 2012.

As autoridades do turismo, tanto de Nova York quanto de Miami e Orlando, apostam em algo muito maior, caso o Brasil seja incluído no “visa waiver”. Apostam que esse número crescerá 50%, indo a três milhões de visitantes já em 2012.

Uma cifra nada desprezível, se lembrarmos que cada brasileiro que viaja para os Estados Unidos, gasta, em média, $5 mil dólares. Estamos falando de $15 bilhões de dólares, algo assim como 25% de toda a receita gerada pelo comércio entre os dois países, no ano de 2011.

Certamente, o número de norte-americanos que visitam o Brasil tem crescido geometricamente. As dezenas de voos que atualmente ligam nove cidades norte-americanas a sete cidades do Brasil, apresentam atualmente um percentual de não-brasileiros que se aproxima dos 35%. Entretanto, os 65% seguem sendo brasileiros do Brasil ou residentes nos Estados Unidos. Essa é uma estatística restrita a companhias norte-americanas.

As mesmas estatísticas revelam que o interesse dos norte-americanos pelo turismo no Brasil tem crescido de forma espetacular. Até 2004, apenas dois em cada 10 norte-americanos que viajavam ao Brasil, o faziam por lazer e turismo. Sete viajavam a negócios. Em 2011, essa proporção foi de quatro para seis, ou seja, um crescimento de 100% em anos.

Mas em números absolutos, ainda há uma enorme desvantagem. Enquanto os tais dois milhões de brasileiros vieram se divertir e gastar dólares por aqui, menos de 300 mil norte-americanos fizeram o mesmo no Brasil.

A possibilidade de que esse “jogo” rume para um “empate” ainda é remota.

O turista norte-americano ainda é majoritariamente “guiado” por fatores puramente econômicos. O que 90% dos turistas americanos procuram quando a opção é “tropical”, são praias, hotéis baratos (mas com ar condicionado que funcione) e evitam ao máximo voos muito longos. Nesse aspecto, o Brasil segue sendo uma opção muito mais cara do que o Caribe.

Sim, existe um crescimento palpável do turismo ecológico e do turismo cultural, que favorece enormemente destinos como Manaus, Foz do Iguaçu, Salvador, Lençóis e outros pontos específicos do país. Mas falta ao Brasil um trabalho de promoção consistente, inteligente e mercadologicamente afinado, da enorme diversidade turística do país e do quanto nossas atrações são únicas e excepcionais para o visitante norte-americano.

Típicamente mais “culturais” dos que os americanos, os europeus seguem enviando mais turistas ao Brasil do que os Estados Unidos. Mas a balança está pendendo cada vez mais a favor de um “empate” e, com certeza, a eliminação da exigência de vistos para os norte-americanos entrarem no Brasil, vai fazer com que muitos mais norte-americanos “descubram” um Brasil que vai além do rótulo de “sexta economia do mundo”.