Não deixe seu bebê chorando - Pais & Filhos

Por Adriana Tanese Nogueira

Por que os bebês choram? Eles choram quando têm um mal-estar: sono, medo, fome, frio, calor… Não só: choram também pela falta de contato físico com sua mãe ou outras pessoas do seu entorno afetivo.

O choro é o único mecanismo que os lactentes têm para se comunicar. Nas suas expectativas – filogenéticas, ou seja no seu DNA - não está previsto que este choro seja desconsiderado. E isso pela simples razão que não há outro meio de avisar sobre o mal-estar que sentem e são pequenos demais para resolvê-lo por conta própria.

O corpo do recém-nascido está desenhado para ter o seio materno tanto quanto necessita, para sobreviver e para sentir-se bem: alimento, calor, apego. O bebê criado no corpo a corpo com a mãe desconhece a sensação de necessidade, de fome, de frio, de solidão, e não chora “normalmente”. Como afirma Jean Liedloff, na sua obra The Continuum Concept, o lugar do bebê não é no berço, na cama, e nem no bebê-conforto, senão no colo materno.

A verdade é óbvia, simples e evidente. Quando chora e não é atendido, o bebê chora com mais e mais desespero porque está sofrendo. Há psicólogos que asseguram que quando se deixa de atender o choro de um bebê depois de três minutos, algo profundo se quebra na integridade dele, assim como na confiança em seu entorno. Infelizmente, há pais que acreditam que “é normal que os bebês chorem”, e que “há que deixá-los chorar para que se acostumem”. A verdade é estão insensibilizados para que seu pranto não os afete. Mas, se ficarmos perto deles e sentirmos se;u desespero, seremos incapazes de consentir com a sua dor. Não estamos de todo desumanizados.

Vários pesquisadores americanos e canadenses realizaram diferentes investigações de grande importância em relação a etapa primal da vida humana e demonstraram que o contato pele a pele produz moduladores químicos necessários para a formação de neurônios e do sistema imunológico. Isso significa que a carência de afeto corporal transtorna o desenvolvimento normal das criaturas humanas.  No Ocidente se criou, nos últimos 50 anos, uma cultura (impulsionada pelas multinacionais) que desumaniza o cuidado: ao substituir a pele pelo plástico e o leite materno por um leite artificial, separa-se mais e mais a criatura de sua mãe. Simultaneamente, se medicaliza cada vez mais a maternidade: as mulheres adormecem a sensibilidade e o contato com seus corpos, e se perde uma parte de sua sexualidade: o prazer da gestação, do parto e da extero-gestação – o colo e a amamentação. Paralelamente, as mulheres decidiram pelo mundo do trabalho feito pelos homens e para os homens e que, portanto, exclui a maternidade.

A curto prazo, parece que o modelo de criação robotizado não é daninho, que as crianças sobreviverão. Porém, pesquisadores como Dr. Michel Odent (primal-health.org) têm demonstrado a relação direta entre diferentes aspectos desta robotização e doenças na idade adulta. Por outro lado, a violência crescente em todos os âmbitos, tanto públicos como privados (ver Alice Miller (1980) e James W. Prescott (1975)) também procede do mau-trato e da falta de prazer corporal na primeira etapa da vida humana. Há estudos que demonstram a correlação entre dependência das drogas e transtornos mentais com agressões e abandonos sofridos na etapa primal.

Deveríamos sentir um profundo respeito e reconhecimento pelo choro dos bebês e pensar humildemente que não choram porque são “manhosos”. Ao contrário, eles estão nos ensinando a seremos melhores mães e pais. Quando um recém-nascido aprende em um berçário que é inútil gritar, está sofrendo sua primeira experiência de submissão e abandono. (Michel Odent)