?Não está fácil?, diz membro do CRBE no Japão

Por Gazeta Admininstrator

Marisa Arruda Barbosa

Parece que os intervalos entre uma catástrofe natural e outra estão cada vez mais curtos no último ano. O desespero, a destruição e o caos que o Japão enfrenta com o terremoto de 9 graus na Escala Richter e o tsunami, além do vazamento de energia nuclear, que tem assolado o país desde o dia 11, foram vistos também no terremoto no Haiti, no Chile e também com as chuvas na Região Serrana do Rio de Janeiro.

A tecnologia faz com que as notícias cheguem em tempo real pelo Twitter. Enquanto escrevemos a matéria, mensagens dizem: “Tenso! Os tremores continuam...” e uma hora antes, no dia 16: “Tremeu, heim!”

A tensão ainda é grande, e fontes informam que houve mais de 200 tremores depois do terremoto. Enquanto isso, o mundo aplaude a forma como os japoneses estão enfrentando a crise humanitária, ao contrário dos países ocidentais. Até o momento, nenhum episódio de saque ou briga foi registrado no país.

Ao mesmo tempo que os japoneses lidam “bem” com a crise, como estão os 267.456 brasileiros que vivem no Japão?

Carlos Shinoda, presidente do Conselho de Representantes dos Brasileiros no Exterior (CRBE) e um dos representantes da comunidade brasileira no Japão, contou ao Gazeta, por telefone, que a situação ainda é bastante difícil, mesmo vivendo a 4 mil km de distância das cidades mais afetadas pelo terromoto, em Nagoya.

“Não está fácil”, conta Shinoda, que ficou em alerta com o tremor de 6.4 graus na Escala Richter ocorrido na noite do dia 15, na cidade de Fujinomiya. Ele conta que sentiu os tremores, mas não houve vítimas e nenhum grande estrago.

Os sobreviventes sofrem com racionamento de energia, alimentos e água e com a falta de comunicação, medicamentos e cobertor. A maioria das rodovias e ferrovias estão bloqueadas, e ainda neva e chove nas regiões atingidas, dificultando ainda mais o acesso das equipes de resgate.
“Onde tem comida, as pessoas compram tudo para estocar”, conta. “E os ônibus, único meio de transporte ainda disponível, estão saindo lotados das áreas afetadas”.

As famílias estão vivendo em abrigos e é difícil dormir com os tremores. “Fora a falta de suprimentos, o mais difícil é a parte emocional”, conta. “O brasileiro não tem preparo para viver com isso”.

Shinoda é diretor do Colégio Brasil-Japão, que tem cursos de ensino fundamental e supletivo, reconhecido pelo MEC no Brasil, com um total de 73 alunos – sendo 31 crianças e o restante adultos.

Sua escola fica localizada debaixo de um viaduto, sobre o qual passaria um trem cuja construção foi interrompida anos atrás. Por esse motivo, a escola se tornou um local seguro onde funcionários têm estocado suplementos em caso de necessidade.

Shinoda recebe telefonemas regularmente, e orienta pais e alunos sobre precauções em caso de emergência. Ele recebe constantemente treinamentos da prefeitura local e informa operações a pais, como quem levará crianças a abrigos, caso necessário.

Mesmo que isso aproxime brasileiros dessa cultura japonesa, ainda fica difícil manter a calma. Um pai o ligou um desses dias à noite e perguntou se era o caso de dormir de sapatos e mochila nas costas com o básico, caso precise sair correndo no meio da noite.

Brasileiros

De acordo com últimas notícias até o fechamento desta edição, uma missão resgatou 26 brasileiros, quatro japoneses, seis bengaleses e um nepalês de áreas afetadas pelo terremoto e tsunami e deve voltar para as regiões de Sendai e Fukushima para buscar cerca de 15 brasileiros que não puderam ser trazidos ou localizados, informaram o cônsul brasileiro no Japão, Antonio Carlos Coelho da Rocha, e o empresário que comandou a operação, Walter Saito.

Shinoda diz que as áreas mais afetadas pelo terremoto e tsunami, no nordeste do Japão, têm pouca concentração de brasileiros, de acordo com o Japan Immigration Association. “Os brasileiros não vivem perto do mar por uma questão de trabalho”, informa.

Ações

Existem três consulados brasileiros no Japão, com os quais membros do CRBE têm mantido interação para monitorar a situação e trocado informações com a Network Nacional dos Brasileiros no Japão (NNBJ) e outras entidades brasileiras.

Vários voluntários brasileiros aguardam permissão para ir às regiões afetadas, segundo Shinoda, incluindo médicos e psicólogos que pretendem ajudar na parte emocional. “Não dá para ir sem autorização”, conta. “As autoridades pedem calma e temos que organizar uma logística”.

“Temos várias entidades brasileiras do Japão participando do movimento de solidariedade arrecadando alimentos e cobertores”, disse. “Me coloquei à disposição, mas preciso de autorização”.

A embaixada brasileira ficou de plantão para acompanhar os desdobramentos depois do terremoto. “A natureza está sempre fazendo provocações”, disse. “Temos que orar para superar e enfrentar isso tudo”.

Total de brasileiros residentes nas províncias próximas do litoral norte, ou seja, onde ocorreu o terremoto e o tsunami: (Fonte: Japan Immigration Association)

• Aomori - 32
• Iwate - 175
• Miyagi - 187
• Fukushima - 383 (centro da crise nuclear, onde fica a usina de Daiichi, onde foram registradas explosões nos últimos dias).

Províncias com maior concentração de brasileiros:

• Ibaragi - 10.200
• Chiba - 6.004
• Tokyo - 4.439
• Aichi - 67.162
• Shizuoka - 42.625
• Gunma - 15.324
• Mie - 18.667
• Gifu - 17.078
• Gunnma - 15.324
• Kanagawa - 13.091

Total de 267.456 brasileiros residentes no Japão.

Total de mortos de acordo com a polícia central (até dia 16).

Mortos: 4.314
Feridos: 2.282

• Fukushima - 511
• Iwate - 1.391
• Miyagi - 2.207
• Ibaragi - 19
• Chiba - 16

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