“Parole, parole”... Não se deixe enredar pelas palavras

Por Adriana Tanese Nogueira

Uma famosíssima música italiana, cantada por Mina, chamava-se “Parole, parole” (“Palavras, palavras”): o amante canta palavras de amor às quais a cantora, Mina, responde, “palavras, palavras, palavras somente palavras... palavras de amor”. Lembrei dessa música porque outro dia minha mãe veio me contar sobre a sua faxineira. A moça trabalha para ela, quinzenalmente, há 7 anos. Sempre lhe pareceu uma boa pessoa. Todas as vezes que ela ia limpar, minha mãe preparava um almoço especial, escutava os problemas dela, dava-lhe conselho, trazia presentes quando viajava e doava-lhe roupas e utensílios. Enfim, ótimo tratamento. Acontece que já tem um bom tempo que a moça começou a desmarcar a faxina, geralmente em cima da hora, e passar para a semana seguinte. Havia sempre algo acontecendo – que minha mãe compreendia e relevava. E aguardava, ou ela mesma limpava, caso estivesse para receber visitas ou a casa estava precisando urgente de uma faxina. Até que o outro dia, minha mãe com a mão enfaixada, recebeu mais uma mensagem de texto da moça que disse estar indo ao hospital levar a prima grávida... Minha mãe se cansou e quer mudar de faxineira. Trocou umas mensagens com a moça a qual se desculpou e explicou a situação, disse que não é nada do que minha mãe pensa, foi isso e foi aquilo... Minha mãe foi ficando um pouco confusa, talvez com um pouco de sentimento de culpa, afinal a moça precisa de trabalho... Esta mandando-lhe “beijo no coração” e um “gosto muito da senhora”...

Mamãe já dizia:não se deixe enredar pelas palavras!

Minha mãe busca minha orientação e esta foi a seguinte: não se deixe enredar pelas palavras! As pessoas falam muita coisa que não conseguem sustentar – mesmo quando desejam ser sinceras. E isso porque as pessoas geralmente não têm controle sobre si próprias, praticamente não sabem o que fazem. Isso significa que, mesmo querendo, muita gente simplesmente não consegue ser confiável. Quando encontram alguém muito bom, disponível, compreensível e não ameaçador, muita gente tende a relaxar... e a se aproveitar. O fato de não haver consequências leva uma pessoa que não tem autogoverno a se acomodar. E, assim, a dar espaço àquelas tendências, tentações e molezas que não teriam se tivessem que prestar conta do que fazem e por que fazem. Quando as pessoas são imaturas, elas precisam ser cobradas e controladas porque sozinha não conseguem manter as promessas que elas mesmas fazem, não conseguem se comportar em sintonia com seus próprios sentimentos. Não têm autogoverno, por isso acabam por ceder, demorar, postergar. Não conseguem manter as prioridades, a seriedade e os compromissos. De última hora, outros interesses têm a melhor e extraviam os propósitos (mesmo positivos) da pessoa. Ou seja, repito: a pessoa não tem controle sobre si mesma.

Falta de disciplina

Esta é uma expressão da falta de disciplina. Que também é falta de seriedade. Vocês podem observar que tem um tipo de pessoas que toda vez que recebe um tratamento muito favorável tendem a se aproveitar da situação. Não precisa ter maldade para fazer isso, basta ser imaturos. Há pessoas que não se dão conta do que fazem. Não percebem a incongruência entre suas palavras e intenções e suas ações. E, infelizmente, para completar, elas têm uma enorme dificuldade em reconhecer essa incongruência. E como é da cultura brasileira negam o erro até a morte – logo não podem amadurecer e superar o impasse. No lugar de reconhecer a contradição interna, tentam mascará-la com palavras a fim apagar as conclusões às quais o seu comportamento leva. Elas tentam reconquistar a confiança perdida na base de palavras no lugar de mudar seu comportamento. E crescer.