Parto: Nascer mãe

Por Adriana Tanese Nogueira

O parto é o nascimento não só de um bebê mas também de uma mãe. Nem sempre a mulher está pronta. Então, o parto se torna o momento da concepção de uma mãe que um dia vai nascer. Segue o relato de Fabiana Cainé Alves da Graça que foi minha aluna nos cursos EAD do Instituto Ser e Saber Conscientes e com quem conversei por algum tempo. A sua é a história de uma mulher que se superou e se transformou: “Me pari hoje. Dois anos depois”.

“Amanhã Marina faz dois anos de vida. ... Há dois anos atrás eu tinha meu primeiro rompimento de bolsa... não conhecia nada sobre parto. ... Há alguns dias tenho revivido todas as sensações dos dias que antecederam o parto da Marina. Há dois anos tenho dificuldade em entender como tudo aconteceu. Hoje tudo foi esclarecido.

Resolvi passar o dia lendo sobre casas de parto, relatos de parto. Fui fazendo a releitura do meu. Das minhas escolhas, das coisas que não pude escolher, daquilo que realmente eu queria e entendi, finalmente, que  fiz o que pude dentro do conhecimento que tive, mas não só isso, dentro do que minha cabeça permitia.

A Adriana Tanese Nogueira (Amigas do Parto) falava muito sobre isso nas minhas dúvidas sobre não ter dilatação. Entendia na teoria, mas na prática ainda não tinha resolvido esta questão. Entendi hoje que eu não estava preparada para parir. Eu não estava preparada para um filho. Eu era outra pessoa, muito diferente da que sou hoje.

Nesses dois anos, muita coisa mudou, fui transformada pela Marina, pela maternidade. Pelos cursos que fiz. De aleitamento, de educadora perinatal, de doula pós-parto e pelas mais de 100 mães que já atendi e pelas mais de 60 mil visitas ao meu blog. Depois de lutar com unhas e dentes pelo direito de amamentar e ser amamentado. Depois de centenas de litros de leite que produzi. Depois de centenas de fios brancos que apareceram. Depois de muitas conversas e ouvidos em grupos de mães... Hoje tudo se esclareceu. E eu fui ficando mais leve.

Ao longo do dia, fui ao banheiro muitas vezes. Quase não fiz nada hoje no trabalho. Estava em outra dimensão... como se estivesse entorpecida. Peguei Marina na escola e fomos para casa. Não fiz janta, fiz um bolo. Não faço bolos. Não sei fazer. Deu certo.

Tomei um banho como há muito tempo não tomava, me sentia fortalecida, embora muito cansada com tantos pensamentos.

Marina brincou comigo e eu senti uma sensação de dever cumprido com ela. A amamentação me permitiu gestar Marina até que estivéssemos prontas.

Uma dor lombar me pegou de jeito e eu resolvi não me medicar. Fiz exercícios, alonguei, fui ao banheiro, agachei, levantei, rolei com Marina no chão.

Na hora de dormir, senti que eu deveria amamentar Marina como deveríamos estar a dois anos atrás. Sem roupa. Peguei um cobertor e Marina se aninhou como nunca havia se aninhado antes, procurou o peito como nunca havia procurado antes e mamou, mamou, mamou e dormiu, suada, como há muito não suava e eu senti um alívio na região lombar e tirei o peso da minha pélvis. Eu me sentia mais leve.

Me pari hoje. Hoje pari Marina de parto natural, sem intervenções, sozinha, sem medicamentos. Marina hoje mamou na primeira hora do parto. O melhor leite que ela podia ter recebido em sua primeira hora de vida.

Não ter dilatação é o mesmo que não ter leite. Não existe. O leite não sai quando não estamos abertas à ocitocina, o mesmo ocorre com nosso útero.  O bebê só sai se estivermos preparadas, abertas. Não existem culpados. Eu não estava pronta. A transformação não é fácil e eu me transformei pela amamentação”.