Negócios à venda estão mais baratos na Flórida

Por Gazeta Admininstrator

Por: Letícia Kfuri

Além de todas as razões costumeiras para uma pequena empresa ser colocada à venda - como problemas pessoais e desentendimentos na sociedade -, é preciso acrescentar, este ano, os problemas econômicos pelos quais passa o País. E, com o aumento do número de empresas à venda em todas as regiões, também aumenta o interesse dos compradores.

“Quando a conjuntura econômica se agrava e as pessoas não conseguem encontrar um emprego, elas procuram comprar um emprego”, disse Ronald W. Hottes, presidente da Business Team, uma corretora de Torrance, na Califórnia

No entanto, o problema para os proprietários que querem vender seus empreendimentos é a queda dos preços - como reflexo de uma variedade de causas, entre elas o aperto dos mercados de crédito, a elevação dos custos e a redução do número de clientes.

O maior site de venda de empresas, bizbuysell.com, oferece, hoje, 50 mil pequenas empresas - em comparação com 43 mil no mesmo período do ano passado, disse Michael K. Handelsman, gerente-geral do site.

De acordo com o site, existem, atualmente, 188 negócios na categoria de restaurantes à venda no condado de Broward. Entre as ofertas estão, por exemplo, uma franquia da rede Quiznos, em Pompano Beach, por $150 mil, com 1/3 financiado pelo proprietário, uma franquia de fast food, por $24 mil.

Estão também à venda, o Busy Bagel Place, em Plantation, por $54 mil, o Latin Cafe, em Coral Springs, por $87 mil e um restaurante, em Del Ray Beach, por $45 mil. Em Gaithersburg, Maryland, a mill3nnium.com informou que o número de empresas à venda em seu site também cresceu. O site concentra-se na região metropolitana de Washington, e um dos motivos desse aumento foi o declínio do número de clientes. Entre essas empresas estão lojas de delicatessen, tinturarias, lojas de “um dólar” e postos de gasolina. “Temos de 80 a 100 empresas, o dobro do número que tínhamos no ano passado”, disse o proprietário do site, Moses A. Zuniga.

Vários corretores afirmam que os compradores são, em geral, pessoas que estão se aposentando e procuram uma nova atividade, ou executivos que foram demitidos em busca de uma empresa para dirigir.

A aposentadoria, uma doença, o divórcio, um falecimento - ou o simples cansaço - ainda levam a maioria dos proprietários a vender. Mas, na economia conturbada dos dias atuais, algumas empresas outrora sólidas agora enfrentam maus momentos. Os proprietários concluem que não poderão esperar por tempos melhores, e vendem por um preço menor.

A business broker Rosana Santos, ex-tesoureira da Florida Business Broker Association e, hoje, proprietária da empresa de catering Big Chef, em Hollywood., ressalta que este é o momento para quem pretende comprar um negócio, e dá as dicas básicas para uma boa negociação. “Para o negócio estar sólido tem que ter tempo de mercado, estar no local certo e ter um produto viável. Na situação em que está o mercado imobiliário, quem compra quer algo que dê certa liquidez”, comenta.

Ela explica que existem duas maneiras de fazer a negociação: transferindo a corporação ou os assets (o ponto). “Cada um tem suas vantagens e desvantagens. Outro ponto a ser observado é se a compra será efetuada com dinheiro próprio ou com empréstimo”, acrescenta Santos.

Cress S. Diglio Sr., presidente da Corporate Investment International, sediada em Orlando, disse que “este ano, o número de vendedores superará facilmente o de compradores qualificados”. Um dos motivos é que um instrumento de financiamento crucial para as pequenas empresas, as linhas de crédito do tipo “home equity” (em que o imóvel é dado como garantia do empréstimo), secou por causa da queda do valor dos imóveis residenciais.

Tradicionalmente, as pequenas empresas já encontravam dificuldade para obter crédito, e a situação está se agravando. “Um ano atrás, as pessoas usavam empréstimos garantidos pelo imóvel”, disse Hottes. “Ago-ra, elas estão recorrendo aos seus planos de pensão.”

Já Santos observa que, caso o comprador opte por um financiamento bancário com o auxílio da Small Business Administration (SBA), o interessado poderá arcar com 10% do investimento, com garantia de 90% oferecida pela SBA. Para que isso ocorra, no entanto, explica a especialista, são levados em consideração aspectos como experiência suficiente do interessado em gerenciamento de negócios ou formação acadêmica que, eventualmente, compense a falta de experiência. “O fato de cozinhar bem não quer dizer que uma pessoa tenha capacidade para gerir um restaurante. Por outro lado, a pessoa pode não ter trabalhado no ramo, anteriormente, mas ter, por exemplo, um MBA na área”, detalha Santos.

Os tipos de financiamentos disponíveis, explica ela, são o Express, para pequenas empresas, 7-A, para médias empresas e 504, que inclui a compra do negócio, do imóvel e das melhorias. Santos alerta, no entanto, que, para contar com tais financiamentos, é necessário ser cidadão norte-americano. “Uma outra possibilidade é a de o vendedor acreditar tanto que o negócio dá certo mesmo, que não se importa de receber parcela do pagamento e aguardar durante determinado tempo para receber o restante”, comenta a especialista.

A queda nas vendas foi o que levou, por exemplo, Richard Lightowler a vender sua pequena loja de objetos para jardins. “Há alguns anos, poderia tê-la vendido por $ 50 mil”, disse. “Agora, pedi $ 40 mil e fechei o negócio por $ 33 mil.”

Em qualquer ramo, é importante observar o motivo pelo qual o negócio está sendo vendido. A recessão e a queda nas vendas, nem sempre são o motivo. “Se uma pessoa está cansada de administrar um negócio que funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, como um posto de gasolina, por exemplo, não significa que o negócio seja ruim”, diz Santos.

NA HORA DE COMPRAR

1 – Observe quem são os clientes e como eles são atraídos. Se o dono do negócio for peça chave na atração de clientes (exemplo o restaurante do João, no qual os clientes vão por causa do dono, João), é bom acertar com ele um período de transição para que a clientela se acostume.
2 – Verifique os detalhes do contrato de aluguel do imóvel. Alguns contratos prevêem reajustes (que podem ser elevados) de aluguel na hora da renovação do contrato. Além disso, quem pretende conseguir uma linha de crédito para a ampliação do negócio, precisa saber se o contrato de locação permite isso.

3 – Conheça o quadro de pessoal. Investigue, detalhadamente, qual é o relacionamento dos funcionários com a empresa. Faça com que os funcionários entendam que está comprando o negócio porque acredita nele e em sua capacidade de melhorá-lo. É fundamental que os funcionários entendam e aceitem a transição.

4 – Verifique o histórico da empresa. Revise todos os registros financeiros e legais da empresa. Conheça a saúde financeira do negócio. No caso de negócios que envolvem muito dinheiro vivo em sua rotina, como restaurantes, por exemplo, verifique as notas fiscais de compra de matéria-prima (alimentos em geral). Com base nisso é possível estimar quando o restaurante vende, e quanto fatura.

CALCULE OS GASTOS
(estimativas)

Aluguel do imóvel – Em geral corres-ponde a 8% do faturamento bruto.

Matérias-primas - No caso de um restaurante, varia de 20% a 35%, dependendo do tipo de comida oferecido. Uma churrascaria gasta mais com matéria-prima, uma pizzaria gasta menos.

Despesas fixas – 22% (luz, telefone, folha de pagamento, etc.)

Licenças e contratos - A disponibilidade ou não de licenças para atuação em determinado segmento afeta, e muito, o valor do negócio na hora da venda. Se, por hipótese, não são mais concedidas pela prefeitura de determinada cidade licenças para um ramo específico, um negócio deste ramo terá muito maior valor de venda.

Uma empresa de mármore, por exemplo, que tenha o direito adquirido (grandfather law) de continuar atuando neste segmento, em uma área onde, atualmente, a atividade é proibida, pode ter um valor de revenda alto, caso a licença permita a transferência para um outro titular.

Outro aspecto que agrega valor a um negócio são os contratos já firmados pela empresa. “As empresas de paisagismo (landscaping), por exemplo, geralmente têm contratos com condomínios, hotéis, shopping centers. A pessoa que está vendendo, gastou, naturalmente, uma percentagem de seu faturamento, para poder conseguir esses contratos. Se a empresa é vendida durante a realização de um grande trabalho, por exemplo, o vendedor ganha um percentual a mais por ter adquirido o contrato para o novo dono”, explica Santos.