Negócios brasileiros na contramão da crise

Por Marisa Arruda Barbosa

Enquanto manchetes em todo o país vêm cheias de más notícias sobre a economia, como a mais recente que o Bank of America irá cortar 40 mil empregos até o final do ano ou que os Estados Unidos alcançaram o maior índice de pobreza em 17 anos, alguns negócios brasileiros no sul da Flórida mostram que com criatividade e otimismo, é possível ter sucesso e mesmo ampliar.

Roselia Silva, dona do Babelle Salon & Spa, que comemora um ano de existência, calcula: “Se agora de abril a agosto, que é considerada baixa temporada, nós não diminuímos nos números, é porque tivemos crescimento”. Em um ano de salão, Rose, como é mais conhecida na comunidade, diz que só tem a comemorar.

Há ainda o caso de quem está investindo e começando agora, mas com anos de experiência nos Estados Unidos. Esse é o caso dos irmãos Marcelo Ferreira e Marcelo Ribeiro. Ferreira vive nos Estados Unidos há 12 anos, e Ribeiro é empreendedor em vários estados do Brasil. Os irmãos acabam de investir no novo Fort Supermarket.

Há cerca de um ano, uma segunda loja do Café Mineiro foi aberta, dessa vez em Orlando, e o dono, Daniel Arantes, avalia como um ano excelente. Enquanto isso, o Café Mineiro de Deerfield Beach muda de donos e promete renovações.

O dono do Restaurante Brasil, que começou com um pequeno local há três anos em Pompano Beach, inaugurou, no dia 12, uma segunda loja em Boca Raton.

Fort Supermarket

Em julho desse ano, Ribeiro estava passando férias de cinco dias com o irmão, e resolveram se tornar sócios na compra do antigo Supermercado Brasil, agora batizado como Fort Supermarket, que já está funcionando, mas em reforma, com inauguração prevista para o dia 1º de outubro.

Os dois irmãos resolveram juntar suas experiências, e sentem-se prontos para encarar o desafio. “O antigo supermercado ficou desacreditado, pois tinha produtos caros e sem constância, com valores irreais”, analiza Ferreira, que trabalhou por 12 anos em um grande supermercado de rede no mesmo ramo, com produtos latinos e brasileiros.

O projeto é de oferecer, além de produtos brasileiros e latinos, como os cortes de carnes para churrasco e pão caseiro, uma praça de alimentação, com computadores e serviço gratuito de internet. “Analizando os mercados para imigrantes na área, vejo que muitas vezes falta constância. Um dia tem um produto, depois falta por dois meses”, disse Ferreira. “É preciso estabilidade. Quero poder oferecer sempre um guaraná Antártica ou um Sonho de Valsa. Assim, o pai imigrante que não pode sair do país, pode oferecer para seus filhos uma experiência que teve na infância”.

“Eu poderia ter voltado para o Brasil e começado a trabalhar com meu irmão lá, mas dentro da experiência, a gente sabe que dará a volta por cima. E quando isso acontecer, estaremos sólidos”, disse Ferreira, que acredita no investimento no público latino e brasileiro, o que acaba atraindo também uma boa clientela americana.

Babelle Salon & Spa

Em um ano de existência, Rose diz que o Babelle Salon & Spa não sentiu o peso da crise. “Acho que temos o diferencial no atendimento, com a mesma equipe unida desde o início, onde o cliente se sente acolhido”. A localização do Babelle é em um complexo comercial pelo qual poucas pessoas passam, segundo Rose. Mesmo assim, pessoas vão ao local não como um ponto de passagem, mas um destino.

Agora completando um ano, Rose diz que terá a chance de comparar o movimento nos últimos meses, mas tem tido uma clientela regular, sempre com pessoas novas que a procuram por indicação. Ela conta que, por causa da crise, tem pessoas que não aparecem por alguns meses, mas contam que assim que têm algum dinheiro, vão ao Bebelle. “Você sabe como é mulher... tem umas que falam que preferem comer miojo para poder ter dinheiro para cuidar da beleza”, brinca.

“Acredito que a chave seja mostrar o diferencial através do trabalho. Eu sempre digo que é a diferença que faz a referência”, disse Rose. “Ouço muitas reclamações sobre outros salões, referentes a presteza e atendimento, menos que do produto em si. E aqui acho que clientes se sentem em casa”.

Café Mineiro de Deerfield Beach e Orlando

Depois de nove anos de experiência com o Café Mineiro de Deerfield Beach, há quase um ano Daniel Arantes resolveu realizar um sonho: abrir um segundo restaurante em Orlando. Ele conta com a sociedade de sua esposa Neida, e do cozinheiro, Edmilson Ulhoa.

“Eu ia muito a Orlando e sentia falta de um restaurante como o Café Mineiro na área, pois não havia nada parecido”, conta Arantes. Desde o início, em dezembro de 2010, Arantes conta que a fama do primeiro Café Mineiro é o que garantiu o sucesso desde o início. “Além disso, oferecemos algo que os outros não oferecem, que é o serviço de rodízio mais à la carte”.

Arantes agora está abrindo uma loja de perfumes em atacado também em Orlando, e pretende abrir mais um Café Mineiro na cidade. Sua clientela inclui brasileiros residentes na cidade e turistas, europeus e americanos.

Com o foco em Orlando, Arantes resolveu vender o Café Mineiro de Deerfield para seu amigo, o brasileiro Ulisses Layun. O Café Mineiro de Deerfield funciona também como casa de entretenimento.

Ulisses, ou Lee, como é conhecido, afirma que especialmente na crise há que ser arrojado, e pretende investir ainda mais na área de shows para manter viva a alma do Café Mineiro.

Para isso conta com a influência do pai, Moises Layun, que durante anos foi dono de uma das principais casas de shows da Flórida, o Country Music Cabaret. “Vamos colocar bandas americanas também, porque queremos atrair mais americanos e latinos”, destaca. Mas se engana quem pensa que o reduto mineiro vai deixar de lado o público brasileiro. “Queremos unir a todos aqui. Queremos ter de tudo um pouco, para agradar a todos, se possível. Mas o ‘Café’ continua mais mineiro que nunca”, afirma Lee, que divide a administração do restaurante com o também mineiro Márcio Dornelas.

A nova administração somente vai tomar efeito a partir do dia 1° de outubro, mas várias reformas e mudanças já estão em andamento.

Restaurante Brasil

Anésio e sua esposa, Marisa Lacerda, abriram o Restaurante Brasil, em Pompano Beach há três anos.

Anésio conta que desde que comprou o restaurante, já havia um bom movimento, que ele conseguiu manter graças à comida que serve, e agradou a clientela. “E também pelo bom atendimento”, adiciona.

“Eu acho que na hora da crise, a gente tem que lutar para superá-la”, avalia Anésio, que diz que honestidade, a benção de Deus e trabalho em equipe são os fatores que mantêm seu negócio crescendo. “A chave é não ter medo, pois com medo não se chega a lugar nenhum”, finaliza.