Negócios e Empresas - Edição 728

Por Gazeta Admininstrator

Uma comunidade organizada, aberta e participativa: o futuro dos "brazilian americans"

Recentemente muito se falou em nossa comunidade sobre dados captados através da primeira pesquisa feita na Flórida buscando conhecermos melhor o perfil do brasileiro que aqui vive. Foi iniciativa do Brazilian Business Group / BBG, certamente por ser este assunto de vital importância para o desenvolviento de nossos negócios e para que possamos, como um grupo sócio-político melhor estruturarmo-nos e partir com segurança rumo aos objetivos maiores que são os anseios de cada indivíduo, famílias e entidades representativas.

Muitos nos procuraram esta semana para perguntar porque tal não havia sido antes realizado, se tão importante, e o que fazer doravante com as informações. Evidentemente, para a primeira parte não temos resposta exata, a não ser algumas especulações, como o fato da comunidade, nos anos passados, ter se preocupado mais com sua sobrevivência imediata, talvez regada por uma falta de sentido de permanência, já que em idos tempos o planejamento da maioria era de para cá vir, fazer um ‘pé de meia’ e retornar à pátria natal, tão logo os objetivos materiais tivessem sido atingidos. As entidades constituídas não governamentais, por seu lado, tinham por objetivo, principalmente, a organização social e o fortalecimento dos espíritos daqueles que se distanciaram de suas raízes e enfrentavam situações inusitadas. A congregação do rebanho, mantendo-o unido e afastado de tentações talvez tenha sido a prioridade. Hoje, e os dados obtidos na pesquisa nos ajudam a concluir, temos um quadro diferenciado, com um número elevado, que na maioria, aqui permanece por um período acima de 6 anos e grande parte já aqui há mais de 10. Somos mais de 20.000 "Brazilian Americans" com direito a voto. Somos proprietários de mais de 30% das residências onde vivemos, assim pagando impostos que diretamente impactam as municipalidades, além de movimentar, sobremaneira, a circulação de riqueza onde vivemos.

Evidentemente constituimos um grupo sócio-econômico estável. Ficou patente,pois, com os números exibidos, que aqui estamos, nesta primeira geração emigrante, para ficar. Nossas famílias são "Brazilian Americans" e, por opção, mantemos os vínculos, orgulhosamente exibidos, que nos ligam ao Brasil. O mesmo se aplica a nossos filhos e aos muitos netos que aqui já nasceram. Nossos futuros, desejemos ou não, estão ligados ao rumo da nau americana. Quem discordar, lamentavelmente, terá que dispor do convívio com seus descendentes, pois os mesmos optaram naturalmente por aqui viver e progredir, entrosando-nos com a sociedade que nos acolheu. Assim, não nos resta alternativa que não seja a de trabalhar, produzir e juntarmo-nos ao futuro desta grande nação. Como grupo, querendo ou não, em muitos casos com imensos sacrifícios, compramos um bilhete premiado, pois acabamos nos inserindo na sociedade americana e estamos atrelados ao futuro da maior economia mundial . Devemos, pois, a partir desta nova situação de vida, tornar o futuro mais digno e amistoso, nele incorporando nossos anseios e termos reconhecidas nossas aspirações e respeito por nossa individualidade de origem brasileira. Tudo será alcançado através de planejamento e implementação adequada , visando a melhoria das nossas capacidades técnicas e profissionais e articulação, a nível igualitário, com as autoridades e políticos locais , estaduais e federais .

O despertar da comunidade, ao nível proposto, é um dos maiores desafios que enfrentamos. Viemos de um país abençoado, alegre, de uma mistura étnica invejada por todo o mundo, porém extremamente injusto, que começa com perversa distribuição de renda e se alastra, como subprodutos do mal, à impunidade, guardiã poderosa da corrupção e à falta de ética. Como nossos ancestrais portugueses e espanhóis que para as Américas vieram, e onde queriam realizar seus sonhos simples, nascidos nos campos europeus, pobres e desassistidos, e que por isto com pouco se satisfaziam,deixando a administração da coisa pública aos mais distinguidos e bem nascidos, distanciando-se, pois, dos centros de decisão que lhe diziam respeito e suas vidas influenciavam, nossos patrícios na América sofrem de mal parecido que os leva à descrença das pessoas públicas e/ou das entidades que representam grupos de interêsse, os associando ao mau comportamento e abuso da coisa pública tão conhecidos no Brasil. Agem como portadores de um mal incurável, não atentando que são os donos de seus destinos e que cada um carrega dentro de si a possibilidade de influenciar e transformar suas vidas. Que os políticos e poderosos dependem de cada um de nós, em um processo inverso ao brasileiro, ao qual se acostumaram. A superação desses traumas sociais somente será suplantada com árduo trabalho, dedicação e perseverança das lideranças. Somente um trabalho objetivo, ético, transparente e nitidamente desinteressado, subordinado aos interesses da comunidade, poderá prevalecer e devolver, em terras americanas , a confiança infelizmente lá no Brasil deixada.

De igual importância, entretanto, ao reconhecimento do que hoje reputamos como a maior dificuldade para motivar a comunidade para lutar e caminhar junta, é a vontade de muitos em crescer e constituir em nossa região um modelo exemplar de sociedade brasileira no exterior. E fomentados por estes é que implementamos o que chamamos da teoria da locomotiva, isto é, acreditando-se no que propagamos vamos em frente, demonstando seriedade, ética e dedicação. Aqueles de boa vontade e bem intencionados nos seguirão. E isto tem acontecido na caminhada do BBG. Somos um grupo sem fins lucrativos, administrado por voluntários, de diversas formações e origens, alguns portando pós-graducação no Brasil e no exterior, mas que, prazerosamente, sob o lema do Voluntarismo com Responsabilidade, dedicam-se, sem remuneração ou vantagem de qualquer espécie, à estruturação, planejamento e execução de nossos projetos. Certamente o nível de seriedade e comprometimento do grupo, auferido por seus resultados, atraiu a participação das maiores entidades privadas diretamente operando e dedicadas à comunidade brasileira de Broward e Palm Beach, à qual, primordialmente, nos dedicamos.

Os dados obtidos na pesquisa nos permitirá a continuação de nossa caminhada. Porém, os mesmos, dentro dos princípios éticos que norteiam o BBG, foram abertos e amplamente divulgados pela imprensa , para que dos mesmos outras lideranças façam uso e norteiem seus trabalhos na busca do bem comum, para que a todos beneficiem de forma direta. Temos muito para fazer: educação, saúde, cultura, negociações por melhor entrosamento social, etc... Enfim, trabalho para muitos e por um bom tempo.

Finalizamos conclamando a comunidade que a nós se junte, diretamente se possível, ampliando nosso leque de atuação, mas principalmente trazendo suas vozes para que possamos planejar e implementar projetos de real utilização . Somos seculares, portanto, todos são bem vindos. Somente a união desinteressada proporcionará e abreviará o atingimento de resultados práticos que se identifiquem com as necessidades da maioria, tornando-nos um exemplo daquilo que o brasileiro pode atingir quando de posse das condições adequadas. Muito já foi feito. Diversas provas de nossas capacidades foram exibidas, mas ainda podemos atingir andares superiores nesta escalada sem fim, já que o dom do aperfeiçoamento e melhoria, inerentes ao ser humano, novos e mais sofisticados desafios continuamente a todos reserva.