Nem todos gostam de você, e daí?

Por Adriana Tanese Nogueira

Todos queremos amor. Amor se expressa na união. Em família, entre amigos, com o(a) esposo(a), com os colegas. É da natureza humana querer estarmos juntos. Para que isso aconteça, porém é preciso que gostemos e sobretudo sejamos gostados. Assim como buscamos a união, buscamos ardorosamente ser amados, aceitos, gostados pelos outros. E aqui começam os problemas.

Nem todos gostam da gente, assim como nem de todos nós gostamos. Por mais esforços que façamos, não é possível gostar de todo mundo. Somente pela hipocrisia conseguimos fingir uma simpatia e interesse que não temos. O que interefere é nossa diversidade. Somos diferentes uns dos outros, e não só nas coisas mais simples, como diferentes gostos de comida ou torcida de time, somos diferentes nas escolhas de vida, na visão de mundo, na ética e prioridades. É aqui que os problemas se fazem mais dolorosos.

Muitos confundem união com fechar os olhos, outros confundem ser a si mesmos como isolar-se e “mandar todos àquele lugar”. Todos sofrem. Não temos como estarmos bem com os outros sem antes estarmos bem conosco, precisamos sentir um mínimo de coerência e integridade interior, porque viver na hipocrisia não se sustenta por muito tempo. Por outro lado, o rancor que o não se sentir aceitos produz machuca a alma de cada um.

A solução para esse dilema muito humano começa por um processo interior de se aceitar. Naturalmente a aceitação do outro vem primeiro, pois tudo começou lá na primeiríssima infância, quando a aceitação dos pais era indispensável e o primeiro passo para todos os outros na vida. nem sempre aquele primeiro passo foi dado, como se diz, como o pé direito. Mas qualquer que tenha sido nossa história pregressa, uma certa hora o problema é nosso. Todos nos defrontamos com a questão de nos aceitarmos, ou seja, precisamente: aceitarmos como diferentes dos outros. Aceitar nossa diferença, nossos desafios, nossas dores, nossa sensibilidade, nossa angústia, nossos anseios, nossas vozes internas que não calam, nunca. Aceitar-se e somente então começarmos a nos amar.

Está aqui o fundamento da real possibilidade de conviver pacificamente com os outros. Aceitar-se e amar-se faz toda a diferença. Somente nessa condição é possível aceitar o não amor do outro, a não preferência do outro. Somente assim é possível “viver e deixar viver”. Sem precisar de hipocrisia.

Se trata de um gigantesco passo ético e responsável de cada indivíduo e do grupo como um todo. Muitos dos conflitos familiares e sociais nascem justamente porque uma pessoa não se sente aceita. A dor da rejeição escala numa angústia interna que se torna insuportável e leva a medidas drásticas que não resolvem de fato nada, só aprofundam a ferida. E todos sofremos.

Frequentemente, a situação é mais fácil de se consertar do que parece, mas a dor tende a nublar a visão, rende cegos. A ferida precisa ser curada e isso ocorre quando, após o primeiro passo dito acima, nos comprometemos na criação de uma dimensão de unidade na qual o diferente seja realmente possível, na qual não precisamos nos sentir amados por todos. Na verdade, que algumas pessoas não gostem da gente é um sinal de que estamos no caminho certo! No nosso. O importante é respeitar-se e aceitar que há uma variedade enorme de possibilidades de ser, e sobretudo de sentir e interpretar o mundo.