NEM TUDO QUE RELUZ É OURO.

Por Gazeta Admininstrator

A troca de tripulação promovida pelo presidente Lula no Ministério da Defesa não deve tranqüilizar os usuários dos serviços aeroportuários e, tampouco, as populações que vivem nas proximidades dos aeroportos. Congonhas já está com o seu sistema controlado com a solução imediatista e óbvia para o crucial momento que abala a vida nacional. A transferência de pousos e decolagens para Guarulhos afasta dos olhos da nação os problemas que afetam não só a questão área, mas, também, a infra-estrutura dos serviços fundamentais para o desenvolvimento prometido pelo presidente da República. A incapacidade operacional de Guarulhos para suportar a quantidade de vôos que serão desviados de Congonhas coloca o aeroporto como o novo nicho de problemas insolúveis, se não forem destinados os recursos necessários para a construção de nova pista e de melhorias no atendimento aos usuários. A distância da capital é outro fator que irá afetar profundamente a economia paulistana que não tem local que possa substituir o vai-e-vem de empresários e executivos em busca de negócios que geram empregos e impostos. É fato que toda esta confusão facilitará a contratação de serviços emergenciais com dispensa de licitação ou direcionamento para empresas aparelhadas, como tem sido feito na conservação de estradas, construção de equipamentos de prospecção de petróleo e um sem número de outras empresas públicas que foram ocupadas pelos companheiros; nas que são dirigidas por executivos competentes não existem os problemas que surgem diariamente naquelas que foram entregues por critérios partidários. O Tribunal de Contas da União tem exigido o respeito à legislação concorrencial e impede a continuação de obras essenciais que não passaram pelo crivo da legalidade. Se as obras necessárias para a solução da crise aérea ficarem somente nas perfumarias edificadas nos aeroportos, continuaremos entupindo as salas de espera e sofrendo a insegurança das aeronaves. O ministro Nelson Jobim já está escaldado com as promessas do governo e passou maus bocados, quando da sua pretensão de ser eleito presidente do PMDB. Sem tradição no partido e afobado em suas decisões, o ministro foi abatido pela força do deputado Michel Temer, que, num gesto arriscado, se colocou ao lado do governo e ocupou o espaço pretendido por Jobim. Hoje, mesmo com as graves denúncias que semanalmente abalam o Palácio do Planalto, nem a oposição consegue riscar o prestígio do presidente. As manifestações realizadas em São Paulo pelas famílias das vítimas, com a participação da seccional da OAB que mobilizaram milhares de pessoas, acabaram sendo tachadas de movimentos da classe média. Em tudo, os simpatizantes do governo encontram um ponto para aguçar a luta de classes sociais. No entanto, esquecem que a utilização do transporte aéreo, que favoreceu a todos os brasileiros, é resultado dos preços irrisórios e financiados das passagens aéreas e das péssimas condições das rodovias. A afirmação do presidente Lula de que tem medo de viajar de avião não é diferente da maioria dos brasileiros, só que essa maioria tem medo e só viaja de avião por não ter meios de se locomover pelas inseguras estradas. Inseguras pelos buracos e falta de sinalização e, também, pela violência dos assaltos que não aparecem com destaque na imprensa, mas são diários e cruéis. Os gestos do ministro Jobim devem ter colocado o presidente em alerta, não que se preocupe com a desenvoltura do novo companheiro, mas pela razão de o povo achar que a autoridade de Jobim é maior do que a fragilizada de Lula. Neste mês de agosto, o presidente irá viajar na sua segura aeronave e sair de perto das mazelas nacionais. Com o excelente desempenho dos brasileiros nos Jogos Pan Americanos e a certeza de que o esporte poderá ser a grande motivação para melhorar o baixo astral do povo, é de se esperar que as negociações para a Copa do Mundo de 2014 consigam trazer o evento para o Brasil. A atuação da Força Nacional de Segurança, segregando a bandidagem do Complexo do Alemão, é a demonstração que o governo sabe como fazer para proteger a população. Só não o faz por incapacidade administrativa. As vaias que se transformaram em protestos e passeatas não estão preocupando o governo que considera as do Maracanã como gozação dos cariocas, e os protestos em São Paulo como manifestações manipuladas por insatisfeitos com o governo de um retirante nordestino. O que interessa agora é transferir para o neófito aeronauta, Nelson Jobim, a responsabilidade de solucionar a crise, não importando que, para isso, sejam mudadas as leis que criaram as agências reguladoras e possibilitaram a indicação de pessoas incapacitadas tecnicamente para os cargos, e sem a autoridade que caracteriza Nelson Jobim nas funções públicas que exerceu. O ministro é daqueles que ou fazem, ou caem fora. Desta vez, caiu para dentro. Como nos Jogos Pan Americanos, ficaremos torcendo para que dê tudo certo, e, se tivermos sucesso, sairemos das medalhas de lata da administração pública para o ouro em competência, honestidade e espírito público.