Reportagem do The New York Times diz que país deixou de ser a terra das oportunidades. Há cerca de 1,1 milhão de brasileiros morando nos EUA.
A decisão de desistir da vida nos Estados Unidos está sendo tomada por um número cada vez maior de brasileiros em todo o país, segundo agentes consulares, agências de viagem sobrecarregadas por reservas de passagens só de ida e líderes comunitários dos bairros transformados pelos imigrantes brasileiros, de Boston a Pompano Beach, Flórida.
Não se sabe ao certo quantos estão partindo. No entanto, no último semestre, a imigração reversa ocorreu indubitavelmente entre os brasileiros que vivem nos Estados Unidos, população estimada em 1,1 milhão pelo governo brasileiro, quatro a cinco vezes mais do que os números do censo oficial.
Para explicar a decisão normalmente triste de partir, os brasileiros que rumam ao país natal citam o medo crescente de serem deportados e a recessão na economia norte-americana. Muitos mencionam ainda o vencimento das carteiras de motorista que já não podem mais ser renovadas devido a regras mais rígidas, sem contar a queda acentuada do valor do dólar em relação à moeda do Brasil, onde a economia se aqueceu.
"Considerando tudo, por que você ficaria em uma ambiente como esse se existe um lugar como o Brasil, onde há esperança, uma luz no fim do túnel que não é a de um trem que vem para te atropelar?", afirmou Pedro Coelho, executivo de Mount Vernon, Nova York, conhecido como o prefeito dos brasileiros em Westchester County. "Eles estão indo embora? Sim, centenas deles."
Em Massachusetts, como conta Fausto da Rocha, fundador do Centro de Imigração Brasileira na região de Boston, seus compatriotas, muitos deles vivendo aqui ilegalmente, estão partindo aos milhares, alguns depois de perderem a casa devido à crise de financiamento do subprime. Em Nova York e New Jersey, os agentes de viagem e outros profissionais que vendem passagens aéreas afirmam que as reservas só de ida para o Brasil mais do que duplicaram desde o ano passado, para cerca de 150, partindo diariamente do aeroporto internacional JFK. Os vôos estão lotados até fevereiro.
Miami
No consulado brasileiro em Miami, que atende brasileiros que moram em cinco estados do sudeste dos EUA, oficiais declararam que uma pesquisa recente com empresas de mudança e agências de viagem confirmou aquilo que já haviam constatado em relação ao trânsito de pessoas: mais brasileiros estão deixando a região do que chegando, ou seja, o inverso de uma curva ascendente que parecia incontrolável ainda em 2005, quando brasileiros incapazes de cumprir exigências mais rigorosas de visto fugiam aos montes pela fronteira entre EUA e México.
Ainda é precoce demais afirmar que a imigração reversa dos brasileiros os coloca na liderança de uma tendência mais ampla entre os imigrantes ou se ressalta uma peculiaridade.
Como Borges, que contou que era mal remunerado como professor universitário de estudos religiosos em Curitiba, sua cidade natal, eles geralmente vêm de regiões urbanas e têm formação, muito mais do que outros dos principais grupos de imigrantes ilegais latino-americanos, como revelam alguns estudos. Muitos dos que voltam agora estão investindo os proventos americanos em propriedades brasileiras.
No entanto, sua própria explicação sobre o forte movimento de retorno ao Brasil contradiz o senso comum em ambos os lados da discussão sobre imigração.
Durante anos, aqueles que defendiam que era preciso dar a pessoas como os Borges uma chance de legalizar a situação argumentaram que os imigrantes ilegais só seriam colocados em uma situação mais marginalizada através de medidas de execução da lei como batidas policiais ou recusa de carteiras de motorista. Os defensores de punições e restrições mais rígidas argumentaram que a imigração ilegal cresce independentemente dos altos e baixos da economia americana. Os brasileiros em retorno ao seu país desafiam ambas as argumentações.
Diante de recompensas cada vez menores e aumento das despesas nos Estados Unidos, vivendo há tanto tempo longe dos parentes envelhecendo no Brasil, "as pessoas dizem: 'será que vale a pena viver ilegalmente, viver com medo?"', disse Maxine L. Margolis, professora de antropologia da Universidade da Flórida, em Gainesville, com extensa obra dedicada ao tema dos brasileiros nos Estados Unidos.
Existem variações regionais, mas o padrão é consistente. Em South Florida, o vencimento da carteira de motorista é muitas vezes o ponto de virada para as famílias que já foram pegas de surpresa pela desaceleração no setor de construção civil, declarou a irmã Judi Clemens, assistente da pastoral Missão Nossa Senhora da Aparecida, que atende cinco comunidades diferentes de brasileiros na Arquidiocese Católico-Romana de Miami. Ela ressaltou que até sete anos atrás, brasileiros com vistos de turista conseguiam carteiras na Flórida válidas por oito anos, mas agora todas estão vencendo e não podem ser renovadas.
"Não existe transporte público aqui na Flórida, então as pessoas dirigem para o trabalho com medo, preocupadas com a possibilidade de uma batida policial no trânsito resultar em meses de detenção pela imigração”, disse ela. "Muitas pessoas simplesmente disseram, 'Para mim chega."'

