Newt Gringrich: uma esperança Republicana para os imigrantes? - Editorial

Por Carlos Borges

Newt Gringrich

Sem negar o fato de que a grave situação dos imigrantes indocumentados residindo nos Estados Unidos (mais de 12 milhões, segundo estimativas do governo norte-americano), acabam sendo sempre o “fiel da balança política” nas recentes eleições presidenciais, há que se ressaltar a atitude do pré-candidato republicano, Newt Gringrich.

O veterano líder e ex-líder republicano no Congresso, está experimentando ao mesmo tempo uma onda de popularidade e de críticas, ao se declarar e reiterar favorável a um processo de legalização em massa dos imigrantes ilegais. Atacado por todos os demais candidatos, que imaginavam ser qualquer opinião pró-imigrantes, um “suicídio político”; Gringrich, pelo contrário, se vê, repentinamente, em segundo lugar nas pesquisas e ameaçando seriamente o então favorito, o bilionário Mitt Romney.

“Eu não acredito que o povo dos Estados Unidos queira deportar pessoas que estão aqui há 25 anos, que têm filhos e netos nascidos nos Estados Unidos, que são membros decentes e ativos em suas comunidades”, disse Gringrich durante o mais recente debate entre os postulantes à nominação republicana para enfrentar Barack Obama, em 2012.

A declaração de Grincrich, a menos de 3 semanas das eleições primárias em Iowa, consideradas como um indicativo crucial para eliminar pelo menos a metade dos atuais pretendentes, causou um furor nacional. E mais: se o debate acalorado dava conta de que Gringrich “pagaria caro” por sua “heresia política”, as pesquisas de opinião mostraram que o veterano político tem algo a ensinar aos concorrentes, todos eles, muito menos experientes que ele em assuntos de votos e eleições.

Ele acrescentou que é favorável à deportações de quem está “há pouco tempo no país e não estabeleceu laços com a nação”. Ele sugeriu que seja adotado o programa da Krieble Foundation, que tem até um website dedicado à proposta de se instituir o “Red Card”, que daria total legalidade e residência, mas não daria a possibilidade de cidadania. Esta última, uma exclusividade dos portadores do Green Card.

O que a repentina e bombástica declaração de Newt Gringrich trouxe de positivo foi, basicamente, interromper um cínico “coro” de ataque ou – na melhor das hipóteses – indiferença dos atuais “candidatos-a-candidato” republicano, à causa dos ilegais. Cultivando a ideia de que o povo norte-americano “está” mais anti-imigrante do que nunca, os tais candidatos-a-candidato trataram de deixar o tema como a “batata quente” da temporada. Louve-se a coragem – ou a esperta jogada de marketing – de Grincrich.

Vai dar certo? Quem sabe?

O fato é que todos os estudos mostram que os 24 milhões de votos latinos vão sempre em sua esmagadora maioria, para os candidatos comprometidos com a causa dos imigrantes indocumentados. O apelo da fala do ex-líder republicano no Congresso ressonou de forma espetacular em estados como Califórnia, Texas, Novo México, Colorado, Nevada, Arizona, Flórida, Nova York, Carolina do Sul e Utah, onde as populações imigrantes são imensas e podem decidir eleições. Estaria Gringrich “roubando” uma “bandeira” que tem sido historicamente dos democratas?

Nem um pouco. Na verdade, apesar da recente retórica anti-imigrante, tem sido sempre o Partido Republicano o que acaba aprovando leis que favorecem os ilegais. Sem falar que a última anistia imigratória foi concedida pelo republicano Ronald Reagan na década de 80, coube também a outro republicano conservador, George W. Bush, apresentar sem sucesso, em duas oportunidades, um projeto de lei que legalizaria quase a totalidade dos indocumentados atualmente residindo nos EUA.

É importante prestar atenção no desdobramento desta campanha. Caso um candidato comprometido publicamente com os indocumentados, como pode vir a ser o caso de Gringrich, enfrente Obama com chances reais de sucesso, é em torno desse candidato que fatalmente se concentrarão os votos latinos.

Mas que também ninguém se iluda à toa.

Já se sabe que a “política dos palanques” ( e hoje, mais do que nunca, o único palanque que conta é a TV ) é a política das promessas vazias, eleitoreiras e sem grande credibilidade. Não é só no Brasil que a classe política está desmoralizada. Nos Estados Unidos, a crise de credibilidade dos deputados, senadores e governadores é tal, que apenas 18% dos eleitores pesquisados pela CNN recentemente, ainda confiam na atuação ou acreditam na seriedade dos políticos. É um índice arrasador para um país que segue se enxergando como “paradigma da Democracia”.

Portanto, Newt Gringrich pode estar apenas blefando para gerar um “factoide” capaz de levá-lo a uma então improvável vitória na “corrida republicana”. A causa dos imigrantes não é muito simpática entre os eleitores do Partido Republicano. A prolongada crise econômica e a taxa de desemprego que teima em não sair dos 9.8% são inimigos naturais de qualquer sentimento pró-legalização.

Mas seria interessante ver qual seria o comportamente dos eleitores norte-americanos, especialmente os democratas, vendo um candidato republicano defendendo a legalização contra um Obama que, na época das promessas de palanque e do mote “Change” com o qual se elegeu, defendia os imigrantes, e agora, todos sabem, é o patrocinador da maior onda de deportações da história dos Estados Unidos.

Definitivamente, pode até ser que Obama, intimamente, seja a favor de uma legalização em massa. Mas, na prática, seu governo tem sido lamentável nas questões que afetam os direitos humanos e a causa imigratória como um todo.