No Cairo, líderes do Hamas falam em 'realismo'

Por Gazeta Admininstrator

Uma delegação do Hamas entrou nesta terça-feira no segundo dia de uma viagem por países do Oriente Médio - que começou na segunda-feira no Cairo - falando em "realismo" e apresentando posições mais flexíveis do que as normalmente advogadas pelo grupo.
Além de reuniões com altas autoridades egípcias e com o secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, a viagem ao Egito também foi importante para reunir líderes do Hamas que vivem na Faixa de Gaza com outros que estão exilados no exterior e não podem ir aos territórios palestinos.

"Estou convencido de que em nossas reuniões em países árabes e muçulmanos vamos conseguir atingir uma visão comum que vai nos permitir preservar os direitos dos palestinos e ao mesmo tempo demonstrar realismo", disse, depois do encontro com Amr Moussa, o líder supremo do Hamas, Khaled Meshaal, que atualmente vive no exílio na Síria.

O Hamas está sob forte pressão internacional - inclusive de alguns países árabes, como o Egito - para renunciar à resistência armada e aceitar as negociações de paz com Israel.

Embora o Hamas diga que a luta armada vai continuar, as principais lideranças têm preferido dar destaque a outros temas, como a solução de problemas internos dos palestinos.

Um integrante do comitê político do Hamas em Beirute, Mohamed Nazzah, disse que a delegação do Hamas está viajando ao exterior para apresentar esta face moderada e buscar apoio internacional.

América Latina

Nazzah disse que logo depois da turnê pelo Oriente Médio, os líderes do Hamas pretendem organizar uma viagem pela América Latina.

"Queremos visitar Venezuela, Cuba, Bolívia e Brasil. Estes são países com governos de esquerda que também se opõem ao caminho que os Estados Unidos querem", disse Nazzah, ressalvando que ainda não há datas ou quaisquer outros detalhes a respeito da visita.

Nazzah disse que o mundo tem uma imagem errada do Hamas. "Nós somos um grupo moderado, não fundamentalista", afirmou.

O político disse que o Hamas continua a defender a resistência armada, mas que esta é uma posição de "princípio" e não significa que o grupo tenha intenção de intensificar ataques.

"Resistir é um direito do povo palestino, que vive sob ocupação, mas nós não estamos conversando (dentro do Hamas) sobre isso agora", disse Nazzah. "Nosso foco neste momento é a reconstrução das instituições palestinas."

"Depois que tivermos feito nosso trabalho internamente é que também poderemos voltar a conversar sobre negociações de paz com Israel."

Reconhecimento

Khaled Meshaal também não quis descartar completamente a possibilidade de paz com Israel, mas disse que agora a bola está no lado dos israelenses.

"Quando Israel reconhecer os direitos dos palestinos e sair de nossos territórios, os palestinos e os árabes provavelmente vão mostrar mais vontade de cooperar e tomar um passo positivo", disse Meshaal, usando o estilo indireto que tem caracterizado as declarações mais moderadas que líderes do Hamas têm dado nas últimas semanas.

A posição mais conciliatória é especialmente importante porque vem de um dos líderes do Hamas que estão no exterior.

Geralmente, os militantes exilados do grupo costumam ter posições mais radicais do que aqueles que vivem nos territórios ocupados.

Mas Meshaal também afirmou que o Hamas não vai se curvar à pressão do Ocidente - que vem ameaçando com cortes nos repasses de ajuda internacional para a Autoridade Palestina - para mudar suas posições.

"Nós acreditamos que a comunidade internacional tem obrigações que não pode esquecer com os palestinos, mas também precisamos ter mais fé (na ajuda) de nosso ambiente árabe e muçulmano", disse Meshaal.

Governo

O Hamas deve liderar o novo governo palestino depois de ter levado mais da metade das cadeiras do Parlamento nas últimas eleições.

O grupo já informou que vai convidar o Fatah, do presidente Mahmoud Abbas, a participar do gabinete.

"Nós vamos nos encontrar com o Fatah e propor formalmente que eles participem do governo", disse na noite da segunda-feira o líder do Hamas na Faixa de Gaza, Ismail Hanya, muito cotado para assumir o posto de primeiro-ministro.

Logo depois da derrota eleitoral, importantes líderes do Fatah afirmaram que o grupo não tinha nenhum interesse em um governo de união nacional e que certamente iria para a oposição. Mas ultimamente alguns dirigentes já vêm apresentando uma posição mais conciliatória.