“Nos deram espelho e vimos um mundo doente”

Por Arlaine Castro

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Olhando sob a ótica emocional, vemos um mundo doente. A capacidade de se colocar no lugar do outro faz toda a diferença e anda em falta. Entender que a sua necessidade não é menos importante que a do outro dá abertura para ouvir as várias respostas para uma mesma pergunta e entender que não há verdade absoluta. Ligada à maturidade emocional, a empatia é a capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa caso estivesse na mesma situação, já diz o Aurélio. Crianças morrem de fome, mulheres são abusadas, famílias refugiam-se em outro país e se tornam vítimas da violência, pais que não conseguem colocar o pão sobre a mesa. Todas essas violências existem e podem estar a menos de um quilômetro de nós. “Sem empatia há corruptos, traidores, violentos, assassinos, aproveitadores, sem-palavras, charlatões, abusadores, perversos, impacientes, intolerantes, presunçosos, folgados, procrastinadores, indiferentes”, diz Lucy Rocha no site ContiOutra. Doenças, tanto físicas quanto emocionais, têm aumentado mundialmente. Em todo o mundo, o câncer é a segunda maior causa de morte, ficando atrás somente dos problemas do coração. E as doenças emocionais ligadas à tristeza, raiva, medo, ódio, mágoa, rejeição, solidão, ciúmes, carência, angústia, desprezo, frustração, revolta, ira, repugnância, rancor, ressentimento, vergonha, desespero, podem desencadear as doenças físicas. Entrando no tema político, com o avanço da xenofobia e da homofobia, por exemplo, as situações são parecidas, mas vistas em diferentes países. O que se vê é que “écada vez menos tabu defender posições extremistas de direita claras” segundo o pesquisador Johannes Kiess, da Universidade de Siegen, coeditor doLeipziger Mitte Studie(Estudos de Centro de Leipzig). A cada dois anos, os cientistas procuram determinar, através de pesquisas, as posições na camada média da sociedade. "Extremistas de direita nunca descrevem a si mesmos como tal. Também não é um fenômeno novo que não queiram ser vistos como de direita ou de esquerda", comenta o pesquisador Steffen Kailitz, do Instituto Hannah Arendt de Pesquisa sobre o Totalitarismo, citado pela Deutsche Welle Brasil. Ainda no campo político, mas que implica totalmente na saúde do ser humano, está a polarização cada vez mais intensa e que também é vista em diversos países. A expansão dos meios de comunicação e o advento da internet trouxeram uma arma poderosíssima ao cidadão: a informação e a palavra à distância. No entanto, é possível perceber também que as pessoas conversam muito menos “cara a cara” com as outras, mas pelo intermédio de um aparelho, seja um celular ou um computador. Pois é, mas o contato direto faz falta. Como nos adaptamos aos avanços datecnologiaexerce influência em nossas relações. Sobre o efeito da comunicação digital nas relações pessoais e o que pode desencadear, Sherry Turkle, psicóloga do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e autora do livro Reclaiming Conversation, cita que “a tecnologia veio para ficar, com todas as maravilhas que traz, mas é o momento de considerar como ela afeta outras coisas que apreciamos. Podemos perder uma qualidade essencial nas relações humanas: a empatia”, afirma. Pois é, como já dizia Renato Russo e sua banda Legião Urbana na década de 80 sobre o reflexo da sociedade: “Nos deram espelho e vimos um mundo doente” (letra da música Índios).