Nosso idioma é nossa trincheira - Editorial

Por Carlos Borges

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Uma das mais ponderosas “armas”, ao mesmo tempo de conquista, colonização ou defesa, é o idioma.

Desde os primórdios da civilização humana, o idioma diferenciado e não facilmente accessível foi a principal trincheira na qual culturas se defendem da colonização cultural que é, via de regra, o braço mais pesado do imperialismo.

Como fizeram gregos, romanos, ibéricos e mais recentemente, britânicos e norte-americanos, o uso do idioma dessas culturas para cooptar as mentes dos povos dominados sempre foi a arma mais letal, uma forma de agressão que se infiltra nas sociedades de maneira aparentemente ‘não letal’, mas que, na verdade, reduz lenta, gradual e infalivelmente, o traço de identidade mais básica dos “povos conquistados”: seu idioma.

Por isso, a luta pela preservação de nosso idioma pátrio é uma questão que vai muito além do mero proselitismo. É uma questão vital, que tem reflexos em todas as áreas e atividades de nosso povo, nossa nação.

O Brasil e os brasileiros, como muitos povos do chamado “terceiro mundo”, sempre se mostraram enorme e ingenuamente abertos a adotar – da maneira mais banal e até ridícula – o palavreado dos povos colonizadores.

Lembro-me bem que até os anos 60, uma infinidade de termos em francês (o idioma “chique” do século XX) eram incorporados ao linguajar coloquial dos brasileiros. Era, entre outras facetas, até um instrumento de “diferenciação” social, ou pelo menos da “aparência” dessa diferenciação.

Então, com uma força descomunal, o idioma inglês destronou o descendente francês e se impôs em todos os níveis. Na verdade, há que se reconhecer que nunca o palavreado francês resultou no ridículo que o palavreado inglês tem resultado no linguajar de nosso povo brasileiro.

Uma coisa é ter o inglês como segundo idioma. Necessário e utilíssimo para se viver em um mundo globalizado e onde a moeda – o dólar – e o idioma – o inglês – são uma imposição norte-americana disfarçada de “aculturação natural”. Não tem nada de natural, embora seja, de fato, uma aculturação enormemente facilitada pela estranha ansiedade com que os brasileiros tendem a adotar os maneirismos estrangeiros.

Não se trata de xenofobia. Em nenhum momento seríamos estúpidos de imaginar que seria possível a uma cultura específica, como a brasileira, “frear” unilateralmente um fator como a expansão desenfreada dos termos em inglês incorporados em nosso linguajar.

Mas é importante ressaltar o ridículo ao qual estamos nos dirigindo e reconhecer que, do jeito que a coisa anda, teremos muito em breve, um idioma que mais merecerá ser chamado de “portuglês”.

Pior: um péssimo “portuglês”.

O culto a tudo o que é de fora, a celebração dos estrangeirismos como acessório “chique” e “distinto” em nosso linguajar, tem nos levado a situações patéticas.

Como a exibição hilária da palavra “Sale” nas vitrines das lojas brasileiras, em substituição à palavra “Liquidação”.

A Lista de “adoções inusitadas” como a citada acima é imensa. E o pior: a população brasileira, cada vez mais carente de qualquer educação formal de qualidade, vai contribuindo inocentemente para que essa continua absorção do inglês ocorra como se fosse “natural” ou “inevitável”.

País que adora moda, modismos e que gerou uma das mais competentes indústrias de marketing e propaganda no planeta, o Brasil paga o preço dessa indústria ser movida unicamente pela sedução e venda a qualquer preço. Aí, mais uma vez, o uso dos termos em idiomas estrangeiros extrapola qualquer bom senso. Afinal, quem foi que disse que publicidade tem que ter bom senso?

A defesa do idioma português é algo tão importante para o Brasil quanto o desenvolvimento econômico e social. Nós, que nos gabamos tanto da nossa “excepcionalidade” como carisma e cultura, não prestamos a devida atenção ao fato de que nosso idioma é parte intríseca desse carisma e cultura.

Para nós, imigrantes, a tarefa de preservar e promover o idioma português ganha contornos de guerra. Uma guerra onde educadores, idealistas e pais de família, se sentem cada vez mais engajados.

Porque sim. O idioma português nos importa. Porque nossos filhos falando português é algo vital para nossa autoestima. Porque manter o nosso idioma nos dá e a nossos filhos uma vantagem competitiva adicional.

Porque muitos de nós somos patriotas e assumimos a responsabilidade de pensar o Brasil acima da dolência irresponsável dos “entreguistas”.

Minha patria é minha língua.