‘Grande grupo brasileiro’: novos documentos revelam elo do caso Jeffrey Epstein com o Brasil
Depoimento ao FBI menciona brasileiros e modelos vindas do país em arquivos divulgados pelo governo dos EUA
Novos documentos tornados públicos pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos revelam menções diretas ao Brasil no caso do bilionário Jeffrey Epstein, condenado por crimes sexuais e morto em 2019. Entre os materiais, há um depoimento ao FBI que cita a existência de um “grande grupo brasileiro”, em referência a possíveis vítimas levadas para encontros sexuais promovidos por Epstein.
Os arquivos foram divulgados na sexta-feira (19/12), após determinação do Congresso americano, e reúnem dezenas de milhares de documentos relacionados a investigações sobre abuso sexual e tráfico de mulheres e meninas atribuídos a Epstein. Grande parte do material está sob tarjas, o que impede a identificação dos envolvidos e a compreensão completa do contexto.
A referência ao Brasil aparece em anotações manuscritas baseadas em uma entrevista do FBI realizada em 2 de maio de 2019. O documento, identificado apenas como “Entrevista de [informação tarjada]”, menciona “amigos de amigos” e faz referência direta a um “grande grupo brasileiro”.
Segundo o depoimento, uma pessoa identificada como “JE”, possivelmente Jeffrey Epstein, estabelecia critérios sobre as meninas que lhe eram apresentadas, afirmando não querer “spanish or dark girls” — expressão que, pelo contexto, se referiria a meninas latinas ou de pele mais escura. Em outro trecho, há a descrição de uma jovem com “aparência amazônica” e “pele mais escura”, levada em um momento de “desespero”, quando os envolvidos estariam “ficando sem garotas”.
As anotações também citam uma modelo que “acabava de vir do Brasil” e por quem Epstein teria demonstrado forte interesse. O texto menciona que ele “realmente estava apaixonado por ela” e teria falado em fazer um desenho ou pintura. Uma observação lateral diz que a jovem “vivia com a mãe aos 13 anos e saiu de casa aos 14”.
O documento inclui ainda fotos com legendas como “festa brasileira” e “desfile brasileiro”, embora as tarjas impeçam a identificação de locais e pessoas. Há também relatos sobre a preferência de Epstein por menores de idade, incluindo uma passagem que afirma que ele pedia documentos de identidade para confirmar que as meninas tinham menos de 18 anos.
Além desse material, reportagens publicadas nos últimos anos apontam que Jean-Luc Brunel, ex-agente de modelos francês e parceiro de Epstein, esteve no Brasil em 2019. Brunel foi acusado de tráfico e abuso sexual de jovens e morreu na prisão em Paris, em 2022. Documentos da Justiça americana indicam que ele recrutava meninas para Epstein, prometendo carreiras no mundo da moda.
Reportagens do jornal *The Guardian* e da Agência Pública relataram que Brunel visitou agências de modelos no Brasil, incluindo em Brasília, com o objetivo de selecionar jovens para trabalhar nos Estados Unidos. Uma dessas agências, a Mega Model Brasília, confirmou a visita, mas negou qualquer envio de modelos ou vínculo posterior com Brunel.
Questionados sobre eventuais investigações envolvendo brasileiros no caso Epstein, o Ministério da Justiça e Segurança Pública e o Itamaraty informaram que o assunto caberia à Polícia Federal, que declarou não se manifestar sobre investigações em andamento.
Fonte: G1
