A publicação quinzenal tem como objetivo dar visibilidade aos impactos desiguais da pandemia de covid-19 na cidade e identificar ações urgentes que precisam ser colocadas em prática para enfrentar a crise sanitária. Nesta edição, foram ouvidos profissionais de saúde que atuam nas favelas da Rocinha, Maré e Manguinhos, que falaram sobre as dificuldades enfrentadas pela população destas comunidaders para ter acesso a um direito básico.
“Buscamos revelar, por meio da voz dos profissionais que atuam em áreas de favelas e da análise espacial da distribuição de equipamentos de saúde, a histórica conformação socioespacial desigual do território carioca. Ests quadro é aprofundado no momento atual pela pandemia da covid-19 e pelas erráticas políticas públicas na área de saúde postas em prática nos últimos anos pelas várias instâncias de governo”, diz o boletim.
De acordo com o mapa, um dos problemas é o fato de as unidades de atenção básica não terem recebido testes no início da crise – atualmente, apenas as pessoas com sintomas aparentes ou dos grupos de maior risco para a covid-19 conseguem ter acesso a eles.
O boletim ressalta que o acesso aos equipamentos de saúde também é difíicil para as populações residente na zona oeste e no extremo da zona norte. “Estas áreas têm cerceado o acesso tanto aos equipamentos para atendimento primário a casos de covid-19 quanto a hospitais com disponibilidade de leitos, com respiradores, que atendem pelo SUS [Sistema Único de Saúde]. Somadas, as zona norte e soeste concentram mais de 80% da população carioca, e, paradoxalmente, apresentam as maiores barreiras para o acesso ao tratamento ao novo coronavírus.”
O Observatório de Favelas destaca ainda o atendimento a pacientes com sintomas da doença na parte externa das unidades de saúde, sem janelas, nem ventilação adequada, “requisito básico para espaços de recuperação de doenças respiratórias e contagiosas”. Também há relatos dos profissionais que precisam escolher apenas os casos mais graves para tratar, devido à falta de estrutura para acolher todos os pacientes.
O boletim ressalta que os moradores de localidades como Inhaúma, Vicente de Carvalho, Acari, Costa Barros e Anchieta estão há mais de 5 quilômetros de um leito com respirador e precisam andar mais de 30 minutos a pé para chegar a uma unidade e receber o primeiro atendimento de covid-29. Segundo a publicação, os problemas se agravaram desde 2016.
“Observamos o congelamento de gastos públicos impactando sobremaneira os investimentos em saúde, assim como a desestruturação da Política Nacional de Atenção Básica, desestimulando a Estratégia de Saúde da Família e reduzindo o número mínimo de agentes comunitários de saúde por equipe”, diz o Mapa Social do Corona.
De acordo com a publicação, na cidade do Rio de Janeiro, 700 mil pessoas tiveram o atendimento em saúde prejudicado por demissões ocorridas no setor entre outubro de 2018 e fevereiro de 2019. Foram desligados nesse período 465 agentes comunitários de saúde, 30 técnicos de enfermagem e 20 enfermeiros, “além de médicos e equipes inteiras de apoio à saúde da família”, diz o levantamento.
A desigualdade reflete-se nos dados sobre a pandemia: pelos números do Ministério da Saúde, no Brasil, a taxa de letalidade da doença está em 3,8%, enquanto no estado do Rio de Janeir,o a proporção de mortes causadas pela doença sobe para 8,75%, conforme dados da Secretaria de Estado de Saúde.
Na capital, são 65.121 casos confirmados e 7.432 óbitos, o que representa taxa de letalidade de 11,4%. Considerados só os números da covid-19 nas favelas cariocas, a taxa de letalidade vai para 15,8%, com 3.891 casos e 607 óbitos, segundo o painel do Voz das Comunidades.