Desconfianças ameaçam vacinação no Brasil e na América Latina

Por Livia Mendes

O movimento antivacinas da Europa e dos Estados Unidos está ganhando força na América Latina e a hesitação em tomar uma vacina persiste entre as pessoas.

A relutância de populações em receber uma vacina para se proteger do vírus que assola os hospitais da América do Sul e Caribe ressalta um desafio que as autoridades de saúde enfrentam à medida que as campanhas de imunização estão em andamento: a resistência à vacinação. A corrida para controlar a mortal pandemia está repleta de desconfiança, teorias da conspiração e uma campanha antivacinas crescendo em força.

Em todo o mundo, os líderes venderam curas não comprovadas e até negaram o vírus. Em dezembro, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro deixou os cidadãos perplexos ao adverti-los que seu governo não seria responsável se a vacina Pfizer-BioNTech transformasse pessoas em “crocodilos” ou tornasse mulheres barbadas como efeito colateral.

Uma pesquisa da International University’s School of Communication and Global Health Consortium da Florida International University (FIU) mostra que, embora o escasso acesso a uma vacina COVID-19 continue sendo uma preocupação avassaladora para a maioria dos cidadãos de todo mundo, a hesitação em tomar uma vacina persiste entre as pessoas.

“O movimento antivacinas da Europa e dos Estados Unidos está ganhando força na América Latina”, disse Maria Elena Villar, professora associada de comunicações da FIU. “Você está começando a ver um aumento nesse tipo de mensagem, geralmente se referindo a conteúdo originalmente dos EUA e da Europa. É algo para observar e tentar mitigar antes que piore”, disse Villar.

Assim como nos Estados Unidos, os cidadãos estão questionando a ciência e a velocidade com que as vacinas foram desenvolvidas e receberam aprovação de emergência. Enquanto pairam dúvidas sobre os efeitos de longo prazo, há também desconfiança nas autoridades.

Como as pessoas em toda a região se sentem em relação a seus governos, encarregados de administrar as vacinas, tem sido um problema complicado durante a pandemia. Essa sensação influenciou tudo, desde a aceitação da existência de COVID-19 até os esforços de mitigação, como o uso de máscara, e agora a resposta à vacina.

Na Venezuela, a confiança das pessoas na vacina está frequentemente associada a suas visões políticas e os críticos dizem que o presidente Nicolás Maduro ajudou a atiçar as chamas da dúvida. Embora muitos venezuelanos tenham postado nas redes sociais querendo ter acesso ao imunizante, as pessoas costumam ser vistas andando com máscaras penduradas no queixo nas ruas de Caracas, onde a desconfiança e o ceticismo estão por toda parte.

No ano passado, Argentina, Chile e Equador estavam notificando seus primeiros casos COVID. Desde então, mais de 1,2 milhão de pessoas morreram em decorrência da doença e mais de 52 milhões foram infectadas nas Américas, incluindo o Brasil.

Em muitos lugares, os casos e mortes estão começando a diminuir, mas em vários países, incluindo mais notavelmente no Brasil, os pacientes ainda estão sobrecarregando os hospitais e enchendo os leitos nas unidades de terapia intensiva.

Fonte: Miami Herald