Brasileiras desenvolvem vacina covid-19 de mRNA; ideia é doar a países necessitados

Por Arlaine Castro

Patricia Neves e Ana Paula Ano Bom trabalham naFundação BioManguinhos Fiocruz em um mesmo propósito: desenvolver a vacina de mRNA contra a covid-19.

Nos últimos dois anos, as cientistas brasileiras Patricia Neves e Ana Paula Ano Bom têm trabalhado em um mesmo propósito: desenvolver a vacina de mRNA contra a covid-19 e destiná-las a países de baixa renda.

As injeções de mRNA altamente eficazes contra a COVID são as vacinas mais avançadas contra a doença. Mas até agora as empresas privadas Pfizer e Moderna são as únicas que conseguiram fazê-las. E ambas as empresas se recusaram a compartilhar suas patentes e seu know-how de fabricação. Agora Neves e Ano Bom estão determinadas a acabar com isso.

A parceria das duas cientistas vem de longa data. Elas se conheceram na faculdade, há mais de 20 anos, e desde então trabalham e também compartilham boa parte da vida juntas.

Após a faculdade, Neves tornou-se imunologista e logo se juntou à principal agência brasileira de pesquisa e desenvolvimento de vacinas, a Fundação BioManguinhos Fiocruz. Pouco antes da pandemia, ela tentou criar um tratamento semelhante a uma vacina para o câncer de mama que usaria a tecnologia de mRNA.

Já Ano Bom passou a ser bioquímica e também ingressou na BioManguinhos Fiocruz. Neves já havia listado a amiga para descobrir uma forma de encapsulamento de mRNA para o projeto de câncer de mama. Com a pandemia, ela propôs então que desenvolvessem uma vacina contra a COVID.

Investimento

Diferente da Moderna e Pfizer que são empresas privadas dos EUA e empresas europeias com centenas de milhões de dólares em financiamento, a BioManguinhos Fiocruz é uma entidade brasileira pública de pesquisa em saúde.

Mas Neves diz que a natureza do instituto traz uma vantagem. "Não tem fins lucrativos. Não estamos interessadas em dinheiro. Estamos interessadas em abrir essa tecnologia. Fornecer vacinas a quem mais precisa delas – esse é o principal motivador para nós."

Até agora Neves e Ano Bom gastaram cerca de US$ 1 milhão de dólares. Todo o seu orçamento é de cerca de US$ 15 milhões.

Portanto, quando a equipe conseguir fazer essa nova vacina de mRNA, elas se comprometeram a fazer algo que a Moderna e a Pfizer até agora recusaram: compartilhar a patente e o processo de fabricação com fabricantes de vacinas em todo o mundo.

A equipe brasileira está a caminho de iniciar a fase um dos ensaios clínicos este ano. E eles pretendem ter a vacina pronta para lançamento e fabricação em escala dentro de cerca de um ano e meio.

Elas querem que essa vacina contra o coronavírus – assim como quaisquer vacinas futuras para outras doenças usando sua tecnologia de mRNA – seja disponibilizada o mais rápido e amplamente possível para países de baixa e média renda.

"Ver pessoas morrendo por causa de doenças que já têm vacinas não é aceitável!”, disse Neves à NPR, que realizou e publicou a entrevista.