Coluna - Brasil vai a Mundial de judô paralímpico como protagonista

Por Agência Brasil

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  • O ranking considera os principais eventos do ano. Além do Campeonato Europeu, em Cagliari (Itália), foram realizadas três etapas do Grand Prix, em Antalya (Turquia), Nur-Sultan (Cazaquistão) e São Paulo. O Brasil liderou o quadro de medalhas nos três torneios, com quatro judocas conquistando o ouro em todos deles: Arthur Silva, Williams Araújo, Rosicleide Andrade e Rebeca Silva.

    "O Mundial será o primeiro evento que os pontos constarão para o ranking de classificação à Paralimpíada. Nos três Grand Prix, pudemos testar, ver alguns adversários, mas agora estarão todos reunidos. A expectativa é grande. Estaremos com atletas jovens, pensando no próximo ciclo [dos Jogos de 2028], mas mantivemos a base do ciclo passado, praticamente todos continuam e com grandes chances de medalha", projetou Jaime Bragança, técnico da seleção brasileira, à Agência Brasil.

    Não é devaneio pensar que o Brasil possa alcançar, em Baku, o melhor desempenho em Mundiais. Na edição de Antalya, em 2010, foram quatro pódios (uma prata e três bronzes). Quatro anos depois, em Colorado Springs (Estados Unidos), a delegação obteve seis medalhas, sendo uma dourada, nas equipes masculinas; uma prata e quatro bronzes. O primeiro ouro individual veio em Odivelas (Portugal), em 2018, com Alana Maldonado, além de dois bronzes.

    Em 2022, serão mais categorias valendo medalhas: 16, contra 13 das duas últimas edições. Isso porque o Mundial de Baku será o primeiro, desde a mudança na regra da modalidade, em que atletas cegos (classe J1) e de baixa visão (J2) passarão a competir separadamente. Cada classe tem oito pesos, sendo quatro por gênero. Antes, eram sete no masculino e seis no feminino.

    A divisão possibilitou, principalmente entre aqueles totalmente cegos, o surgimento de novos atletas e a afirmação de nomes mais experientes. Rosicleide e Arthur ilustram bem esse cenário. A primeira esperava, desde 2017, quando foi medalhista nos Jogos Parapan-Americanos de Jovens, em São Paulo, uma oportunidade na seleção adulta. Com incentivo da mãe, a judoca potiguar, de 24 anos, manteve o sonho vivo.

    "Teve um período que pensei em parar um pouco [com o judô], procurar um curso, outro momento em que quis voltar para o goalball, mas fui convencida pela minha mãe [a seguir no judô]. Ainda bem que a escutei [risos]", comentou Rosicleide, que tem como deficiência visual a retinopatia da prematuridade (nasceu com seis meses, pesando 900 gramas). "Gosto muito de judô, mas não tinha expectativa, depois de tantos anos treinando e sem ser convocada. [Chegar à seleção] Para mim, foi algo grandioso, impactante, fase a fase, competição após competição", completou a potiguar.

    Arthur, por sua vez, mesmo lutando contra judocas com baixa visão, já ostentava medalhas de prata e bronze em Jogos Parapan-Americanos. Em 2021, bateu na trave na busca pelo pódio na Paralimpíada de Tóquio (Japão), superado nas quartas de final e na disputa pelo bronze por adversários com grau menor de deficiência visual (o iraniano Vahid Nouri e o ucraniano Oleksandr Nazarenko). Do início do ano para cá, o judoca de 30 anos - também potiguar - não tem tomado conhecimento dos rivais, cegos com ele, que teve retinose pigmentar aos dois anos e perdeu completamente a visão aos 18.

    "A maior competição é contra nós mesmos, buscando melhorar, sem nos compararmos a ninguém. A gente enfrentava atletas com uma visão bem maior que a nossa, logo, a evolução deles era mais rápida que a de um cego total. Mas o treino segue o mesmo e a estratégia também, porque a gente sente que, ao longo dos 15 anos de carreira, tem evoluído ano a ano", avaliou o judoca, que concilia a boa fase no tatame com a filha Laura, de seis meses.

    "O nascimento dela, além de me alegrar muito, serve de inspiração, traz um gás a mais, para treinar mais, ter mais foco, aquele senso de responsabilidade, que impulsiona a buscar resultados melhores a cada dia. Se Deus quiser [voltar do Mundial com uma medalha]. Não vejo a hora de ela ter um pouco mais de tamanho para colocarmos a medalha no pescoço dela e tirarmos fotos [risos]", emendou.

    O Brasil terá uma delegação de 21 judocas em Baku, competindo nos 16 pesos. Em seis deles, o país terá dois atletas brigando por medalhas. Há, inclusive, chances de dobradinha no Mundial. Invicto em 2022, Williams tem como adversário, na categoria acima de 90 quilos, na classe J1, o tetracampeão paralímpico Antônio Tenório, que até o ano passado lutava entre os judocas até cem quilos. Já na categoria acima de 70 quilos da classe J2, a rivalidade entre Rebeca - outra com 100% de aproveitamento no ano - e Meg Emmerich, bronze em Tóquio, estará novamente em voga.

    "As outras seleções terão força máxima, inclusive com novos atletas. Acompanhamos o Campeonato Europeu e vimos que teremos novos adversários. Como uniram alguns pesos [com a divisão por classes], há atletas que subiram [de categoria], outros que emagreceram. [O Mundial] Será o melhor parâmetro para consolidarmos uma base pensando na Paralimpíada [de Paris]", concluiu Bragança.

    * Lincoln Chaves é repórter da TV Brasil