Trump fala em retaliação caso Brasil não elimine tarifa sobre etanol

O Brasil elevou de 600 milhões para 750 milhões de litros a cota de etanol importado sem tarifa. Acima desse volume, há imposto de 20%.

Por

Presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro durante encontro em 2019.

O presidente Donald Trump sugeriu em coletiva de imprensa na Casa Branca na noite de segunda-feira, 10, que poderá tomar medidas tarifárias em relação ao Brasil por conta do etanol norte-americano.

Questionado sobre a pressão que estaria fazendo para que o Brasil elimine tarifas sobre a importação do produto dos EUA, Trump afirmou que "em algum momento" esse assunto será discutido. "Nós não queremos pessoas nos tarifando".

Há pouco menos de um ano, o Brasil elevou de 600 milhões para 750 milhões de litros a cota de etanol importado sem tarifa. Acima desse volume, o imposto de importação é de 20%.

Agora, os americanos pedem ao governo brasileiro a extinção da cota e a tarifa zero para a venda do produto.

De janeiro a junho deste ano, o Brasil importou 584,2 milhões de litros de etanol dos EUA, movimentando US$ 301 milhões, segundo dados do Ministério da Agricultura.

"Eu acho que, no que concerne o Brasil, se eles fizerem tarifas, nós temos que ter uma equalização de tarifas", disse o presidente dos EUA.

As usinas brasileiras também vendem etanol aos americanos e, neste caso, a taxação é de 2,5% sobre o valor da mercadoria. No primeiro semestre do ano, o Brasil vendeu US$ 146,5 milhões, um total de 262,4 milhões de litros.

"Vamos estar apresentando algo que tenha a ver com tarifas, e com justiça. Porque temos, muitos países, por muitos anos, têm nos cobrado tarifas para fazer negócios, e nós não cobramos deles. E isso se chama reciprocidade, se chama tarifas recíprocas, e talvez você veja algo sobre isso muito em breve", afirmou Trump.

Segundo fontes ouvidas pelo G1, a decisão será tomada pelo presidente Jair Bolsonaro e que, caso decida por derrubar as tarifas, a assinatura partirá do Ministério da Economia.

Setores do Ministério da Agricultura tentam que, em troca da isenção ao etanol americano, o açúcar brasileiro seja liberado de tarifas. Afinal, ambos os produtos são feitos no país da cana-de-açúcar e seria uma forma de compensar a entrada do combustível dos Estados Unidos.

Porém, como o adoçante nos EUA é de beterraba e o combustível feito do milho, o Brasil terá que enfrentar dois grandes lobbies para avançar com a proposta.

Em nota enviada à imprensa na tarde de terça-feira, a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) afirmou que o presidente dos Estados Unidos "demonstra desconhecimento total sobre assunto quando fala da tarifa de importação do etanol".