Partido Republicano admite ter espalhado urnas de votação como 'oficiais' pela Califórnia

O Partido Republicano da Califórnia admitiu ter distribuído cerca de 50 caixas de depósito de votos identificadas como "oficiais" pelas ruas de alguns dos distritos do estado. Mas afirmou também que não vai tirá-las.

Segundo matéria publicada pelo New York Times, se tratam de grandes caixas de metal, de cor cinza escuro, que trazem a inscrição “urna eleitoral oficial”, estão colocadas ao lado de locais como igrejas, academias, centros comerciais e lojas de armas, e nem todas estariam identificadas como iniciativas ligadas ao Partido Republicano, segundo algumas denúncias.

Autoridades da Califórnia esclareceram que as urnas são ilegais. O secretário de Estado californiano, Alex Padilla, disse que “essa iniciativa não é permitida pela lei estadual, se trata de enganar os eleitores, o que é errado, independente de quem faça”.

Os chefes das promotorias Eleitoral e de Justiça do estado consideram a prática ilegal. Na Califórnia, esses cargos são eleitos e, no momento, ambos são ocupados por membros do Partido Democrata, adversários dos republicanos. O secretário de Estado Alex Padilla e o procurador-geral Xavier Becerra, ambos democratas, advertiram os republicanos que, se não retirarem suas caixas até quinta-feira, serão processados.

O apoio de Trump às caixas suspensas foi ecoado por oficiais estaduais do Partido Republicano, enquanto os dois principais partidos disputam as regras eleitorais durante a pandemia na Califórnia, onde os 21,2 milhões de eleitores do estado já receberam suas cédulas pelo correio.

Em um tweet na terça-feira, Trump escreveu: "Você quer dizer que apenas os democratas têm permissão para fazer isso? Mas os democratas não fazem isso há anos? Vejo você no tribunal. Lute contra os republicanos!”. 

As caixas vieram à tona em locais voltados para os republicanos, como igrejas e lojas de armas, enquanto os californianos começaram a devolver suas cédulas por correio em um ritmo recorde na semana passada. Como a Califórnia está dependendo fortemente da votação por correspondência este ano, os 58 condados do estado colocaram muito mais caixas oficiais em vários locais, de supermercados a escritórios eleitorais.

A eleição ocorre em dia 3 de novembro e como no país existem maneiras de votar antecipadamente, sendo uma delas por correio e também urnas oficiais da autoridade eleitoral, que são imunes a interferências de terceiros. Não há previsão de urnas eleitorais oficiais instaladas por partidos.

Em alguns estados há ainda uma outra opção: a “colheita de votos”. É uma prática legal, pela qual voluntários recolhem cédulas preenchidas e as entregam às autoridades. É isso que o Partido Republicano afirmou estar fazendo ao instalar as urnas eleitorais.

Os republicanos disseram na segunda-feira que confiar em urnas não oficiais não era diferente da "coleta de votos" que os democratas organizaram com grande sucesso durante as eleições de meio de mandato de 2018. De acordo com a lei da Califórnia, a coleta de cédulas de terceiros é legal, desde que o eleitor autorize formalmente outra pessoa a devolvê-la. Voluntários democratas na última eleição coletaram cédulas de eleitores que indicaram que queriam ajuda para apresentá-los.

O partido recebeu um aviso para que removessem as urnas não oficiais. O aparecimento das caixas levou o governador Gavin Newsom a acusar os republicanos da Califórnia de estar “dispostos a mentir, enganar e ameaçar nossa democracia, tudo para ganhar o poder”.