Guarda Nacional, toque de recolher: invasão pró-Trump no Congresso causa terror em Washington

O Capitólio foi invadido por seguidores de Donald Trump durante sessão do Congresso; uma mulher morreu

Por Arlaine Castro

Horas antes, Trump discursou para milhares de apoiadores em frente ao Capitólio.

O Capitólio, prédio que abriga o Congresso em Washington, foi invadido por seguidores de Donald Trump na tarde de quarta-feira, 6, durante sessão conjunta do Congresso de reconhecimento da vitória do democrata Joe Biden na eleição presidencial.

O vice-presidente, Mike Pence, que estava no local, foi retirado. A invasão ocorreu momentos depois de Donald Trump discursar em Washington afirmando que "nunca aceitará a derrota". Os manifestantes, que se recusam a aceitar o resultado da eleição, furaram a segurança do prédio. Eles chegaram a escalar uma estrutura montada para a posse de Joe Biden.

A capital decretou toque de recolher a partir das 18h locais, até as 6h da manhã de quinta-feira, 7. Agentes da polícia local, da Guarda Nacional e do FBI responderam a chamadas da confusão que teve ameaça de bomba e terminou com pessoas feridas. Após a invasão, parlamentares e jornalistas relataram tiros dentro do prédio do Congresso - uma mulher foi baleada.

Em meio à invasão, e à persistente presença de extremistas no prédio, Nancy Pelosi, presidente da Câmara, pediu a presença da Guarda Nacional. O pedido foi reforçado pela prefeita de Washington, Muriel Bowser.

O que dizem Trump e Biden

O próprio Mike Pence criticou a invasão. "Esse ataque ao nosso Capitólio não será tolerado", declarou. Horas depois, o presidente Donald Trump pediu que os manifestantes deixassem o local, mas voltou a dizer que a eleição foi roubada.

"Conheço sua dor. Tivemos uma eleição que foi roubada de nós", declarou Trump no discurso em vídeo. "Mas vocês precisam ir para casa. Precisamos ter lei e ordem." Ele também afirmou não querer "ninguém ferido", mas voltou a falar em "eleição fraudulenta".

Momentos antes da invasão ao Congresso, o presidente havia dito que marcharia junto com os manifestantes. "Eu estarei com vocês. Vamos andar até o Capitólio e felicitar nossos bravos senadores e congressistas", disse no discurso, no qual rejeitou, mais uma vez, reconhecer o resultado da eleição. Ele, porém, não foi visto na marcha.

O presidente eleito, Joe Biden, afirmou que a democracia está sendo atacada "como nunca antes" na história americana. "Preciso ser claro. Vemos um pequeno grupo de extremistas. Isso não reflete quem somos. Isso é desordem, e não discordar. É caos. Isso precisa acabar agora. Peço que essa multidão se retire e permita que a democracia avance", afirmou. E classificou a invasão do Congresso americano "um ataque contra o interesse do povo".

Pelo Twitter, Donald Trump havia distribuído mensagens em que não condenou a invasão. Ao contrário, dizia aos manifestantes para permanecerem pacificamente na Casa. Isso porque usou palavras "NÓS somos o Partido da Lei e da Ordem, respeitem a Lei e nossos grandes homens e mulheres em azul".

Joe Biden reagiu: "As palavras de um presidente podem inspirar, ou na pior das hipóteses, incitar. Peço a Trump que vá à televisão em rede nacional para manter seu juramento e defender a Constituição. Peça o fim desse circo", afirmou.

"Invadiram o Capitólio. Quebraram gabinetes. Isso não é protesto. Estão ameaçando representantes. O mundo está observando isso como muitos americanos. Estou triste e chocado. Sempre fomos um farol para a democracia e chegamos a esse triste momento", declarou Joe Biden. O presidente eleito citou que o país já "passou por guerras e sofrimento".

"Mas que temos de restaurar a democracia, a decência, a lei. A certificação dos votos do Colégio Eleitoral é um ritual sagrado. Isso porque reafirma a majestade da democracia nos Estado Unidos. Hoje, a democracia está frágil. Preservar a democracia requer líderes que se levantem", discursou Biden. "A América é melhor do que isso. Vendo essas cenas no Capitólio, lembro de Abraham Lincoln. Ele disse que precisamos ser nobres para salvar a melhor esperança da Terra. O caminho é justo e generoso."

Repercussão

O presidente e CEO da Associação Nacional de Manufatureiros, Jay Timmons, disse que Trump "incitou a violência na tentativa de manter o poder e qualquer líder eleito que o defenda está violando seu juramento à Constituição e rejeitando a democracia em favor da anarquia. O vice-presidente Pence, que foi retirado do Capitólio, deveria considerar seriamente trabalhar com o Gabinete para recorrer à 25ª Emenda para preservar a democracia".

Trump permanece no cargo até 20 de janeiro.