Volta a aumentar matrícula de estudantes estrangeiros em universidades dos Estados Unidos

O total de matrículas ultrapassou 2019-2020 em 10%, chegando a 5.583.753 até 18 de janeiro de 2021, aponta a Forbes.

Por Arlaine Castro

O estudante Bruno Andrade, de Salvador (BA), foi aprovado no ano passado para a University of Nebraska-Lincoln.

Com uma postura mais acolhedora aos imigrantes pela atual administração, a perspectiva de milhares de estudantes estrangeiros que querem os EUA como destino de estudos já se revela.

As inscrições internacionais para faculdades dos EUA neste ano já estão 9% acima do ano anterior, de acordo com dados do Common App publicados pela Forbes. A maioria dos principais países “remetentes” está apresentando aumento, com a notável exceção da China, a principal fonte de estudantes internacionais nos EUA.

Embora os pedidos da China tenham caído 18% em relação ao ano passado, essa perda é mais do que compensada por grandes aumentos de candidatos de vários outros países; incluindo Índia (+ 28%), Canadá (+ 22%), Nigéria (+ 12%), Paquistão (+ 37%), Reino Unido (+ 23%) e Brasil (+ 41%).

Além dos tradicionais, mercados emergentes de estudantes internacionais estão surgindo, segundo especialistas. Países da África, América do Sul e Índia, que já ocupa o segundo lugar depois da China como país de origem dos estudantes, tendem a se tornar alvos para universidades e faculdades diversifiquem seu alcance para estudantes estrangeiros.

Na Universidade de Boston, as matrículas de estudantes estrangeiros cresceram 9,9%. A Tufts University viu um aumento de 14% nas inscrições de estudantes internacionais no ano passado. Em todo o sistema, a Universidade da Califórnia teve um aumento de 10%. Como parte de seu recorde de 100.000 inscrições para admissões no primeiro ano, a New York University viu um aumento de 22% nas inscrições internacionais. Na Missouri State University, as inscrições de novos alunos internacionais aumentaram 38% em relação ao ano passado.

O total de matrículas ultrapassou 2019-2020 em 10%, chegando a 5.583.753 até 18 de janeiro de 2021, aponta a Forbes.

Em 2017, o número de novos alunos internacionais matriculados em faculdades e universidades americanas - ou seja, aqueles que estão chegando aos EUA pela primeira vez - diminuiu pelo primeiro ano registrado. Políticas restritivas de imigração, de emissão de vistos, relações desgastadas com nações estrangeiras e proibições de viagens contribuíram para novas quedas no número de novas matrículas.

Para a advogada de imigração do sul da Flórida, Haydee Nascimento, o governo Biden vai buscar incentivar a vinda de estudantes estrangeiros qualificados, como alunos de doutorado e pós-doutorado, inclusive com a possibilidade de receberem um green card. "Ele não quer que as pessoas que estão aqui estudando e que podem contribuir positivamente para a sociedade e a economia não se sintam motivados. E é justamente isso que estava acontecendo. As pessoas não estavam se sentindo com confiança mais de vir. A gente vê essa mudança como uma luz no final do túnel. Em geral, as pessoas que trabalham na área de imigração entendem que a meta do presidente Biden é voltar com uma administração que vá incentivar estudantes internacionais de vir para os EUA. Acredito que vamos ver mais pedidos de visto de estudantes aprovados com base na lei do que pedidos negados sem base na lei como estávamos vendo principalmente no Consulado no Brasil. A expectativa é que as coisas melhorem com base no que estamos vendo e nas ordens executivas já dadas pelo presidente", afirmou Nascimento.

Outro ponto levantado pela advogada são as altas dívidas dos estudantes, imigrantes ou não, de empréstimos do governo federal causadas na maior parte pelos juros altíssimos. Biden analisa criar uma ordem executiva para remover 50 mil dólares de dívidas que esses estudantes podem ter. "Independente de ser estudante estrangeiro ou não, e lembrando que a maioria deve estar legalmente e ter social security para obter um empréstimo federal para universidade, isso prova que o país está indo no caminho certo de tentar incentivar e ajudar estudantes que teoricamente são pessoas que vão contribuir e vão liderar o país através dos estudos", pondera.

Aprovado na University of Nebraska-Lincoln no ano passado, mas sem o visto em mãos por causa da pandemia, o estudante Bruno Andrade, de Salvador (BA), aluno do curso de Artes Cênicas, teve que esperar no Brasil e acha que Biden poderia prestar mais atenção aos estudantes brasileiros.

"Na última isenção de entrada Biden também não incluiu estudantes brasileiros. Acho que eles estão esquecendo dos estudantes brasileiros, deveriam dar uma atenção maior", analisa. O estudante fez o primeiro semestre de forma online e foi para o Equador em dezembro, onde ficou 14 dias, antes de embarcar para os EUA, conforme ordem executiva de Trump que permanece em vigor com restrição direta a estudantes ou turistas vindos do Brasil.

Estudantes qualificados

Evitar que os EUA percam talentos para outras nações é uma das promessas de Biden. Isso inclui tornar mais fácil para os alunos internacionais que estão trabalhando em graus avançados em ciência, tecnologia, engenharia e matemática - ou STEM (na sigla em inglês) - permanecerem e trabalharem após a formatura.

Biden propôs tornar mais fácil para os estudantes internacionais com pós-graduação em áreas STEM receberem vistos de trabalho e se inscreverem para residência permanente. Se bem-sucedido, Biden permitiria aos EUA reter um número maior de trabalhadores STEM que são essenciais para o crescimento econômico contínuo. Basta considerar que quase 25% das empresas iniciantes de bilhões de dólares tiveram um fundador que chegou aos EUA como um estudante internacional.

A principal recomendação que pesquisadores de todo o mundo têm para o governo Biden é expandir as colaborações científicas entre os EUA e outros países, aponta a Forbes. Dentre as ações ligadas à imigração revertidas por Biden estão o término da proibição de viagens para os EUA de vários países de maioria muçulmana; retorno das inscrições para o DACA e meios para fornecer aos mais de 200.000 estudantes universitários qualificados a esperança de um caminho para a cidadania.

Como membros de comunidades universitárias, os estrangeiros facilitam o desenvolvimento cultural intercâmbio e a transferência de conhecimento. E as declarações de Biden e as ações iniciais no cargo têm apoiado o ensino superior e acolhido os estudantes estrangeiros.