Onda de fakenews nos EUA tem latinos como alvo

Por Livia Mendes

A desinformação, originalmente promovida em inglês, é traduzida na Colômbia, no Brasil, no México e em outros lugares, então chega aos eleitores hispânicos nos EUA por meio de comunicações de seus familiares nesses países.

Um levantamento apartidário, publicado na semana passada, mostrou que a maioria das fake News que circulam na comunidade latina nos EUA "foram traduzidas do inglês e disseminadas pelas redes sociais bem como em plataformas de bate-papo em grupo fechado como o WhatsApp”. As fake News têm como objetivo diminuir a participação de latinos nas eleições, assim como no acesso a vacinas.

O estudo foi elaborado pela Universidade de Stanford em conjunto com a University of Washington e a empresa de análise de redes sociais Graphika and Atlantic Council’s DFRLab e mostra como essa rede de desinformação está sendo utilizada para enganar e manipular brasileiros e outras pessoas da comunidade latina que vivem nos EUA.

Para criar essas falsas narrativas, vídeos e fotos são modificados, e citações são tiradas de contexto. Segundo a pesquisa, a ideia por trás da onda de desinformação focada na comunidade latina é manipular esse grupo de acordo com os interesses das organizações que promovem as fake News, envolvendo desde poder de voto na última eleição americana até mais recentemente em esforços para minar os esforços de vacinação contra o coronavírus.

Ainda não está claro de onde vem o financiamento ou como é feita a estrutura organizacional desse sistema, mas o relatório aponta que “as narrativas mais proeminentes e compartilhadas foram estreitamente alinhadas ou completamente reaproveitadas pelos meios de comunicação de direita”.

Fake News na eleição passada

Na corrida para a eleição de novembro, esse sistema, promovido nas redes sociais e frequentemente alimentado por contas automatizadas, foi parte de um movimento mais amplo, em grande parte não detectado, para diminuir a participação de latinos e espalhar desinformação sobre o democrata Joe Biden entre esses eleitores.

O movimento mostrou como as redes sociais e outras tecnologias podem ser aproveitadas para espalhar desinformações tão rapidamente que aqueles que tentam impedi-las não conseguem acompanhar.
Durante a corrida presidencial, a desinformação em espanhol com raízes latino-americanas geralmente atinge primeiro a Flórida, estado americano com maior população de origem latina.

A corrente de fake news pode ter ajudado a alimentar ganhos significativos no apoio latino a Trump. Os brasileiros que moram nos Estados Unidos, por exemplo, obtiveram vídeo manipulado de um debate presidencial democrata nas primárias, quando Biden sugeriu que arrecadaria $ 20 bilhões para ajudar o país a combater o desmatamento na Amazônia, o que faz parecer que Biden enviaria tropas dos EUA ao Brasil.

O papel das redes sociais

Grande parte do material falso divulgado vem de fontes domésticas, como “influenciadores” de rede social e se origina cada vez mais de sites online na América Latina.

Já desinformação promovida originalmente em inglês é traduzida e então chega aos eleitores hispânicos nos EUA por meio de conversas entre familiares que moram na América Latina. Isso geralmente é compartilhado por meio conversas do WhatsApp e do Facebook. Embora os contatos que moram América Latina muitas vezes não possam votar nos EUA, eles podem influenciar eleitores latinos nos Estados Unidos.

Os proponentes dessas campanhas de desinformação agora estão tentando espalhar o caos de forma mais ampla, principalmente sobre as vacinas. Esse impulso é especialmente perigoso porque os latinos têm maiores chances de serem infectados, hospitalizados e morrerem de COVID-19 do que brancos e afro-americanos ou asiáticos.

O que as redes tem feito

YouTube, Facebook e outras empresas de mídia social têm monitorado alegações falsas desde antes da eleição passada e intensificaram esses esforços depois do ataque ao Capitólio.

“Estamos realizando a maior campanha online de informações sobre vacinas da história em nossos aplicativos em dezenas de idiomas”, disse Kevin McAlister, porta-voz do Facebook que possui WhatsApp e Instagram. “Removemos milhões de conteúdos do Facebook e Instagram que violam nossas políticas de informação sobre Covid-19 e vacinas”, afirmou McAlister.

O WhatsApp agora limita a capacidade dos usuários de enviar mensagens altamente encaminhadas para mais de um bate-papo por vez; que levou a uma redução de 70% no número dessas mensagens. A empresa também fez parceria com o Google para fornecer um recurso que permite aos usuários pesquisar na internet o conteúdo das mensagens encaminhadas para melhor verificar a veracidade.

Fonte: NBC Miami