Número de crianças que vivem apenas com as mães dobrou nos últimos 50 anos nos EUA

Grande retorno do público em posts do Facebook mostra essa realidade também dentro da comunidade brasileira.

Por Arlaine Castro

Jheniffer Castro, de 22 anos, cria sozinha as filhas Valentina, 6 anos, Maria Cecília, 4, Hellena, 2, em Boca Raton.

O número de crianças que vivem com os dois pais diminuiu desde 1968, enquanto a porcentagem que vivem com a mãe dobrou. Em 1968, 85% das crianças menores de 18 anos viviam com dois pais (independentemente do estado civil); em 2020, 70% o fizeram, de acordo com o Current Population Survey* (CPS) do Census Bureau.

Monitorar essas tendências é importante. O modo e com quem as crianças são criadas implicam diretamente em seu futuro.

Morando com dois pais

Segundo o censo, em 1968, cerca de 60 milhões (85%) de crianças americanas menores de 18 anos viviam com dois pais. Mas esse número teve queda entre 1968 e 2020, quando o número de crianças que moram com os dois pais caiu para 51,3 milhões (70%).

Morando apenas com a mãe

Já a diferença maior está para filhos que moram apenas com a mãe - é o segundo arranjo domiciliar mais comum nos Estados Unidos. Cerca de 7,6 milhões (11%) de crianças viviam com a mãe apenas em 1968, em comparação com 15,3 milhões (21%) em 2020, aponta a análise. 

Só com o pai

O número de filhos que vivem apenas com o pai, embora ainda pequeno, também aumentou de 0,8 milhão (1%) para 3,3 milhões (4,5%) entre 1968 e 2020, segundo os dados. 

Brasileiras 

Ainda não há uma estimativa de quantas brasileiras que moram na Flórida criam o(a)(s) filho(a)(s) sozinhas, segundo resposta do Consulado Geral do Brasil em Miami ao Gazeta News. Entramos em contato também com grupos de mães brasileiras do Facebook, onde o retorno de mulheres com esse perfil foi grande, o que confirma, em parte, a mudança do perfil populacional descrita no censo.

Uma delas é Jheniffer de Castro, de 22 anos, estudante de fotografia, que trabalha em construção e como 'house cleaning' nas horas vagas, e sozinha cria as três filhas, Valentina, 6 anos, Maria Cecília, 4, Hellena, 2, em Boca Raton.

Castro chegou na Flórida há cinco anos casada, mas logo depois se separou. Segundo ela, o mesmo acontece com muitos casais que estão em relacionamentos abusivos, por isso há mais mães sozinhas com os filhos.

"Eu tenho duas filhas com um cara que fui casada por seis anos e que veio comigo do Brasil. Só quando chegou aqui que fui enxergar melhor a relação ruim que tínhamos e consegui me separar. Ele, por sua vez, não aceita me ver com outro e não paga pensão das filhas. Hoje tenho um processo de violência doméstica contra ele porque me ameaça com frequência. E minha filha mais nova tem um 'pai' que me pediu para abortá-la e eu não fiz, então ele não existe, nunca a viu e nem ela a ele", desabafa.

Para Castro, esse aumento de filhos morando só com a mãe tem muito a ver com a liberdade que aqui proporciona para mulheres poderem sair de relacionamentos ruins. "É bem diferente do Brasil. Aqui te liberta de uma prisão que você acha impossível de sair, como por exemplo, mulheres que viviam relacionamentos abusivos e que aqui conseguiram se separar, como meu caso. Os Estados Unidos é meio que uma faculdade abre seus olhos, doa o que doer, sabe", analisa.

Morando em um quarto com as três filhas porque é o que consegue pagar no momento, Jhenifer conta que ser fotógrafa, mas ainda não tem o nome conhecido. Então, faz todo tipo de trabalho, até construção. "Hoje trabalhei na construção quebrando casa, fazendo demolição, cercas. Pego todo tipo de trabalho pra ajudar".

 

Outra brasileira, Ester Belmonte Tortoretto, de 31 anos, também enfrenta o desafio de criar sozinha os filhos, Benjamim, 8, e João, 6 anos. Morando em Boca Raton desde julho de 2016, Leonello conta que o desafio é grande também porque não tem o apoio do pai para a criação dos filhos como deveria e o mais velho é autista.

"Crio meus filhos sozinha faz praticamente 3 anos. Eu decidi divorciar aqui depois de um relacionamento muito complicado. Acreditei nas palavras do pai deles que continuaria cuidando deles comigo, porém não aconteceu. Ele fala que eu pedi para ser mãe solteira desde o momento que pedi o divórcio. Atualmente ele mora em outro estado, casou de novo e vê os meninos quando quer, umas três vezes ao ano. E paga o valor que quer de 'pensão'", conta.

A jovem vem tendo ajuda psicológica pelo "Woman in Distress", uma organização de apoio a brasileiras e outras mulheres que sofrem de violência doméstica ou passam por situações de vulnerabilidade. "Isso realmente vem me ajudando. Vem sendo um grande desafio para mim, que tinha uma vida muito boa antes. Mas muito feliz de estar conseguindo sustentar meus filhos , trabalhar, e realmente ser feliz com eles. Ainda tenho muitos desafios pela frente, mas força não falta", analisa.

Para Tortoretto, o número de mães solteiras vem aumentando "porque aqui conseguimos trabalhar e sustentar a casa, coisa que no Brasil seria completamente impossível. Além de trabalhar, conseguimos ter qualidade de vida , passear com eles, comer fora. Tudo muito barato, museu, playground, praias, parques. Acredito que é isso, não sobra dinheiro, porém conseguimos dar qualidade de vida e um futuro melhor para eles . Eu decidi ficar aqui principalmente pelo meu filho autista que possui todo o suporte aqui, que seria muito caro no Brasil", finaliza.