Por que a escassez de fórmula infantil nos EUA está em alta e é séria?

Por Arlaine Castro

Uma fábrica da Abbott que produz grande parte da fórmula Similac, bem como várias outras marcas, fechou voluntariamente em fevereiro, em meio a reclamações de consumidores sobre fórmula contaminada que estava associada a duas mortes infantis.

Fórmulas infantis estão em falta nas prateleiras em todos os Estados Unidos, ameaçando a saúde de bebês e outras pessoas que dependem dela para seu sustento.

Especialistas dizem que esta é a pior escassez de fórmulas em décadas. É também o exemplo mais recente de como as falhas do sistema de saúde dos EUA atingem consistentemente pessoas com condições médicas complexas e pessoas em desvantagem socioeconômica.

Por que a escassez?

A escassez pode ser atribuída a um problema de contaminação em uma fábrica da Abbott que produz grande parte da fórmula Similac, bem como várias outras marcas, para o mercado americano.

A Abbott fechou voluntariamente a fábrica em fevereiro, em meio a reclamações de consumidores sobre fórmula contaminada que estava associada a duas mortes infantis.

Até hoje, a fábrica ainda não voltou a funcionar. Como o Politico informou na semana passada, não está exatamente claro por que a Abbott e a FDA não chegaram a um acordo que permitiria à fábrica retomar a produção de fórmula e ajudar a aliviar a escassez.

Dessa forma, a paralisação prolongada dessa fábrica, combinada com problemas gerais da cadeia de suprimentos para os ingredientes e embalagens da fórmula, levou à rápida baixa do estoque dos supermercados.

Em todo o país, cerca de 40% das marcas de fórmulas infantis mais populares estavam esgotadas em 24 de abril, de acordo com o Wall Street Journal, muito acima da média de 10% em tempos normais.

Algumas partes do país estão com mais da metade de sua oferta normal esgotada. A compra em meio às notícias da escassez já fez com que algumas grandes redes limitassem o número de recipientes de fórmula que qualquer pessoa pode comprar. Os funcionários públicos já estão preocupados com a possibilidade de manipulação de preços.

Por que a falta de fórmula infantil é tão séria?

A maioria das famílias depende de fórmula infantil em um grau ou outro. Quase um em cada cinco bebês recebe fórmula nos primeiros dois dias de vida, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Aos três meses, menos da metade dos bebês está amamentando exclusivamente, o que significa que eles estão tomando pelo menos alguma fórmula como suplemento.

E para algumas pessoas, a fórmula não é uma escolha, mas uma necessidade. Às vezes, um bebê luta com a amamentação e precisa de fórmula para continuar ganhando peso. Mas alergias ou condições imunológicas também podem exigir o uso de fórmulas, inclusive na infância e na idade adulta. Cerca de 2.000 americanos têm um distúrbio metabólico tão grave que a fórmula de aminoácidos é seu único meio de sobrevivência, diz um relatório do site Politico.

Especialistas recomendam verificar com o pediatra para obter amostras, mas essa é outra maneira pela qual o sistema de saúde dos EUA falha, segundo análise do portal: pessoas em situação de pobreza e pessoas negras também são menos propensas a ter uma fonte regular de assistência médica.

O que está sendo feito?

Grupos de defesa como a National WIC Association pediram detalhes de como essa crise aconteceu. Eles apontam a concentração no mercado de fórmulas infantis, com apenas três empresas concorrendo para fornecer fórmulas para 1 milhão de bebês que recebem fórmulas por meio do programa WIC, como um dos problemas.

A FDA também sugeriu maneiras pelas quais os EUA podem evitar futuras emergências. Atualmente, nenhuma lei exige que os fabricantes de fórmulas informem o governo federal sobre quaisquer interrupções de fornecimento. Exigir um aviso daria a chance de começar a fazer planos de contingência.

Segundo o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, o presidente Biden conversou com varejistas e fabricantes, incluindo Walmart, Target, Reckitt e Gerber, para discutir maneiras de colocar mais fórmulas com rapidez e segurança nas prateleiras das lojas. Desde então, os fabricantes aumentaram a produção em 30% a 50%, elevando a produção total hoje acima dos níveis pré-recall com um mix diferente de produtos e tamanhos agora disponíveis no mercado.

O governo anunciou ainda uma série de ações, incluindo a redução da burocracia sobre os tipos de fórmulas que os pais podem comprar, pedindo à Comissão Federal de Comércio e aos procuradores-gerais estaduais que reprimam a manipulação de preços e práticas desleais de mercado e o aumento da oferta de fórmulas por meio do aumento importações. Com informações da VOX.