Câmara aprova aumento da idade para compra de armas semiautomáticas nos EUA

Por Arlaine Castro

A lei Protecting Our Kids Act aumenta a idade mínima para comprar armas semiautomáticas de 18 para 21 anos nos Estados Unidos.

A Câmara aprovou na quarta-feira, 8, uma lei abrangente sobre armas que aumenta a idade mínima para comprar armas semiautomáticas de 18 para 21 anos nos Estados Unidos. A medida agora irá para votação no Senado, que deve barrá-la, uma vez que a maioria já sinalizou não apoiar mais rigor no controle da comercialização de armas no país.

O projeto de lei, chamado Protecting Our Kids Act, também impediria a venda de cartuchos de alta capacidade e instituiria novas regras que determinam o armazenamento adequado de armas em casa.

A proposta foi aprovada por 223 a 204, seguindo majoritariamente as linhas partidárias de maioria democrata. Apenas cinco republicanos não votaram contra a abrangente medida democrata.

Agora, as negociações continuam no Senado, onde negociadores bipartidários tentam chegar a um acordo mais sobre medidas para aumentar os recursos para saúde mental, segurança escolar e incentivos para que os estados recolham as armas de pessoas consideradas perigosas. Ainda há, no entanto, “pontos de discórdia em todo lugar”, segundo o senador John Cornyn, um dos quatro republicanos que integram a comissão convocada pelo líder da maioria, o democrata Chuck Schumer.

No formato atual, a rejeição ao projeto aprovado pela Câmara parece certa: cada partido tem 50 senadores, apesar de os democratas terem o voto de minerva em caso de empate, que cabe à vice-presidente Kamala Harris.

O projeto, no entanto, precisaria de 60 votos favoráveis para vencer a cláusula de obstrução do Senado, algo cuja probabilidade parece quase nula neste momento, apesar dos eventos recentes, como o massacre escolar em Uvalde, Texas, realizado por um homem de 18 anos com armas compradas legalmente apenas dias antes.

Dias antes, em 10 de maio, 10 pessoas morreram em um ataque racista em Buffalo, no Estado de Nova York. No dia seguinte, um atirador deixou um morto e cinco feridos em uma igreja na Califórnia. Em 1º de junho, quatro pessoas perderam a vida em um hospital em Tulsa, em Oklahoma.

Horas antes da votação, os pais de uma das crianças que morreram no ataque em Uvalde falaram aos parlamentares durante uma audiência sobre violência por arma de fogo. Kimberly Rubio, mãe de Lexi, de 10 anos, falou sobre a última vez que viu sua filha e sobre o desespero de ser informada sobre a morte da menina antes de pedir ação:

“Nós queremos um veto às armas semiautomáticas e aos cartuchos de alta capacidade”, disse a mulher, que falou por videoconferência ao lado do marido. “Por alguma razão e para algumas pessoas com dinheiro, para pessoas que financiam campanhas políticas, armas são mais importantes que crianças. Então, neste momento, pedimos progresso”, disse.

O casal foi acompanhado por Roy Guerrero, o único pediatra da pequena cidade texana, de maioria latina. O médico, que compareceu pessoalmente, descreveu em detalhes os estragos que o fuzil AR-15 causou nas vítimas, afirmando ter atendido duas crianças “cujos corpos foram pulverizados pelas balas disparadas contra elas, decapitadas” e que só eram identificáveis por suas roupas com estampas de personagens de desenho animado sujas de sangue.

A menina Miah Cerrillo, de 10 anos, que sobreviveu ao ataque sujando-se com o sangue de uma colega e fingindo-se de morta, compartilhou seu depoimento em um vídeo: “Ele atirou na minha amiga que estava ao meu lado”, disse a menina em tom baixo. “Achei que ele fosse voltar à sala”.

Outras tentativas democratas de aumentar o controle sobre os armamentos já foram barradas pelo Partido Republicano, como a proposta apoiada pelo então presidente Barack Obama há uma década, que não venceu a obstrução. O projeto foi apresentado nos meses seguintes ao massacre de Sandy Hook, em 2013, quando 20 crianças foram mortas em uma escola em Connecticut. Fonte: New York Times.