Mulheres aumentam participação no mercado imobiliário da Flórida

Mais mulheres ocupam cargos de corretora de imóveis comerciais (29%), um aumento de 6% em relação a 2015, segundo o estudo da Commercial Real Estate Women

Por Arlaine Castro

De cerca de 2 milhões de pessoas licenciadas no mercado imobiliário comercial nos Estados Unidos, 64% seriam mulheres, estima a Association of Real Estate License Law Officials.

Em um mercado atrativo como o imobiliário, que movimenta milhões de dólares todos os anos, as mulheres vêm cada vez mais mostrando interesse e participação. A Association of Real Estate License Law Officials (Associação de Funcionários da Lei de Licenças de Imóveis, em tradução livre) estima que haja atualmente cerca de 2 milhões de pessoas licenciadas no mercado imobiliário comercial nos Estados Unidos - desses, 64% seriam mulheres.

Na Flórida, 65% dos membros inscritos no Florida Realtors são mulheres. Nacionalmente, o corretor de imóveis típico é uma mulher branca de 55 anos que cursou a faculdade e é proprietária de uma casa, aponta a Association of Real Estate License Law Officials. Houve um aumento de 5,4% nas mulheres com idade de 39 anos ou menos, indicando um crescimento na geração de mulheres jovens e emergentes profissionais nessa área, de acordo com o estudo de 2020 "Gênero e diversidade em imóveis comerciais", da Rede de Mulheres do Setor Imobiliário Comercial (Commercial Real Estate Women Network), sediada em Kansas.

Mais mulheres ocupam cargos de corretora de imóveis comerciais do que nunca antes (29%), um aumento de 6% em relação a 2015, segundo o estudo.

De acordo com a Associação Nacional de Corretores de Imóveis, 65% dos corretores são licenciados como agentes de vendas, 22% possuem licenças de corretores e 15% possuem licenças de corretores associados. Na Flórida, 76% dos corretores são agentes de vendas licenciados, 13% possuem licenças de corretor e 12% possuem licenças de corretor associado, segundo a Florida Realtors.

Desigualdade salarial

Porém, apesar do aumento na participação nesse mercado, quanto se trata de salário, as mulheres continuam ganhando menos que os homens. Em 2020, a diferença salarial fixa entre os gêneros é de 10,2% e a diferença de comissão e bônus é de impressionantes 55,9%, segundo o estudo.
Globalmente, as mulheres no setor imobiliário comercial ganham $ 90.754 por ano contra $ 101.025 por ano para os homens, uma diferença salarial de gênero de 10,2%, analisa o estudo.
Contrastando com essa realidade, no sul da Flórida, o estudo sugere que as mulheres estão recebendo mais que os homens. "As mulheres brancas recebem em média um salário de $ 148.582 por ano, enquanto as mulheres negras ganham uma média de $ 91.230 por ano. Os homens ganham em média $ 53.562 por ano, cerca de 59% menos do que as mulheres brancas e 42% menos do que as mulheres negras", afirma o estudo do Kansas.

Cargos de liderança e comissão

Ainda assim, quando se trata de cargos de comissão e apenas bônus, a diferença entre os gêneros também é grande. As mulheres brancas ganham em média $ 82.513 por ano e as mulheres negras ganham $ 40.717 por ano. Os homens ganham em média $ 353.062 por ano - uma diferença de 77% para as mulheres brancas e 88% para as mulheres negras, afirma o estudo.

Ou seja, as mulheres podem estar aumentando a participação no setor imobiliário comercial em quantidade, mas ainda não ocupam tantos cargos executivos quanto os homens, nem são tão bem remuneradas como eles.

Por exemplo, as mulheres representam 25% dos membros da organização imobiliária e de uso da terra. Mas elas representam apenas 14% dos CEOs, descobriu o Urban Land Institute em uma pesquisa sobre mulheres em liderança.

Brasileiras na Flórida

Para saber o que pensam brasileiras que atuam no mercado imobiliário comercial da Flórida, o Gazeta News entrevistou três delas em diferentes regiões: Orlando, Tampa e Miami.

arquivo pessoal - Corina Lessa atua no mercado de imóveis de Tampa há 6 anos.

Corina Lessa Silva - Tampa

Proprietária da Tampa Bay Key Realty, Corina Lessa Silva atua no mercado de imóveis de Tampa há 6 anos e conta que teve interesse quando precisou comprar uma casa.

"Escolhi trabalhar com isso porque sempre trabalhei com vendas e quando fui comprar minha primeira casa aqui nos EUA, decidi tirar a licença para entender melhor do processo. Na época, não conhecia corretores brasileiros na região e não tinha ideia de como funcionava", destaca.

Sobre a diferença salarial, ela diz que não enxerga pelo fato de receberem comissões ao invés de salário. "Somos todos comissionados e as comissões são pré-estabelecidas e de domínio de todos os corretores quando inseridas no MLS. Nunca passei por situação que demonstrasse algo diferente", analisa.

É um mercado promissor e que melhora muito com o passar do tempo, por causa das indicações, segundo Silva. "Quando comecei, no meu primeiro ano fiz por volta de $40,000. Vendi umas 5 casas. A cada ano que passa o número de casas vendidas é multiplicado porque nesse mercado, trabalhamos muito com indicações. E quanto mais clientes satisfeitos você tem, mais indicações você tem. Então a tendência dos ganhos dos corretores que se dedicam e fazem um bom trabalho só aumenta. Em 5 anos de carreira tenho mais de 100 imóveis vendidos, mas como eu também abri a minha imobiliária e tenho outros corretores debaixo da minha licença, tenho diferentes trabalhos e diferentes fontes de renda. Posso dizer que um bom corretor que trabalhe 'full time' e já tenha clientela, ganha em MÉDIA aqui na nossa região por volta de $120,000 ao ano", explica.

Para ela, deve existir mais mulheres do que homens corretores de imóveis na região de Tampa, e aumentou o número de brasileiros atuando nesse mercado. "O número de corretores brasileiros aumentou demais nos últimos 2 anos. E eu vejo que a maioria dos novos corretores é mulher. De modo geral, muitos corretores brasileiros estão se sobressaindo aqui na região e se tornando muito bem sucedidos mesmo entre os americanos. Eu acredito que sendo um bom profissional, não importa se seja homem ou mulher, as possibilidades de ganhos são as mesmas", opina.

arquivo pessoal - Corina Lessa atua no mercado de imóveis de Tampa há 6 anos.


Susana Rodrigues - Orlando

Há cinco anos no mercado imobiliário da região de Orlando com a RE/MAX Downtown, a agente Susana Rodrigues diz que gosta de lidar com pessoas e do mercado imobiliário, o que, em sua opinião, é o "casamento perfeito". Para ela, o mercado não favorece homem ou mulher de maneira distinta, mas sim quem sabe negociar melhor.

"Não é uma questão de ser homem ou mulher. Porém, se as mulheres estão recebendo mais, significa que temos melhores métodos de negociação. Talvez porque, como mães e esposas, aprendemos a negociar constantemente", afirma.

Acerca da rentabilidade do mercado e o salário na região de Orlando, Rodrigues diz que depende do trabalho e como se pratica.

"Eu, particularmente, e meu escritório, não fechamos com ninguém por menos de 6%, 3% para quem compra e 3% para quem vende, com pouquíssimas exceções. Como exemplo, em um volume de vendas no valor de $3,500,000.00 por ano, daria um salário aproximado de $100,000.00", calcula.

E analisa o aumento de brasileiras como corretoras de imóveis. "A Flórida é um dos estados que mais cresce, temos milhares de pessoas mudando para cá todos os meses. Há uma oportunidade no mercado imobiliário e as brasileiras estão aproveitando o momento".

E completa que as mulheres brasileiras são empenhadas em sempre dar o melhor de si em seus negócios e como corretoras "temos a vantagem de servir um grupo maior de clientes, pois a maioria fala português, inglês e espanhol. Com empenho e honestidade o céu é o limite!", destaca.

Tanto que, no quesito raça, se branco ou negro, conforme citado pela pesquisa nessa matéria, para Rodrigues, isso não é o fator determinante para o sucesso ou fracasso. E dá o exemplo do seu escritório. "Temos uma corretora negra e ela sempre ganha prêmios de excelência em vendas. Na verdade, ela tem sido uma referência em minha vida como corretora. Mais uma vez, chegamos a conclusão que o conhecimento do mercado e métodos de negociação e empenho pessoal determinam quanto um corretor ganha e não a cor de sua pele ou se homem ou mulher", finaliza.

arquivo pessoal - Corina Lessa atua no mercado de imóveis de Tampa há 6 anos.

Neise Cordeiro - Boca Raton

Apesar de estar trabalhando como agente de imóveis da Century 21 Stein Posner, no sul da Flórida, há poucos meses, Cordeiro conta que já trabalhou em Nevada e que as mulheres vêm fazendo a diferença como profissionais.

"A motivação veio da flexibilidade de horário e a possibilidade de trabalhar de casa (eu cuido de minha mãe, com problemas de saúde, ficando mais fácil atendê-la, quando necessário). Além disso, gosto de ajudar as pessoas e todos ao meu redor sempre me diziam que minha personalidade ajudaria muito na profissão", conta.

Para ela, tanto homem como mulher podem se dar bem, tudo depende do esforço e jeito de trabalhar de cada um.
"Nas empresas onde trabalhei e na que trabalho agora, vejo ambos, homens e mulheres, que se destacam como “top producers” no mercado de real estate, mas a diferença entre ambos gêneros pode estar em como nós mulheres temos mais sensibilidade, paciência em escutar o cliente, e também de aprender com as experiências do mercado imobiliário. Já os homens são mais rápidos na hora de negociar e fechar o negócio.

Tudo depende da situação, mas no meu ponto de vista ambos possuem fortes habilidades e capacidade de realizar transações imobiliárias", pondera.

E completa sobre as mulheres estarem se sobressaindo. "Acho que a pesquisa demonstra que a mulher tem se dedicado ao mercado imobiliário de maneira honesta, profissional, e com muita competência, e por isso o resultado é esse. Nesse e em outros setores não perdemos em nada para nossos colegas do sexo masculino. O segredo é continuar aprendendo e valorizando nosso trabalho. Se você é dedicada no que faz, efetua seu trabalho com a mesma honestidade e competência que um colega, seja ele homem ou mulher, então merece ser remunerada de acordo com sua performance, e ponto final".

Muitos pensam que no momento que recebemos a licença começamos a ganhar dinheiro, mas não é bem assim, o trabalho apenas começa. Temos que nos dedicar, estar constantemente nos educando, mantendo a integridade e profissionalismo para mais adiante colhermos os frutos. Todo negócio funciona assim", finaliza.

Após obter sua licença na Flórida, Neise diz que foi procurada por algumas amigas, inclusive latinas, que estavam interessadas em tentar uma carreira nessa área. "Elas se inspiram e buscam informações com pessoas próximas e que confiam".