Com novo aumento de casos, a Flórida está testando a "imunidade de rebanho" contra a COVID-19?

As taxas de positividade em vários condados voltaram a ficar acima de 8%, após uma média próxima a 5% em outubro

Por Arlaine Castro

As hospitalizações pela COVID-19 aumentaram 25% nas últimas duas semanas e mais de 35% nos últimos 30 dias, segundo a Agency for Health Care Administration.

Os especialistas se perguntam e alertam: a Flórida é o caso-teste da nação para a chamada imunidade coletiva da COVID-19? A Flórida pode voltar à vida normal sem conter a disseminação do novo coronavírus? Com mais casos e hospitalizações pela doença nas últimas semanas e medidas restritivas sendo retiradas, as dúvidas sobre o futuro da pandemia na Flórida preocupam. Sem contar a aproximação do inverno que pode contribuir para maior circulação do vírus.

As taxas de positividade na Flórida e em vários condados voltaram a ficar acima de 8%, após uma média próxima a 5% em outubro. As hospitalizações por causa da COVID-19 aumentaram 25% nas últimas duas semanas e mais de 35% nos últimos 30 dias, de acordo com o secretário interino da Agency for Health Care Administration Shevaun L. Harris ao jornal News4Jax.

O aumento nas hospitalizações ocorre à medida que o número de casos de COVID-19 no estado continua a subir. Na quarta-feira, 10, o Departamento de Saúde da Flórida relatou um total de 852.174 casos de COVID-19 na Flórida, um aumento de 4.316 casos em relação à contagem de terça-feira. Mortes pela doença somam 17.248 (residentes) e 212 (não-residentes). Os condados de Miami-Dade, Palm Beach e Broward encabeçam a lista, seguidos por Hillsborough e Pinellas.

O enfermeiro Leonard M. Vuicsin, 53 anos, trabalha no Jackson Memorial Hospital e disse ao Gazeta News que as internações recentes estão refletindo a média de positividade dos casos que está aumentando no estado. "Estamos preparados para a possibilidade de uma nova onda de Covid para fim de Novembro ou Dezembro", afirmou.

Aos poucos, o funcionamento dos locais vai se normalizando. As aulas presenciais foram retomadas na maior parte das escolas, quase todas as partes do comércio - incluindo restaurantes e clubes -já voltaram a funcionar - com algumas restrições como uso de máscaras e distanciamento social. Praias e parques também estão liberados es governos locais já não podem impor multas pela falta de máscara.

Imunidade de rebanho

O governador Ron DeSantis segue uma política proposta pela Casa Branca da chamada "imunidade de rebanho" ou imunidade coletiva - que é permitir que o vírus se espalhe livremente até que a maioria da população seja infectada e, no caso, adquira anticorpos suficientes para ficar imune e conter a propagação do vírus.

Imunidade de rebanho é o termo científico para o que ocorre quando uma proporção grande o suficiente de uma população tem imunidade suficiente para retardar a propagação de um vírus porque menos pessoas podem ser infectadas. A forma mais segura de obter imunidade coletiva é vacinar cerca de 70% da população. Também pode ocorrer "naturalmente", se um número suficiente de pessoas sobreviver à infecção para desenvolver imunidade duradoura. Ou, como sugerem Scott Atlas, o polêmico consultor atual do coronavírus da Casa Branca, e DeSantis, a imunidade de rebanho pode ser alcançada por meio de uma combinação de ambos.

No entanto, não se tem resultados concretos de que essa técnica funcione e seja a mais segura para a população nessa pandemia. E como ainda não há vacina pronta, o número de mortes pode aumentar até que se alcance o patamar almejado da imunização coletiva, apontam especialistas.

Essa abordagem do governador em adotar a imunidade de rebanho tem sido bastante criticada. "Espero sinceramente que a Flórida não siga esse caminho. É bastante claro que uma pequena minoria de pessoas já foi infectada neste momento. Se os líderes políticos decidirem seguir esse caminho e encorajar as pessoas a se infectarem ... um número extraordinário de pessoas morrerá desta doença antes que a imunidade seja alcançada na população", disse Tom Inglesby, diretor do Centro Johns Hopkins para Segurança de Saúde ao Miami Herald.

De acordo com cálculo de infectologistas, o limite mínimo para obter imunidade de rebanho em uma população é de cerca de 60%. Não se sabe exatamente quantos floridianos foram infectados até o momento. Dos 852.174 casos de COVID-19 relatados na Flórida, especialistas em saúde pública dizem que certamente é uma contagem subestimada - a questão é quanto. A Flórida tem 22 milhões de habitantes e as infecções relatadas representam cerca de 3,8% da população. Modelos matemáticos avançados colocam o número estimado de infecções totais perto de 4,2 milhões, o que seria 19%.

Enquanto isso, o uso de máscara e o distanciamento social seguem mais eficazes.