Brasileiros se destacam em trabalhos voluntários pela Flórida

Seja como guardiã de crianças em situação de vulnerabilidade, doando alimentos a moradores de rua ou ajudando recém-chegados: brasileiros fazem a diferença

Por Arlaine Castro

Por meio do Florida's Guardian ad Litem Program, Andreia Di Bari, 43 anos, se tornou "guardiã" de duas crianças que estão sendo criadas pela avó materna em West Palm Beach.

A comunidade brasileira na Flórida é expressiva. São mais de 300 mil brasileiros espalhados pelo estado, estima o Consulado em Miami com base nos dados do Itamaraty, com maior concentração nos condados de Miami-Dade e Broward. E cada vez mais, os brasileiros estão buscando participar mais ativamente de ações e se envolvendo mais com a comunidade onde vivem, se destacando em trabalhos voluntários pela Flórida.

Nessa matéria especial de Natal, mostramos as ações de alguns deles.

"Compensa quando você vê que faz a diferença na vida dessas crianças"

É por meio do Florida’s Guardian ad Litem Program - um programa onde o voluntário passa a ser um "guardião" de uma criança em necessidade - que a goiana Andreia Di Bari, 43 anos, moradora de Boca Raton, passou a ser "guardiã" de duas crianças pequenas que foram retiradas do convívio dos pais e atualmente estão sendo criadas pela avó materna em West Palm Beach.

Assim que se mudou de Nova York para a Flórida há quase dois anos, Andreia, que é fisioterapeuta, conta que procurou algum tipo de trabalho voluntário. Encontrou na internet o programa, se inscreveu, fez entrevistas, treinamentos e tão logo passou pela checagem com os responsáveis, iniciou a ação.

"Fiz vários treinamentos e já faço parte do programa há 1 ano. Fazemos visitas às crianças pelo menos uma vez por mês e tentamos ajudar no que elas precisam. Participamos de reuniões com juízes e fazemos relatos on-line de como elas estão", conta.

Os "Defensores Voluntários da Criança" falam em nome de crianças que sofreram abuso, abandono e negligência e têm a função de ajudá-las a encontrarem o caminho para um lar seguro, amoroso e permanente, diz a descrição do programa no site. Funciona como uma parceria de defensores da comunidade e profissionais do programa.

"Muitas crianças vêm com casos de abuso (emocional, físico, sexual) e não se abrem muito facilmente. Crianças de todas idades. Os mais velhos a gente conversa, leva para o cinema, shopping, etc. Mas as pequenas, que não sabem falar ainda, temos que ficar de olho, visitar mesmo. Não só por telefone, mas ir na sua casa e ver as situações de moradia e se a criança está sendo bem tratada. Isso requer tempo", pondera.

Andreia conta que as crianças geralmente vão para morar com algum familiar ou lar temporário e o trabalho de acompanhamento dura mais ou menos um ano e meio. "O sistema (courthouse) sempre dá preferência para que os pais fiquem novamente com as crianças. "Então, eles têm algum tempo e ajuda para se recuperar, arranjar trabalho e casa para morar. Se os pais não colaborarem, o tribunal tira as crianças dos pais e colocam com familiares próximos como avós, tios, vizinhos, etc. Alguém que tem condições de cuidar das crianças até os pais poderem tê-las de volta", explica.

Quando não há familiar que possa ficar com a(s) criança(s), elas são entregues a famílias que se inscreveram para ser "Foster parents"(pais temporários), conta Andreia. "Então, o juiz espera (cada caso é diferente) mais ou menos 12-18 meses para ver se os pais fazem algo para mudar para trazer a criança de volta para casa. Mas se isso não acontecer, os pais perdem a guarda da criança pra sempre e a preferência de adoção vai para quem estiver cuidando da criança - no caso os ' foster parents' têm o direito de adotá-la. Ou avó ou familiar se no meio tempo descobrem que existam. Mas se não tiver ninguém, a criança é colocada em abrigo e posta definitivamente para adoção", relata. Geralmente, ressalta Andreia, na maior parte das vezes os bebês são adotados por familiares ou os pais temporários.

Para Andreia, fazer um trabalho voluntário requer muito esforço e responsabilidade. "Muita gente desiste de fazer esse tipo de trabalho, pois requer esforço. Sair da sua casa, ir visitar outra família que você nem sabe onde ela vive, se é em lugar perigoso, se a família te oferece algum risco. Mas graças a Deus nunca aconteceu de ninguém ter alguma complicação", conta.

Grávida, Andreia espera continuar sendo guardiã até mesmo depois que tiver sua filha. "Amo (esse trabalho)! Às vezes é difícil lidar com pais que não cooperam e também a distância (dirigir até WPB) , mas compensa quando você vê que faz a diferença na vida dessas crianças", finaliza.

Para conhecer mais sobre o programa e se voluntariar, clique aqui. 

"A generosidade da comunidade brasileira é enorme e sempre conseguimos realizar todos os projetos com sucesso"

Também ajudando crianças carentes em Broward e Miami-Dade, inclusive as que moram em abrigos para adoção, a carioca Jeannie Almeida conta sobre o trabalho que realiza em parceria com a organização Kakes4kids há pelo menos dois anos.

"Fazemos esse trabalho em várias ações. Coleto roupas, sapatos, livros e pequenos brinquedos em boas condições. Isso tudo é separado por adolescentes de várias escolas (ganham horas) e distribuído nos eventos mensais de aniversário de algumas Group Homes (conjunto de casas onde as crianças moram - de acordo com gênero e idade). No caso, ajudo a HIS HOUSE FOSTER que fica em Miami Gardens. O número de crianças varia diariamente, normalmente 120-150. São crianças que estão sob a guarda do estado: órfãos, pais presos e até mesmo crianças removidas de lares abusivos. Ultimamente as crianças estão sofrendo porque estão 'isoladas' onde moram. Deixamos tudo na porta, mas não podemos ter contato com elas", esclarece.

Junto com a família, Almeida participa também de outras ações voluntárias ao longo do ano, como a coleta de brinquedos para o Natal (Toy Drive) e para o Valentines´Day. Às pessoas em situação de rua, ela ajuda a servir comida por meio da organização 'lifenet4families'. "Eles fazem um trabalho maravilhoso servindo refeições para mais de 200 moradores de rua e dependem 100% de voluntários", conta.

No fim do ano, há o projeto de Natal que faz há anos com a amiga Andrea Blum, no qual arrecada e distribui presentes, balas e chocolates. Este ano, foram para 127 crianças. "Tudo é doado pela comunidade, não temos nenhum patrocinador. A generosidade da comunidade brasileira é enorme e sempre conseguimos realizar todos os projetos com sucesso", salienta.

"Aprendo muito ajudando essas mulheres. A nossa comunidade precisa se unir mais"


Outra que busca ajudar a comunidade é a carioca Viviane Jacoby, 39 anos. Life Coach e blogueira, ela aproveita a experiência de morar em Hollywood, no sul da Flórida para auxiliar brasileiros que se mudam, mas acabam tendo muitas dúvidas ou "perrengues" com a diferença cultural, de língua, de emprego, de escola, sistema de saúde e até econômico.

"Decidi fazer esse trabalho quando vi muitas mulheres se mudando para cá e precisando de ajuda para entender as diferenças culturais. Como eu também passei por isso, achei essencial elas terem esse apoio. O site se chama brasileirasnoseua.com", conta.

Por meio do site, ela recebe emails e mensagens de brasileiras com dúvidas como gravidez, sistema de saúde, vistos e faz o máximo para esclarecer. "Também de brasileiras no Brasil que pensam em vir para cá, mas gostariam de entender melhor como escolher aonde morar, etc. Sempre respondo com base nos blogs que escrevo e nas minhas experiências pessoas e deixo isso bem claro. Às vezes indico outros profissionais que podem ajudar mais", afirma.

Com a crise agravada pela pandemia, Jacoby conta que muitas a procuraram para saber como conseguir ajuda financeira para pagar as contas atrasadas. "As coloquei em contato com instituições e organizações que estavam oferecendo ajuda. Tive um caso, por exemplo, em que uma perdeu o seguro, o carro e estava com o aluguel atrasado por três meses. Fiz uma 'mini campanha' e pesquisei organizações de ajuda e ela conseguiu dar a volta por cima, recuperou o carro, pagou as contas atrasadas e agora se reinventou mudando de profissão", destaca.

Muitos brasileiros precisam mudar de profissão quando chegam na Flórida e isso geralmente tem um impacto muito grande na vida deles. "Estou com um caso agora de uma brasileira que está tentando se estabelecer aqui e lidar com as diferenças para conseguir mudar de carreira já que abandonou tudo no Brasil. Em casos assim, ofereço sessões grátis de coaching, pois sei que a pessoa não tem condições de pagar. Ela está avançando e conseguindo retorno, com mais foco e disciplina", relata Jacoby.

A carioca tem ainda uma vontade maior: começar uma organização para dar suporte social e financeiro para quem passa por situações de dificuldade. "Aprendo muito ajudando essas mulheres. A nossa comunidade precisa se unir mais, pois pode acontecer com qualquer uma de nós", finaliza.