"Nós vimos quão devastadora é a covid-19. Por isso, ter acesso à vacina é muito importante", diz médico

Cirurgião no Jackson Memorial Hospital, Dr. Antonio Marttos recebeu nesta semana a segunda dose da vacina

Por Arlaine Castro

Dr. Antonio Marttos, cirurgião do Hospital Jackson Memorial, recebendo a segunda dose da vacina contra a covid-19.

"É muito importante que a vacinação ocorra, é a única forma de parar essa pandemia", salienta o Dr. Antonio Marttos, cirurgião brasileiro de trauma e intensivista do Hospital Jackson Memorial em Miami.

Ele recebeu nesta semana a segunda dose da vacina contra a covid-19 feita pela Pfizer e numa entrevista especial ao Gazeta News falou sobre a sensação de estar imunizado, o trabalho intenso no hospital por causa da pandemia, o processo de vacinação na Flórida e no mundo e por que é importante que toda a população seja vacinada.


GN- Qual sua opinião sobre o processo de vacinação da população da Flórida e nos EUA em geral?

AM- É muito importante essa vacinação contra a covid-19. Nós, profissionais da saúde temos visto há 10 meses diversos pacientes nos hospitais não muito bem, muitos acometidos de forma grave, outras indo à óbito. Pessoas que a gente nem imaginaria indo à óbito, jovens, pessoas sem doenças preexistentes. Então, nós vimos quão perigoso é a covid, quão devastadora é essa doença. Por isso, ter acesso à vacina é muito importante. Primeiro para levantar a moral dos profissionais de saúde, para que possam trabalhar com menos medo porque todos temos medo de contaminar, temos família. E também porque mostra que há uma luz no fim do túnel. É o início de um processo. Que a gente possa batalhar e em algum momento vencer essa doença para ter uma vida, um mundo mais próximo do normal.

GN- As vacinas que estão sendo desenvolvidas contra a covid-19 são confiáveis?

As vacinas que estão disponíveis nos Estados Unidos, da Pfizer e da Moderna, usam um método novo, se mostram seguras e eficazes. A vacinação ainda é complicada pela própria características da vacina e pela pouca quantidade que ainda se tem. Temos visto que toda a quantidade que os hospitais recebem estão sendo utilizadas e se esgotam bem rápido. Nas próximas semanas, esse processo deve acelerar, é o que acreditamos. Além de idosos e profissionais da saúde que já estão sendo imunizados, serão vacinados bombeiros, policiais, pacientes oncológicos e outros mais prioritários. A expectativa é que em março e abril já tenha acesso para a população em geral.

GN - Qual a sensação de receber a segunda dose da imunização? Sentiu alguma reação após a primeira?

Estou muito feliz por ter tomado a vacina, por ela trazer esperança para todos. Há 10 meses faço testes e nunca me contaminei. Um dia antes de tomar a vacina não tinha anticorpo nenhum e 18 dias depois de tomar a primeira dose fiz o teste e já tinha anticorpos. Tomei a segunda dose da vacina na segunda-feira, 4, e agora a expectativa é que a reação do meu corpo à covid-19 seja completa e desenvolva mais anticorpos para que no momento que eu for contaminado pelo vírus, meu corpo tenha desenvolvido anticorpos suficientes para lutar contra ele. O cuidado que se tem que ter com a vacina é com relação a algum tipo de alergia, se pode ter alguma reação ou choque anafilático. Por isso o protocolo é ficar 15 minutos em observação. Não tive nenhuma reação em nenhuma das duas doses, um pouco de dor no braço onde tomei a vacina, mas coisa rápida.

As poucas pessoas que podem desenvolver algum problema com a vacina, com qualquer vacina tem a mesma chance e devem ser atendidas imediatamente. A ideia é que, com a vacina, com a primeira e segunda doses, a gente possa imunizar o maior número de pessoas possíveis até ao ponto que dificulte a circulação do vírus. Acredito que até o meio do ano, a maior parte da população esteja imunizada e a gente consiga a tão falada imunidade de rebanho.

GN - Como médico, o que acha do processo de vacinação em outros países, como no Brasil, por exemplo, até que toda a população seja imunizada?

Alguns países foram mais rápidos e planejaram melhor a imunização, como o Reino Unido e Israel, que também estão bem avançados já. Estamos acompanhando com apreensão a situação do Brasil e espero que em breve a gente tenha as vacinas disponíveis para os nossos familiares, nossos conterrâneos. É muito importante que a vacinação ocorra, é a única forma de parar com a pandemia.

Estamos bastante apreensivos porque houve muitos encontros de pessoas neste final do ano e realmente esperamos um aumento muito grande de casos nas próximas duas a três semanas. Em alguns locais aqui nos EUA, como na Califórnia, e também no Brasil, já está havendo uma nova superlotação dos hospitais. E aí que entra o problema, por exemplo, quando tem emergência, às vezes não tem como atender com o cuidado adequado porque os leitos estão ocupados. Espero que em breve toda a população tenha acesso à vacina e que em breve a gente possa voltar a ter uma vida normal, sem esquecer dos que se foram, sem esquecer da importância da prevenção e de outras atuações em conjunto, não só pelo coronavírus, mas também com relação a outras doenças.

Todos os anos temos a temporada de gripe e muita gente morre. No hospital, todos os anos a gente toma a vacina da gripe. É importante que a gente aprenda a importância de se vacinar, se proteger, evitar contato quando estiver doente, usar máscara. Todos nós vamos sair diferentes dessa pandemia, mas se Deus quiser, em breve teremos vencido e vão ficar as lições desses dois anos difíceis que tivemos.