Variante brasileira da covid-19 preocupa cientistas da Flórida

Por Arlaine Castro

Pouco conhecida, a variante contém duas das mutações que preocupam os pesquisadores.

Uma das cepas mais recentes do vírus da covid-19 representa uma ameaça especial para o sul da Flórida - a “P1” - cepa descoberta recentemente no Brasil. Agora, a forte ligação entre o Brasil e a Flórida, com voos em circulação e viajantes chegando diariamente, as autoridades estão preocupadas.

A variante foi descoberta pela primeira vez nos EUA na segunda-feira, 25, depois que autoridades de saúde de Minnesota a rastrearam até um viajante recente do Brasil.

Na Flórida, dois voos diretos chegam diariamente ao Aeroporto Internacional de Miami, atendendo uma grande comunidade brasileira. O consulado estima que cerca de 400.000 brasileiros vivam na Flórida, viajando de ida e volta entre Miami e Fort Lauderdale e grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro.

Dados os padrões de viagens para o sul da Flórida e o potencial de que a variante brasileira pode ser mais infecciosa e também escapar mais facilmente do sistema imunológico, o Dr. David Andrews, um patologista que ajuda a administrar o laboratório do Jackson Health System no hospital público de Miami-Dade, disse ao Miami Herald que se houvesse um aumento repentino de casos, aumentaria a possibilidade de que a cepa se espalhe localmente.

“Pode ser um golpe duplo”, disse Andrews.

Agora, os brasileiros que vivem no sul da Flórida e aqueles no Brasil com laços com os EUA temem que a nova variante complique ainda mais suas vidas. O presidente Joe Biden restabeleceu a proibição de viagens para não cidadãos do Brasil logo após assumir o cargo, e disse na segunda-feira que uma equipe de especialistas em saúde decidirá quando ela será suspensa.

Variante brasileira

A pouco conhecida variante brasileira contém duas das mutações que preocupam os pesquisadores: uma que se acredita aumentar a infecciosidade do vírus - com evidências crescentes vindas do Reino Unido para apoiar a conclusão - e que se acredita ajudar o vírus a escapar do sistema imunológico de um alvo potencial, o que teria implicações para as vacinas.

Da cepa do Reino Unido, existem agora 92 casos conhecidos dessa versão do vírus documentados na Flórida, que lidera o país nos casos de infecção de variantes do vírus. "As mutações são esperadas durante os surtos. Quanto mais um vírus circula, mais oportunidades ele tem de sofrer mutação e se adaptar a diferentes circunstâncias", disse Marco Salemi, professor e biólogo molecular da Universidade da Flórida.

Andrews está liderando a ação local para coletar amostras do vírus de pacientes no hospital em Miami com teste positivo e procurar sinais das mutações que estão circulando no Brasil, Reino Unido e África do Sul.

Autoridades de saúde estaduais e federais também dizem que estão monitorando versões com mutação do vírus, embora o Departamento de Saúde da Flórida tenha compartilhado poucas informações sobre seus esforços e não tenha respondido a vários pedidos de comentários do Miami Herald.

Felipe Naveca, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, sequenciou o genoma da nova cepa no início deste mês e agora acompanha a disseminação da nova variante em Manaus, uma cidade de 2 milhões de habitantes. A cepa P1 é hoje a variante mais prevalente na cidade, responsável por mais de 80% dos casos.

“Observamos que essa variante tem mais mutações do que outras novas cepas, e uma transmissibilidade maior pode ser um fator que levou ao aumento acentuado do número de casos aqui em Manaus”, disse.

Há a preocupação de que a cepa brasileira se espalhe para outras grandes áreas metropolitanas que só agora estão começando a ver os casos diminuindo. E o lançamento irregular da vacina no Brasil provavelmente não será suficiente para imunizar as pessoas e ficar à frente da nova variante, analisa o doutor ouvido pelo Herald.

"O Brasil deu início ao seu programa de vacinação na semana passada, mas as lutas políticas e a lenta resposta do presidente Jair Bolsonaro deixaram a nação de 200 milhões de pessoas com menos de seis milhões de doses disponíveis e nenhum plano real sobre como obter mais doses em breve", disse o jornal.