Dr. Rodrigo Vianna fala sobre recorde do Miami Transplant Institute

Em entrevista ao Gazeta News, o médico brasileiro fala sobre o prazer e a responsabilidade de realizar transplantes.

Por Arlaine Castro

O cirurgião brasileiro é atual Diretor de Serviços de Transplante de Órgãos Sólidos do Miami Transplant Institute.

O Centro de transplante de órgãos de Miami (Miami Transplant Institute) bateu recorde de transplantes nos Estados Unidos. Ao todo, foram 747 procedimentos realizados em 2019 e, apesar da pandemia de covid-19, em 2020 bateu novo recorde com 721 transplantes.


Os números de transplantes são mais do que qualquer outro centro especializado nos Estados Unidos e um recorde para a maioria dos transplantes realizados em um ano por qualquer centro desde a Rede de Aquisição e Transplante de Órgãos -um painel de profissionais médicos, receptores de transplantes e famílias de doadores que desenvolvem a política nacional de transplante de órgãos - que começou a monitorar os procedimentos.


Na Flórida, o centro de Miami ficou em primeiro lugar, seguido pelo Tampa General Hospital, que realizou 584 transplantes, e Mayo Clinic Florida, que realizou 446, de acordo com dados mantidos pela Organ Procurement and Transplantation Network, divulgados pelo Miami Herald.


O ano passado foi o nono ano consecutivo de quebra de recorde para transplantes de órgãos nos EUA, com cerca de 11.900 pessoas doando órgãos - um aumento de quase 11% em relação a 2018 - de acordo com a United Network for Organ Sharing.


O Gazeta News entrevistou o Dr. Rodrigo Vianna, cirurgião brasileiro e atual Diretor de Serviços de Transplante de Órgãos Sólidos do Miami Transplant Institute- operado em conjunto entre o Jackson Health System e o UHealth, o sistema de saúde da University of Miami, que juntos formam o maior centro de transplante de órgãos dos EUA. 


GN - Como é liderar o maior centro de transplantes dos EUA?


RV - É um prazer muito grande, amo fazer transplantes. É uma responsabilidade ainda maior porque são vários serviços que eu acabo liderando, desde coração, pulmão, rim, pâncreas, intestino, etc. E isso envolve o serviço adulto e pediátrico. Então, como é liderar? É uma responsabilidade muito grande, mas também muito gratificante porque, quando você transplanta uma pessoa, você dá uma nova chance de vida não só à ela, mas também à toda família. Quando uma pessoa está na fila do transplante, toda a família dela sofre. Por isso a recompensa é enorme. Fazer transplante é uma coisa que amo fazer, então, pra mim, fazer transplante é um trabalho, mas também é um prazer. Eu sou chefe do serviço (transplantes) de todos órgãos sólidos: coração, pulmão, rim, fígado e o intestino. Tanto adulto como pediátrico. O centro é o maior de transplantes dos EUA. Em 2019, fizemos 747 transplantes - o recorde no número de transplantes já feitos na história dos EUA. Em 2020, apesar da pandemia de covid-19, fomos recorde de novo, com 721 transplantes.


GN - Como se dá o trabalho de captação de órgãos? Há dados de quantos órgãos em média e quantas pessoas atendidas por mês, por exemplo?

A captação de órgãos é feita de duas maneiras. A primeira com nossa equipe que vai buscar o órgão em outros estados. A gente acaba recebendo órgão dos EUA inteiro e buscamos de avião, de helicóptero. A segunda é com cirurgiões de outras cidades que retiram os órgãos e mandam para a gente aqui em Miami. Fazemos mais de 60 transplantes por mês, são quase dois transplantes por dia.

GN - Quantas crianças brasileiras estão sendo atendidas no momento?

Em média, 20% dos nossos transplantes são pediátricos. Ano passado fizemos cerca de 70 transplantes em crianças e sempre temos várias crianças brasileiras. Temos hoje aquelas que já foram transplantadas e estão sendo acompanhadas e as que estão na fila para o transplante. Temos uma comunidade brasileira inteira de pré e pós-transplantes.

GN - Qual das operações em criança brasileira foi mais marcante ou teve algo inusitado durante o processo?

Difícil dizer qual transplante em criança me marcou mais. O primeiro que fiz foi em Indianápolis em 2005, antes de eu vir para Miami, e desde lá eu transplantei vários brasileiros. Acho que todas me marcaram da mesma maneira porque todas são igualmente importantes. E é sempre um prazer, a gente acaba se envolvendo sempre com todas elas. Não só elas (crianças) mas também as famílias e pelo fato delas serem brasileiras, a gente se envolve bastante.

GN - Como é esse centro para a Flórida e o país em geral?

O centro é importante para os EUA inteiro. É o maior centro de transplantes do país, com uma fila que anda muito rápido. A gente transplanta casos extremamente complexos - é o maior centro de transplante multivisceral do mundo. Tanto que já fiz transplantes de até oito órgãos na mesma pessoa. Recebemos pacientes não só dos EUA, mas do mundo inteiro.

GN - Como está a situação do menino Samuel, um dos últimos brasileiros que conseguiu vir para a Flórida para o transplante multivisceral?

O Samuel está estável agora. Ele recebeu o transplante multivisceral e para esse tipo de transplante ele está muito bem. Ele está somente com um problema no rim, com dificuldades com a função renal e a gente está trabalhando em cima disso. Não sei ainda se ele vai precisar de um transplante de rim ou não, mas no resto ele está evoluindo bem. Obviamente que é um caso bastante difícil, mas ele está estável, está em casa. Esperamos que o rim dele se recupere, senão provavelmente vamos fazer um transplante.