Aumento do nível do mar na costa da Flórida preocupa autoridades

Na região de Miami, cientistas preveem aumento de 15 centímetros no nível do mar nos próximos 15 anos.

Por Arlaine Castro

Um estudo da Florida Atlantic University estimou que apenas 6 centímetros a mais de aumento do nível do mar colocaria em risco o sul da Flórida.

A Flórida está na mira das mudanças climáticas. Mares elevando, população aglomerada ao longo da costa, leitos rochosos porosos e a ocorrência relativamente comum de tempestades tropicais colocam mais imóveis e pessoas em risco de tempestades agravadas pelo aumento do nível do mar na Flórida do que em qualquer outro estado.

E esse grande problema tem preocupado cada dia mais as autoridades. Na última década, a velocidade com que o nível do mar está subindo aumentou e agora sobe até 1 polegada a cada 3 anos. Na região de Miami, por exemplo, demorou cerca de 31 anos para o nível do mar subir 15 centímetros. Mas os cientistas agora preveem que nos próximos 15 anos, o nível do mar terá subido mais 15 centímetros.

Cerca de 2,4 milhões de pessoas e 1,3 milhão de residências, quase metade do risco em todo o país, ficam a menos de um metro da linha da maré alta local. O aumento do nível do mar é mais do que o dobro do risco de uma tempestade neste nível no sul da Flórida até 2030.

A elevação do mar ainda não chegou ao ponto de prejudicar muitas casas e moradores, mas já está modificando seguro contra inundações, seguro de propriedade, hipotecas, valores de propriedade, uso das praias e muito mais. "O aumento do nível do mar não é um problema próximo, é um problema agora", disse Jim Carrol, comentarista do Orlando Sentinel.

Nova Lei

A Flórida - um dos lugares mais vulneráveis do mundo ao aumento do nível do mar - gastará centenas de milhões de dólares nos próximos anos para se proteger contra inundações costeiras, de acordo com um projeto de lei assinado pelo governador republicano Ron DeSantis no dia 11.

A nova lei exigirá que o Departamento de Proteção Ambiental prepare um plano de resiliência e inundação e fornecerá até US $ 100 milhões anuais às comunidades locais que identifiquem áreas ao longo da costa e outros cursos d'água que correm o risco de aumento do nível do mar.

Os 2.100 quilômetros de costa da Flórida são a força vital de sua indústria de turismo. Algumas áreas do estado já estão enfrentando enchentes em dias claros durante as marés particularmente altas.

O Departamento de Proteção Ambiental deverá identificar e mapear as áreas de maior risco de enchentes costeiras e aumento do nível do mar. A lei também estabelece um centro de pesquisa com sede na Universidade do Sul da Flórida, localizado na área da Baía de Tampa, com foco no combate a enchentes e aos riscos do aumento do nível do mar.

Marco Zero

"O Sul da Flórida é considerado marco zero do aumento do nível do mar (Sea Level Rise -SLR) e o mundo nos observa", diz Camila Quaresma-Sharp, diretora da Sharp Dentistry e envolvida com vários grupos que cuidam de proteção ambiental no Sul da Flórida cujas atividades auxiliam na redução do impacto de SLR.

Ela explicou ao Gazeta News sobre o fenômeno ambiental.

"O aumento do nível do mar (Sea Level Rise - SLR) é uma das grandes consequências das atividades humanas que emitem gases do efeito estufa (Green House Gases - GHG), como, por exemplo, a queima de combustíveis fósseis para a produção de energia. Acredito que precisamos urgentemente taxar os poluidores, focar em tecnologias alternativas para produção de energias limpas, proteger cada vez mais nossas áreas naturais, investir na remoção de CO2 atmosférico, e entender que nossas escolhas diárias são parte da solução, como por exemplo: diminuir a quantidade do lixo produzido, focando na recusa, reciclagem e reutilização de materiais. Importantíssimo pararmos de usar plástico de uma vez por todas, e também começarmos a compostagem dos lixos orgânicos. Todos nós podemos fazer parte da solução e com isso tentar ajudar a não piorar ainda mais as condições do nosso planeta, não só para os humanos, mas para todos os seres vivos", esclarece Quaresma-Sharp.

"Por sinal, estamos na fase de planejamento de um workshop para o segundo semestre desse ano sobre 'living shores', uma importantíssima solução de mitigação ambiental relacionada a futuros impactos do SLR nas áreas costeiras da Baia", complementa. 

Impactos a curto e longo prazo

Luiz Rodrigues, fundador e diretor executivo do Biscayne Bay Marine Health Coalition, também falou ao Gazeta News sobre os impactos a curto e longo prazo para moradores e visitantes da Flórida. "Alto investimento na adaptação de propriedades contra os impactos da elevação do nível do mar; abandono de áreas de risco; perda no valor de propriedade, grande impacto nas áreas que atraem turistas à nossa região são alguns deles", explicita.

Curto Prazo: "muitos residentes terão que investir muito para adaptarem suas propriedades as novas condições impostas pelo gradativo do aumento do nível do mar, Baia de Biscayne e lençol freático – uma vez que todos são interligados. Muitos também serão forçados a abandonar suas propriedades quando em áreas de risco. Outros sofrerão grande perda no valor de suas propriedades. Mas um dos fatores mais preocupantes é a gradativa expulsão de comunidades mais carentes que vivem em áreas bem mais acima do nível do mar. Essas áreas, hoje, estão na mira dos grandes empreendedores imobiliários devido a sua alta elevação e o preço das propriedades e impostos nestas áreas têm aumentado tremendamente. Muitos residentes já foram forçados a se mudarem dessas áreas. Eles são os nossos refugiados climáticos".

Longo Prazo: "Espera-se um grande impacto econômico na região devido a uma eventual redução do turismo (a não ser que nos “reinventemos) e devido a desvalorização das propriedades em áreas de risco que, eventualmente, pagarão menores impostos à cidade, condado, etc. Devemos estar cientes, também, das seguintes consequências: as áreas agrícolas mais ao sul do Condado, sofrerão grande impacto devido às inundações frequentes; as cidades terão que investir alto nas áreas de infraestrutura tais como tratamento e tubulações de esgotos e água, fiações da rede elétrica, fibras óticas, etc., que, por sua grande maioria, são subterrâneas e estarão inundadas permanentemente".

E o que tem sido feito pelos governos locais, associações e ONGs? Rodrigues sugere aos leitores darem uma olhada no site resilient305.com - é uma parceria única entre o Miami-Dade County e as cidades de Miami e Miami Beach para lidar conjuntamente com futuros impactos relacionados ao SLR.